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Luciano Huck, Sérgio Moro e possíveis candidatos a presidência em 2022

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Também acho. Ele está dentro do que eu chamei aqui de social-liberalismo, então as coisas em termos de esquerda e direita são mais fluídas, mas olhando o programa dele, percebe-se um viés "cultural" patentemente de esquerda, em querer contar a história da minoria, do pobre, do educador. Em um dia tem uma vendedora negra, em outra uma mulher que sofreu abuso, em outro um deficiente, em outro uma professora de escola pública. Não lembro, por exemplo, de ver um policial no programa dele, ou um pastor/padre, ou um micro-empresário pouco ligado a causas socialmente sensíveis, etc. Provavelmente já deve ter ido, mas é muito raro de topar casualmente assistindo. E não estou criticando, cada programa tem seus vieses, é natural, e acho o programa dele bem bacana e o melhor da Globo, cada sábado tem uma história interessante e diferente apesar do programa repetir a mesma receita.

O que ele fala nessa entrevista também me leva a crer que ele é de esquerda - ele fala que o grande problema do país é a desigualdade, e não a pobreza, o que é um pensamento mais típico da esquerda, e ele fala que o grande solucionador do problema é o Estado com um "projeto de país", enquanto a direita tende a ver como protagonista os entes do segundo e terceiro setor. Mas, de novo, trata-se de um viés cultural ou vocabular, no final das contas ele abraça o social-liberalismo, e não é tão diferente, a meu ver, do João Amoêdo, que também confia ao Estado o papel de conduzir a saúde e a educação. Por isso acho que justamente o que chamei de social-liberalismo é o legítimo centro da política brasileira, pois ali é o campo em que se conciliam políticos de esquerda e direita, políticos liberais, social-democratas e conservadores.
 
O problema desse social-liberalismo brasileiro é a forma como foi feito, algo disforme, sem definições e casuístico. E parece fazer parte da mentalidade dos empresários em geral de pequenos comércios a grandes banco. Mesmo quando o cenário econômico parece favorável, sempre buscam uma forma de levar vantagem sobre os consumidores como a redução do conteúdo dos produtos consumíveis, repase de custos sempre para cima e nunca para baixo mesmo quando o juros, o barril do petróleo ou a bolsa passando dos cem mil pontos. Eles falam para a sociedade cobrar dos políticos, mas estão lá, batendo ponto nas câmaras estaduais e Congresso fazendo lobby para aprovar alguma isenção ou subsídio que não vai beneficiar a população na forma de servicos e peodutos de maior qualidade.
E tem sido assim desde a época do Sarney e seus Planos desatrosos. Até hoje, a maioria dos comerciantes e empresários tentam extrair o máximo de lucro com um mínimo de retorno social.
Em um sistema que oferecesse reais condições de competitividade, aqueles que oferecem os melhores serviços e produtos vingariam e as ineptas quebrariam. Porém ocorre o contrário, as mais ineficientes são as que mais lucram e conseguem subsídios para continuar às custas do contribuinte.
 
Olha o Tarso Genro aí, gente, dando sinal de vida...


Tenho lido ocasionalmente alguns textos de opinião do Tarso, nos últimos anos. E tenho gostado. Acho que ele está com a cabeça no lugar certo - e não é de hoje.
A treta é: ele se tornou uma figura bastante isolada dentro da estrutura do próprio PT. Encarava um certo desprestígio, um certo desgaste interno.
 
Vai ser lindo ver Huck somehow crescer como nome seja integrante de chapa ou de influencia no cenário de 2022. O cara que faz a vida com um programa que humilha minorias mas com uma maquiagem que a grande massa acha que tá tudo bem!

É mais ou menos assim: dança aí pobre, faz pirueta, joga bolinha pra cima, etc que eu te reformo o carro, a casa ou até te ajudo com dinheiro.

pra mim é a síntese de tudo aquilo que tenho ojeriza.

