Para quem acredita que o único projeto viável atual é o Estado largar de mão a economia, né?
Nem por isso. É que esse negócio de nacional-desenvolvimentismo já está há algum tempo por aí, e sempre tem alguém disposto a revivê-lo com nova roupagem, prometendo que "dessa vez vai dar certo".
É uma política econômica com participação do Estado, baseada no desenvolvimento da infraestrutura e da produção industrial, como foi no período JK, mas obviamente adaptada ao cenário atual da economia nacional e global (daí cunhei "nacional-desenvolvimentismo atualizado").
Mas seria o cúmulo se nem adaptada ao contexto atual ela fosse, né?
No geral não tem muito como um projeto responsável fugir disso: recuperação da sanidade fiscal para elevação do capital doméstico e eleição das áreas sociais prioritárias. Mas eu achei a segunda tarefa interessante, porque define com clareza os papéis na estratégia de desenvolvimento. Note que o do Estado é limitado à definição do projeto, coordenação e fomento. O papel central é atribuído à iniciativa privada.
Vou fazer um mea culpa aqui: eu fui muito exigente quando não precisava/deveria ter sido. Você estava apenas colocando as coisas em linhas gerais, então é natural que os objetivos, nesse âmbito, serão genéricos.
Minha reação foi mais uma resposta ao problema recorrente de estabelecer metas com base naquilo que tem apelo popular, mas sem saber como cumpri-las, sem ter noção dos caminhos possíveis e suas exequibilidades. Mas é precoce fazer uma crítica antes de ver um plano mais detalhado.
Duvido que conhecendo o currículo de Ciro você realmente acredite que ele ignora noções básicas de economia.
Muita gente com currículo recheado por aí ignora coisas triviais, viu? E quando mistura política e discursos, então, é ainda mais comum deixar a economia de lado. "A primeira regra da política é ignorar a primeira regra da economia (escassez)", diria o Sowell.
Posso invocar o seu amor ao debate para pedir um favor? Ele tem batido muito nessa teoria de que a inflação não estouraria no Brasil se a taxa de juros sofresse uma redução mais radical. Se eu separar a palestra em que ele fundamenta isso com maior detalhes, você assistiria e formularia uma ou duas perguntas para refutá-lo? Ele palestrará aqui em Salvador no início de outubro, e eu as transmitirei.
Se não for muito longo eu vejo sim
Ciro Gomes participou do Plano Real, foi Ministro da Fazenda, prefeito e governador, todas experiências sem aventuras fiscais e com boa avaliação no geral, não creio que você teria tanto o que temer.
Olha, eu tomo o Ciro pelo que ele tem falado, não necessariamente pelo currículo dele. Eu sei que entre discurso e prática muitas vezes tem um abismo, ainda mais na política, mas de toda forma ele não conquista minha confiança com as coisas que fala.
(E esse negócio de que ele "participou do Plano Real" lembra a máxima de que o fracasso não tem dono, mas o sucesso... Ciro participou por menos de 4 meses do governo FHC quando o Plano Real já ia de vento em popa. O papel dele no Plano Real cabe numa nota de rodapé, como aliás qualquer livro de história econômica faz)
"Inédita" foi achismo meu. Aí eu queria que você me explicasse. Tenho ouvido na mídia que a auditoria da dívida pública tem sido vetada sistematicamente, por
Dilma, por
Temer. Estamos falando de "auditorias" diferentes?
Sim. A auditoria que alguns grupos querem por aí é a tal "auditoria cidadã". Ela ignora as auditorias feitas periodicamente pelo TCU, e argumenta existirem dívidas ilegais, que deveriam deixar de ser pagas. É um nome bonitinho para calote.