Se dirigindo a Kai'ckul, Samael fala:
"Agradeço por sua hospitalidade, e por sua boa disposição, meu irmão. Sempre que desejar, meu reino também estará aberto para ti.
Agora tenho de me retirar, para tratar da construção da prisão. Até em breve."
Fazendo então uma reverência, ele desaparece lentamente do Sonhar. Entretanto, ao invés de em seu próprio reino, ele retorna à Garr.
Não havia nenhum motivo em especial para isso. Ele apenas queria caminhar pela face do planeta, enquanto respirava o ar limpo e puro. Não havia povoado humano algum num raio de centenas de quilometros, apenas a Natureza, em seu estado mais puro.
Subindo uma pequena colina, ele se deitou na relva verde, e seus olhos percorreram as distantes estrelas. Haveriam outros planetas como Garr, em algum confim desse universo? Outros Finerim estariam zelando por seus habitantes? Teriam eles começado também com o pé esquerdo, como ele e seus irmãos? Sua mente divagava e se entristecia, ante o que já havia acontecido em tão pouco tempo, e as possibilidades do amanhã.
A primeira coisa que fariam em conjunto seria justamente aprisionar uma outra deidade, por se tratar de um perigo em comum para todos. E quanto ao resto? Permaneceriam eles assim, desunidos, cada um em seu canto, como crianças mesquinhas que preferem brincar sozinhas a compartilhar seu brinquedo? Por quanto tempo poderiam fazer o trabalho que lhes fora designado, se continuassem agindo dessa maneira?
Eles nunca se reuniram para debater e planejar os rumos de Garr, apenas saíram exercendo seus poderes como achavam melhor, sem consultar nenhum de seus irmãos, acerca das consequencias que suas vontades poderiam trazer para as criações alheias. Foram mandados para trazer a ordem, mas nada além do caos rege suas ações.
Por quanto tempo Garr e seus habitantes sobreviveriam dessa maneira? Todos defendem suas convicções pessoais ao extremo, como se nelas estivesse a verdade acerca do caminho que a Criação deveria tomar. Eles parecem se esquecer de que, se fosse assim, seu Pai, em sua sabedoria suprema, não teria criado todos eles. Samael não se excluia disso, ele sabia muito bem que agira de maneira semelhante.
Com sorte, o Conselho acabaria por mudar isso, ou pelo menos assim ele esperava.
Mas esses pensamentos deveriam ser deixados para depois, haviam coisas mais urgentes no momento, como a prisão de Horfael.
Como a fariam? Onde a colocariam? Como poderiam cuidar para que ele nunca escapasse?
Seus olhos acompanhavam as duas luas, cujos caminhos no céu norturno em breve se cruzariam. Uma idéia do que fazer começou então a se formar em sua mente...