:puke:
 

Procuram-se lideranças​

01.01.21​
SERGIO MORO​

Fonte: Crusoé.​
A virada de ano é tempo de reflexões sobre o passado e previsões sobre o futuro.​
O ano de 2020 foi marcado pela pandemia de Covid-19, que, infelizmente, ainda não foi resolvida. Embora tenha afetado o mundo de forma trágica, no Brasil o problema foi agravado pela postura errática do governo federal. Dois ministros da Saúde foram substituídos. O atual, o general Eduardo Pazuello, embora competente na área militar – o que pode ser ilustrado por sua atuação na Operação Acolhida – não é especialista na área da saúde e tem tido a sua atuação limitada por sucessivas intervenções pouco racionais do Palácio do Planalto.​
A postura negacionista do problema e de sua gravidade, além da transferência da responsabilidade aos demais poderes ou aos governos estaduais e municipais, têm sido a marca deixada pela Presidência no enfrentamento da pandemia. Uma liderança nacional, que coordenasse as ações dos diversos agentes públicos e privados, seria fundamental no enfrentamento da maior crise sanitária desde a gripe espanhola. Mas ora convivemos com o vácuo de liderança, ora com a proposição de soluções erradas.​
Como ponto meritório, a instituição pelo governo federal de um programa temporário de auxílio emergencial evitou que a recessão fosse maior do que o previsto e minorou as consequências econômicas e sociais das políticas necessárias de distanciamento social. Há, contudo, dúvidas sobre as consequências futuras do auxílio, uma vez que implicou em acentuado acréscimo da já elevada dívida pública brasileira, o que poderá obrigar o governo a adotar políticas de ajuste fiscal ainda mais duras nos próximos anos.​
A crise abriu espaço para gestores de vários estados e municípios se destacarem em iniciativas para o controle da propagação do vírus e para o atendimento dos infectados. Sobressaíram-se, especialmente nos últimos meses, as ações do governador de São Paulo, João Doria. Embora acusado de fazer uso político da crise, ele adotou medidas para importar e produzir uma vacina possivelmente eficaz para a Covid-19 e motivou o governo federal a abandonar o imobilismo em relação ao tema, que é de abrangência nacional.​
No campo que me é caro, de prevenção e combate à corrupção, segue-se a tendência desde 2018 de esvaziamento da Lava Jato e de enfraquecimento dos mecanismos institucionais que permitiram desde 2014 a redução da impunidade da grande corrupção. Enquanto estive no governo busquei enfrentar essa tendência, mas o sucesso tornou-se impossível sem o apoio e até mesmo contra a vontade do Planalto. Após minha saída, pautas importantes, como o restabelecimento da prisão após a condenação em segunda instância, foram completamente abandonadas.​
Poucas lideranças estão no momento preocupadas com essa pauta, como o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Luiz Fux, e alguns outros ministros da Corte. O ciclo virtuoso iniciado com o julgamento do mensalão, passando pela Lava Jato e pela aprovação de alguns dispositivos legislativos, como a lei das estatais e da nova lei das agências reguladoras, parece ter se encerrado. A responsabilidade é de muitos, mas não é possível ignorar a parcela que cabe ao Planalto.​
No momento em que se discute a presidência para os próximos anos das casas do Congresso, deveríamos cobrar dos candidatos o compromisso com a votação dessas pautas, ainda que, em alguns casos, isso pareça ser bem improvável considerando o histórico de postulantes. E deveríamos também defendê-las, assim como faz o autodenominado grupo Muda Senado, que, destacando-se positivamente, permanece firme na agenda ética e anticorrupção.​
A energia cívica despertada pelo combate à corrupção nos anos anteriores a 2019 foi desperdiçada exatamente quando esperávamos alcançar um novo patamar de integridade em relação aos costumes políticos e governamentais. Há alguma esperança de que essa força permaneça latente e, no momento certo, possa retomar um papel fundamental. Também merece destaque o setor privado, que, independentemente da postura do mundo político, continua investindo em políticas de integridade, seja por ter sido despertado pela Lava Jato ou por perceber que se trata de mudança também exigida pelos novos padrões internacionais de realização de negócios.​
Democracias consolidadas dependem de instituições fortes e cidadania ativa, principalmente. Mas o papel da liderança certa é igualmente fundamental, o que é ilustrado pelas frustrações dos últimos anos.​
Então, não há muito o que comemorar em relação a 2020. Para 2021, a grande esperança está na solução definitiva para a Covid-19, que reside na vacinação em massa de toda a população. O novo ano também pode fazer com que as lideranças e potenciais candidatos despertem para a importância de se retomar a agenda anticorrupção, se não por vontade própria, então por receio das urnas. Temos que ser sempre otimistas e esperar por tempos melhores, com menos propaganda enganosa e mais verdade.​

