Mas só para esclarecer: o que eu discordo é que as nossas instituições não funcionam ou que então são complacentes. Elas precisam melhorar mesmo, e muito ainda, mas numa análise sobre os últimos 30 anos é inegável que avançamos em todas as questões institucionais brasileiras, e não me parece que existam motivos para não avançar mais ainda ou retroceder.
Sim, não dá pra negar que houve avanços institucionais. Inclusive um livro que traz uma boa descrição das mudanças nesse âmbito é
esse aqui. Ainda não li ele inteiro (falta uns 30%), mas em geral eu gostei do que li. Fica a dica, caso alguém se interesse.
Mas, como você mesmo disse, ainda há muito que se melhorar. Se continuará a haver progresso, entretanto, não tenho tanta certeza. Ao menos não no curto/médio prazo. E isso porque nosso problema não é apenas institucional. Há outros fatores graves que batem à nossa porta e podem impedir a continuidade do progresso institucional, como a demografia e a estrutura fiscal do estado. Naturalmente esses desafios trarão pressões por aprimoramentos institucionais que as abarquem mas, a depender de como a coisa se desenrolar, o processo pode ser minado.
Minha justificativa não é bem elaborada no sentido de ciência política como talvez você queria, mas o principal motivo de eu votar no Lula é porque minha vida e a de muitas pessoas a minha volta melhorou bastante no governo petista, verdade que a situação tinha virado uma imensa bosta durante a reinado do príncipe fhc, então qualquer coisa boa, por mínima que fosse, que viesse depois daquele horror poderia ser vista como um alívio.
Mas o fato é que vi muitas melhoras no país como um todo (no governo do Lula) como exemplo, professores da USP contando o quanto a vida das pessoas se tornou mais digna com o bolsa família, um deles escreveu um texto interessantíssimo sobre as mulheres pobres nordestinas, presas desde muito jovens a casamentos lixo mas que conseguiram se libertar dos maridos violentos e abusadores graças ao valor da BF, valor que nós aqui do sudeste/sul achamos uma mixaria mas que pra elas era a salvação, o que inclusive deixou muitos padres e pastores putos, porque na visão deles o BF proporcionou a "destruição da família tradicional" (na qual, aparentemente, a "tradição" é o homem pegar toda grana do salário pra encher a cara e ir pra casa espancar mulher e filhos
).
Pra pessoas da classe média pra cima, as que não conhecem a realidade de não ter acesso a médicos, educação e muitas vezes nem a alimentos (e quando digo "nenhum alimento" estou dizendo
nenhum mesmo e não o ficar sem poder comprar sorvete ou comer pizza no fim de semana) pra essas pessoas talvez o governo do pt tenha sido nulo (duvido muito que tenha sido ruim pra eles, se é que não foi ótimo, banqueiros por exemplo tiveram lucros altíssimos no "comunista" governo do pt) talvez não tenha mudado muita coisa, mas a classe baixa se beneficiou demais com mais acesso aos estudos (faculdades públicas, criação do enem, prouni, escolas técnicas) saúde pública um pouco melhor (de pacientes, só ouvi elogios aos médicos cubanos) maior poder de compra, índices de desemprego menores.
Eu pelo menos fiquei na saudade com itens importantes como reforma agrária e maior proteção das reservas ambientais e indígenas, mas quem sabe se agora não acontece o fator "pai do Bilbo" e "a terceira vez vale por todas"?
Só não voto no Lula em duas situações: se finalmente o escritório "moro & súcia" provarem que ele está envolvido em algum esquema de corrupção (mas tem que ser "prova raiz" tipo cheque de milhões de dólares no nome dele; malas recheadas em apto; gravação gênero "tem que manter isso aí" e/ou conta na suíça ou no k7 a 4 em nome do luiz inácio. Nada de "provinhas nutela" como pói point tosco, "convicções" e "ain, mais todo mundo sabe, tá no facebook").
Outra situação que me faria não votar nele seria a escolha do vice, que na minha visão só pode ser o Haddad ou o Haddad.
