Horfael solta uma praga quando percebe que Tulyas não mais se encontrava no mundo real. De súbito, uma dúvida o assalta, e o Deus pensa se não seria melhor deixar as coisas como estão, e se retirar para a sua inexpugnável fortaleza, onde ele estaria seguro da ira de tantos outros Deuses que, ao que parecia, o odiavam quase tanto quanto Samael.
Contudo, o Deus Insano decide seguir em frente, a despeito das conseqüências às quais se submetia, aparentemente, cegamente. Então, ele segue as orientações de Kai'kcul, e, fechando os olhos, é transportado para o mundo dos sonhos. Com ele iam Gor, Kezef, e apenas algumas peças importantes para uns feitiços bem elaborados, guardados dentro de um saco: uma cabeça decepada, ossos de boi, uma língua bovina, pregos e uma lança velha e de ponta enferrujada.
Imediatamente após sua materialização, e sem dar atenção aos demais Finerim presentes, Horfael volta-se imediatamente para Tulyas, com fúria aparente em seus olhos, e fúria real que poderia ser sentida pelos demais. Parte dessa fúria era fundada de fato, devido a esse movimento inesperado por parte do Deus da Traição. Horfael sabia que não poderia confiar nele, mas o plano era bom demais para ser alterado, e, ao menos por enquanto, era a melhor, e única, opção do Deus Insano. Agora o Feiticeiro Louco não se mostrava como um velho cansado, curvado sobre um cajado, mas sim como o poderoso Feiticeiro que era, o mais poderoso feiticeiro de toda Garr, e, em seus plenos poderes, o mais poderoso feiticeiro de todo o multiverso. Sua barba estava trançada, seus olhos profundos derramavam ira, e sua voz ecoava pelas fundações do mundo, carregando consigo um temor que incutia aos que não estivessem preparados para enfrentá-lo
- Você! - disse Horfael, apontando para Tulyas. - Mentiroso traiçoeiro! Então quer dizer que você se acha no direito de roubar meus servos dentre os mortais com mentiras enganosas?! Ou simplesmente desejava arriscar-se à minha ira ao fazer isso sem nenhuma razão aparente? Pois digo-lhe, rato mentiroso, que Horfael não é acostumado a perdoar aqueles que o ferem em seu orgulho, em especial os que o fazem apenas por capricho! E as palavras de Horfael serviam não apenas para manter o plano original, mas visavam atingir Tulyas, e o Deus da trapaça sentia isso, sentia o que havia por trás das palavras do Louco: uma reprimenda pela aparição precoce diante dos Finerim que se reuniriam em conselho.