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Na pesquisa de XP investimentos, o único que fica na frente de Bolsonaro durante o segundo turno é o Sérgio Moro (eles não pesquisaram Doria vs. Bolsonaro).[1] Temos 1 ano e meio para os players se estabelecerem de vez, o que é pouco, 2021 pelo visto vai ser quase tão improdutivo quanto 2020, o cenário não deve mudar tanto. Nesse sentido, ao que tudo indica, quem vai ter mais moral para se estabelecer como cabeça de chapa é Doria - Moro não tem perfil de líder, Huck poderia até ter, mas não tem experiência no Executivo. Seria bacana chegar todo mundo de centro-direita junto e unido já no primeiro turno, unir o capital político de todos. Divagando:

Presidente: Doria
Vice: Moro
Justiça: Lava-jatista
Saúde: Mandetta
Economia: Indicado do Partido Novo
Meio ambiente: Eduardo Jorge (ou outro do PV)
Educação: Cristovam Buarque
Direitos humanos: Huck, que é comprometido ideologicamente com pautas de minorias.

A partir de agora vou usar o termo "centro-direita", porque percebi que usar "centro" é dar uma moral pra esquerda que ela não merece, :hxhx: como que se ela contribuísse em igual medida para a tendência política representada por esses atores, ou como se a esquerda fosse de grande utilidade para superar os males do governo Bolsonaro. Figuras como E. Jorge e C. Buarque são exceções no mar de obscurantismo que é a esquerda brasileira, e muitas vezes nem são reconhecidos por ela. No âmbito global ou teórico, Buarque, Jorge e talvez até os tucanos seriam de esquerda, mas no âmbito nacional e prático, a esquerda é dominada pelo atraso, por doutrinas antiliberais, anticientíficas e populistas como marxismo, identitarismo, desenvolvimentismo. A direita tinha é que meramente, sem perder sua identidade cultural e política enquanto direita, absorver essa pequena fatia da esquerda mais civilizada, como já absorveu demandas social-democratas. Até porque esquerda e direita são conceitos bem maleáveis e variáveis no tempo e no espaço.
 
Última edição:
A partir de agora vou usar o termo "centro-direita", porque percebi que usar "centro" é dar uma moral pra esquerda que ela não merece, :hxhx:

É justamente assim que já me posiciono a tempos e todos aqueles testes e quiz políticos que o pessoal posta aqui... na hora que sai o resultado final o pontinho sempre fica praticamente no centro levemente a direita.
 
Com eleição de Lira, direita enterra sua própria ilusão da frente ampla

* Igor Tadeu Camilo Rocha

Em 3 de janeiro de 2021, a Folha publicou o editorial intitulado "Filme Antigo", que entre outras coisas argumentava haver uma oportunidade histórica para que o Partido dos Trabalhadores (PT) abandonasse um histórico sectarismo ao apoiar uma frente ampla contra um inimigo comum – no caso, Jair Bolsonaro e seu governo – na eleição da presidência da Câmara dos Deputados.

Aderindo ao bloco articulado por Rodrigo Maia (DEM-RJ) em torno do candidato Baleia Rossi (MDB-SP), contra um adversário apoiado por Bolsonaro, Arthur Lira (Progressistas, antigo PP – AL), o PT indicaria disposição a uma articulação em prol da democracia que não girasse em torno do partido, seu protagonismo ou autoridade. Não se repetiria, assim, o "filme antigo", por exemplo, repetido quanto ao partido não ter renunciado a uma candidatura em 2018 em detrimento, por exemplo, de Ciro Gomes (PDT).

Mais que isso – aí vai uma interpretação minha do editorial – seria um passo fundamental rumo a um consenso ao centro, que ao mesmo tempo neutralizaria pautas à esquerda e se colocaria frente ao fascismo bolsonarista, protegendo a democracia e as instituições dentro de uma grande articulação nacional.