Já fiquei meio
quando o vi no palanque com o renan calhorda, se começar aquela merda toda de acordo com pmdb, tô fora e migro pro Ciro, né? fazer o que.
Outra opção seria votar nulo, mas acho um desaforo e uma perda de tempo sair pra votar naquele calor do cacete, chegar na urna e apertar nulo.
Obrigado pela resposta, Clara. Eu não queria nenhuma resposta necessariamente embasada em critérios de ciência política não. Apenas uma justificativa sincera e coerente, como a sua.
Eu tenho meus pontos de discordância com diversos dos aspectos que você mencionou (sobretudo no que tange ao progresso econômico do período) mas acho que não convém explorar esses pontos de maneira muito alongada aqui, já que o tema do tópico é outro. De maneira bastante sucinta eu diria três coisas:
i) correlação não é causalidade. Isto é, o Brasil teve melhoras econômicas ao longo da década de 2000 sim, mas em grande parte não foi por causa de nada que o PT fez. E há estudos com ampla evidência mostrando isso. Vide o fato, por exemplo, de que países em condições similares ao Brasil progrediram muito mais no mesmo período (que foi um período de bonança geral para a economia mundial, sobretudo para países em desenvolvimento);
ii) dizer que a situação do país virou uma bosta durante o governo FHC é esquecer absolutamente o cenário anterior, onde sequer havia espaço para outra discussão que não fosse tentar conter a inflação. Assim como no caso do primeiro item, contudo, a melhora substantiva (sim, substantiva) que tivemos na década de 90 não foi mérito exclusivo do governo FHC. Óbvio. O grande mérito dele foi quando, ainda antes de ser presidente, reuniu um pessoal altamente gabaritado para resolver de vez um problema de mais de uma década de inflação descontrolada.
iii) a história do PT com o Bolsa Família e o assistencialismo é muito menos romântica do que normalmente se pensa. Primeiro, que programas de assistência básica já vinham sendo criados desde antes do governo do PT. Havia já um movimento tendencial nesse sentido, algo que inclusive é legado constitucional, e não de um ou outro governo. Segundo que o mérito específico pelo BF tem a ver mais com o papel de pessoas que já vinham trabalhando para implementar a ideia desde antes do governo Lula,
como o Ricardo Paes de Barros (da mesma forma que o mérito pelo Plano Real não é do governo FHC). Se houve mérito do PT com o BF, foi em tê-lo aceito (e olha que teve alas que eram contra o programa).
(desculpem pela digressão, isso é o mais sucinto que consegui ser
)
Enfim, só pra voltar ao tema candidatos: meu problema em entender quem escolhe votar no Lula nem é pelos aspectos acima (não espero que todo mundo tenha conhecimento de economia para entender essas questões, e mesmo entre quem tem há discordância; tampouco espero que todo mundo conheça a história dos programas de assistência e do BF), mas simplesmente pela questão do envolvimento dele com tudo o que está aí. E não é simplesmente questão de haver perseguição de Moro e cia. Moro pode até ser parcial, vá lá. O ponto é que com nenhum outro político haveria tanta complacência e tolerância. Para algumas pessoas não importa quantas testemunhas impliquem Lula, não importa que ele já tenha sido condenado em primeira instância e muito provavelmente vá ser em segunda também, não importa quantas novas denúncias e provas surjam: sempre há um escape, uma saída pela tangente, uma aura de inocência impenetrável que recobre ele. Sempre continuar a exigir mais provas é tipo o criacionista que eternamente ficará pedindo pelo "elo perdido" para provar a evolução. Nunca haverá provas suficientes, porque as provas sempre podem ter sido fabricadas, enviesadas, ilícitas, parciais. Todas as testemunhas mentem sobre Lula, todas.
Acho que parte do ranço anti-petista que existe por aí (que fique claro, não é meu caso) é uma reação a essa santificação do partido e de seu maior ícone, porque é algo realmente irritante. Por outro lado, o anti-petismo também reforça a religião lulista. São opostos cujo dogmatismo se alimenta desse embate.