Último Round - Julio Cortázar.
Gosto de ser surpreendida. E quando falo sobre livros, gosto que tanto o enredo quanto a técnica literária utilizada para seu desenvolvimento me surpreendam. Meus autores favoritos conseguem me surpreender com coisas inusitadas. Eles arrancam lágrimas e sorrisos da minha alma. E eu saio de algumas leituras mais devastada do que entrei. Porque é isso o que importa, ser surpreendida. No ano passado, comprei os dois tomos (sim, na primeira edição, era livro-térreo e livro-primeiro andar. Se, um dia, eu conseguir achar a primeira edição em um sebo, serei uma pessoa mais feliz) de "Último round", do Cortázar. Eu sou fã confessa do Cortázar. Acho que O jogo da amarelinha seja um dos livros mais fantásticos do mundo, etc. Mas, por mais que eu seja impulsiva, e compulsiva, até, quando se trata de livros, não comecei a devorar "Último round" assim que comprei. Deixei os dois tomos guardados, porque eu estava esperando o momento em que eu precisaria de Cortázar. Porque eu acredito que seja assim. Não se lê Cortázar porque os outros dizem que você precisa ler. Você lê Cortázar porque precisa de Cortázar.
E ontem foi o dia. Eu tinha consulta médica, e sempre que vou ao posto médico, levo um livro para ler, enquanto espero para ser atendida. Já reli A hora da estrela umas três vezes no posto. Mas, aí, eu não quis levar nenhum livro que eu já comecei a ler. Eu queria uma coisa nova, uma coisa que eu tivesse a certeza de que embora o meu corpo estivesse no hospital, a minha mente não estaria. Eu me perco e me acho nos estilo de colagem adotado pelo Cortázar. Ele tem uma técnica fotográfica de escrita, e tudo fica muito visual, muito presente... Durante o tempo em que esperava para ser atendida, li 58 páginas. E, se não me controlar, vou engolir o primeiro tomo em algumas horas, mas eu estou brincando de gato e rato, estou escondendo o livro de mim, porque está gostoso saborear essa sensação do "por ler"... eu desejo ler, mas acho que desejo mais o desejo de ler. Estou me sentindo como a protagonista de Felicidade Clandestina... e eu agradeço ao Cortázar por, mais uma vez, me surpreender.