Pouco menos de um mês se passou do editorial, e veio a contundente derrota dessa frente de Maia para Arthur Lira, candidato do governo. Derrota esperada, diante de vários outros banhos de água fria que vieram na medida em que a frente ampla multipartidária minguava. E é sobre esse processo que discutirei nesse artigo.

Afinal, se faz necessário compreender os entraves para uma frente ampla, que parece ser tão desejada por muitos, mas também tudo indica que esbarra na realidade do jogo político brasileiro. Mais exatamente em pontos tão incômodos como poucas vezes criticados das ideologias e afinidades políticas compartilhadas pelas direitas moderadas brasileiras. Precisamos, ainda, nos perguntar de que frente ampla falamos, quem a deseja e, claro, fundamental também pensar ao que ela deveria servir e como ela funcionaria.

Tentando responder, remeto a um artigo importante no qual a frente ampla é discutida, também publicado na Folha e com grande repercussão. Assinado por Sandro Cabral, Carlos Melo e Milton Seligman e intitulado "O imperativo da união pela democracia", o texto traz alguns dos questionamentos com os quais gostaria dialogar aqui.

O texto argumenta que partidos e democratas da esquerda e da direita deveriam se unir, mesmo que ao preço de uma trégua entre algumas divergências político-ideológicas – boa parte delas justificáveis, salientam – a fim de derrotar o bolsonarismo. Não fazer isso, explicam, seria pôr a perder tudo o que foi conquistado no Brasil nos últimos 40 anos, em termos de democracia, direitos e instituições.

Parece bem claro qual seria o espírito dessa frente ampla, defendida no artigo como um imperativo ao Brasil atual. Trata-se de uma frente democrática desejada por quem, à direita, centro ou esquerda, defende a democracia e as instituições democráticas construídas no Brasil desde sua redemocratização; sua função seria barrar a escalada autoritária, fundamentalista e destrutiva do bolsonarismo contra essa democracia, de forma que ela sobreviva, até para, posteriormente, o embate político segundo suas regras continuar; e essa frente funcionaria a partir do entendimento de que tais pressupostos são mais urgentes que os interesses políticos e partidários. Construído dessa forma, tudo faz bastante sentido, de maneira a ser bem difícil discordar que tomar a disputa até 2022, pelo menos, por essa chave de leitura e atuação, seja o ideal. E é exatamente nisso que reside um enorme problema.

Mas antes cabe um parêntese para entendermos o tamanho da derrota desse ensaio de frente ampla (acho que podemos entender a articulação de Maia dessa maneira): Arthur Lira venceu para presidente da Câmara com 302 votos, quase a maioria qualificada do Congresso, que são 308. Daí seguem-se outras derrotas, com uma das mais fervorosas olavistas e bolsonaristas do Congresso, Bia Kicis (PSL-DF), sendo indicada para presidir a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), considerada por muitos a mais importante das comissões da Casa.

Cabe ainda falar dos 145 votos para o candidato de Maia à presidência da Casa, o que significa uma derrota considerável se levarmos em conta as expectativas criadas quanto a essa articulação. Inicialmente, tratava-se de um grupo de 11 partidos — PT, PSL, MDB, PSB, PSDB, DEM, PDT, Cidadania, PV, PCdoB e Rede. Chegou-se a haver expectativa de se conseguir com ele mais de 280 votos, o que não se concretizou dadas as "traições", desembarques e diversos outros fatores.

Desnecessário dizer que havia, no mínimo, um otimismo excessivo em acreditar na permanência do PSL, ex-partido de Bolsonaro, no bloco de Baleia Rossi. Mas chamam muito mais atenção outras "traições" ao bloco: PSDB e DEM.

No caso do PSDB, o candidato derrotado no pleito presidencial de 2014 e atual deputado pela legenda, Aécio Neves (MG), articulou um desembarque da legenda do bloco de Rossi, o que foi apenas parcialmente revertido pelo governador de São Paulo, João Doria. Já o DEM, a partir de decisão do presidente da legenda, ACM Neto (BA), liberou o voto dos seus deputados, o que tem gerado uma expectativa grande de cisão interna da legenda, até com possível saída de Rodrigo Maia.

Diante disso, é altamente provável que somente uma parte dos 31 deputados do PSDB tenha votado em Rossi, valendo o mesmo quanto aos 30 do DEM. Assim, é plausível conjecturar que mais da metade dos votos a Rossi tenha vindo dos deputados de PT, PDT e PSB (respectivamente com 54, 26 e 30 representantes). Isso significa que a mesma centro-esquerda que despertou a desconfiança de sectarismo como um entrave à frente ampla parece ter sido um bloco mais fiel (ou menos resistente) à tal frente democrática articulada pela centro-direita que os próprios partidos da centro-direita.

Daí, vejo um indício consistente de que a principal barreira para a desejada frente ampla democrática não esteja nem na esquerda e centro-esquerda institucionais e partidárias, muito menos numa esquerda radical, sem representação parlamentar. O problema está na direita moderada, que se apresenta como centro, oferecendo-se como uma alternativa democrática contra o bolsonarismo. Sua atual força política, aparentemente, é superdimensionada por esse campo ideológico e partidário. Além disso, a forma como esse campo apresenta o imperativo de uma frente nos seus termos como uma obviedade, "bom senso", cobre alguns de seus pressupostos ideológicos, fundamentais para entender os limites de amplitude dessa frente.

Sobre a força real dessa centro-direita, é necessário observar sua retração no curso de uma radicalização do campo nos últimos anos. Uma análise publicada no Nexo ao final do primeiro turno das eleições de 2018, assinada por Fernando Guarnieri e Felipe Munhoz de Albuquerque, já apontava para o encolhimento das direitas tradicionais, em especial MDB e PSDB. Por uma série de motivos que não cabem ser discutidos aqui, o voto da direita saiu desses partidos: as direitas mais moderadas e inseridas no establishment político minguaram frente a figuras mais radicais no mesmo espectro, como Bolsonaro, partidos como PSL e Novo, grupos como MBL e outros, dentro de um processo de hiperpolitização da disputa política no Brasil, entre 2013 e a atualidade.

Por sua vez, a direita que saiu fortalecida nas eleições de 2020 e confirmou sua hegemonia no quadro político atual depois da eleição para a Câmara é a do centrão, grupo caracterizado por orbitar o Poder Executivo, trocando emendas, cargos e posições por apoios, votos e maioria no Congresso. Tradicionalmente, representa interesses do empresariado, além de oligarquias tradicionais e/ou regionais. Não possui agenda muito bem delimitada, tendo como marca distintiva seu adesismo.

E esse grupo não mostra e jamais indicou qualquer razão para aderir a uma frente anti-Bolsonaro ou pela defesa da democracia. Afinal, a democracia, nos moldes da que temos no Brasil, é bem funcional ao centrão, tanto que esse grupo é a marca institucional mais acentuada na política da Nova República e remete a estruturas bem longevas na nossa história política. Muito se fala da vitória de Bolsonaro com a eleição de Lira, mas é necessário entender que o mesmo centrão assumiu de vez o controle do governo, de forma que uma queda significativa de popularidade do presidente ou o não cumprimento dos acordos do Executivo com esse grupo nos próximos meses pode tornar Bolsonaro descartável. Assim, o crescimento do centrão e o encolhimento de uma centro-direita tradicional servem como fatores de fundo estrutural que respaldam a debandada de PSDB e DEM do grupo de Baleia Rossi.

Além disso, entendo haver entre parte dos defensores de (ou sonhadores com) tal frente ampla um wishful thinking de que esses dois partidos, mais alguns quadros do MDB, representam a via moderada entre as disputas ideológicas, tendo a racionalidade e o capital ético necessários para domar o bolsonarismo. Porém, essa forma de ver a política, importante como autorrepresentação dessa centro-direita, não se sustenta. Além disso, esconde afinidades político-ideológicas, diluídas em pós-política (apresentadas como obviedades, bom senso), aproximam tal centro-direita mais do bolsonarismo que elas queiram admitir e menos de alternativas democráticas de outros campos ideológicos dispostos a renunciar a algo para alguma frente ampla.

Uma dessas afinidades político-ideológicas é quanto à agenda econômica. Uma grande parte da centro-direita brasileira está disposta a repudiar o bolsonarismo, mas defendendo a ferro e fogo o "guedismo", como se isso fosse possível. Desse ponto de vista, o risco à democracia representado por Bolsonaro é um problema na medida em que impede ou torna mais lenta um conjunto de reformas neoliberais. Mais que isso, o autoritarismo ou o negacionismo do presidente com a pandemia ficam menos inaceitáveis se acontecerem as privatizações, uma reforma administrativa que mantenha privilégios de algumas categorias – judiciário e militares, por exemplo – e precarize as demais, uma reforma tributária que mantenha a estrutura regressiva e, claro, haja a manutenção da Emenda Constitucional 95 e o "teto de gastos" por 20 anos.

Outra afinidade desse tipo é em torno de um anti-esquerdismo, materializado no antipetismo e na própria repulsa à figura de Lula, equiparado por falsa simetria a Bolsonaro. O curioso, novamente, é que esse tipo de narrativa existe junto com a constante expectativa de que PT e toda a esquerda inviabilizem a frente ampla por sectarismo, sendo que a resistência a fazer parte de uma frente com partidos desse campo vem consistentemente dessa centro-direita. Como exemplo recente, cabe lembrar que uma das justificativas para a saída do PSDB do bloco formado por Maia tenha sido evitar o PT na mesa diretora da Câmara.

Uma última afinidade política que impede uma oposição mais aguda ao bolsonarismo da centro-direita se dá em torno do lavajatismo. Mesmo diante das revelações da Vaza Jato, cristalizadas na recente publicização de conversas entre o ex-juiz Sergio Moro e procuradores da "República de Curitiba" no âmbito da Operação Spoofing, a autocrítica dessa centro-direita por ungir a Lava Jato como salvação nacional contra a corrupção está longe de acontecer.

Partidos como PSDB e DEM, bem como variadas figuras políticas desse campo e editoriais de grandes grupos de imprensa, ainda hesitam quanto a isso. Moro aparece frequentemente em pesquisas extemporâneas de intenção de voto para a presidência em 2022, e as conversas mencionadas acima, que desvelam ilegalidades absurdas, repercutiram muito menos que deveriam no debate político.

Esse conjunto de fatores é suficiente para fazer da defesa das instituições ou da democracia uma mera abstração. Diante de imperativos conjunturais e um conjunto de pressupostos ideológicos, a centro-direita brasileira permanece entre o infame "Uma escolha muito difícil" de 2018 e um adesismo de ocasião ao governo Bolsonaro, sendo que neste último aspecto o centrão cobre tal papel com muito mais competência.

Assim, se houve um ensaio geral em 1º de fevereiro de 2021 sobre uma frente ampla em 2022, sabemos que ele foi péssimo. Se havia o objetivo de uma frente que, ao mesmo tempo, esvaziasse agendas de oposição à esquerda e fizesse frente ao bolsonarismo por um viés de centro-direita moderado, isso, na prática, mostrou-se pouco viável. Para 2022, que fique a reflexão sobre tudo o que nos levou a esse quadro. E, claro, que alguns erros sejam deixados de lado até lá.
 
A alternativa PSB tem como pano de fundo uma possível fusão entre a sigla socialista e o PCdoB, o que resultaria na criação de uma nova legenda de centro-esquerda.
Gente? :o

Mas eu sei que o Flávio Dino e o Huck têm um bom relacionamento; acho que o único empecilho, aí, seria o fato de que PCdoB e o PT também têm um diálogo bem estreito, né? Observemos as cenas dos próximos capítulos.

Marina também dialoga com o Huck, mas não me parece que a Rede embarcaria na fusão. É claro que isso pode mudar.
 
A Rede estava com a corda no pescoço né? Não tinha obtido o número de votos necessário pra continuar existindo e precisaria se fundir com outro partido pra continuar... foi o que ouvi na época da eleição. :think:
 
Com razão. O Cidadania tá lá bem de boas da dele. É pequeno ainda mas parece bem promissor. Já o PV não sai da mesma há décadas... Não conseguiu convencer ninguém de que tivesse outras pautas além da ecológica e da maconha. :dente:
 
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