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Cancelamentos/Remoção de homenagens

É preciso cancelar o cancelamento

Julgamentos online desviam a atenção dos jovens e esvaziam debates importantes


O caso do Tolkien foi leve mesmo, até porque pegou carona em outro assunto envolvendo o autor, e a figura do Tolkien não é capaz de engajar um grande público. Trouxe para cá apenas por se tratar de um fórum sobre Tolkien. Por outro lado, por exemplo, J.K. Rowling foi fortemente cancelada, aqui no Brasil e no exterior, inclusive dentro do seu próprio fandom. E é um caso extremo de um fenômeno que ocorre frequentemente, com intensidades diversas: é fácil googlear e achar lista de famosos cancelados, ou a notícia de que alguém foi cancelado, ou a discussão sobre o ato de cancelar. O termo "cancelamento" já é usado correntemente para descrever fenômenos desse sentido, inclusive por grupos de esquerda (e se não me engano o termo nasceu também na própria esquerda). Agora, caso se queira defender que o termo seja adotado de maneira mais restrita, pois nem tudo seria "cancelamento", aí precisaríamos estabelecer uma definição um pouco mais rigorosa. A mim me parece que uma empreitada infrutífera, com risco de cair em algo como o paradoxo do monte de areia - até que ponto alguém foi cancelado, ou apenas sofreu um fenômeno negativo mais moderado? Cancelamentos variam inclusive na duração, tem gente que é execrada mais longamente, tem gente que pouco tempo depois abaixa a cabeça, fala o que a massa quer ouvir, e o cancelamento é revertido. Enfim, de minha parte, encaro como uma palavra informal corriqueira para um fenômeno atualmente corriqueiro, querer cancelar a palavra 'cancelamento' me soa como uma tentativa de renomear um fenômeno que sabemos qual é, porque a alcunha atual passou a ter conotações politicamente indesejáveis.
 
Aí começamos a chegar na definição rigorosa que me referi. Se, para o cancelamento existir, a pessoa deve necessariamemte sofrer grande prejuízo profissional, então cancelamentos são de fato menos frequentes do que o uso corrente do termo sugere. Até porque quem se presta a cancelar faz parte de uma parcela bem específica da sociedade, interneteira, que raramente tem grande influência, a menos que o trabalho da pessoa dependa dessa bolha, ou que as coisas atinjam tal repercussão que consigam atingir o trabalho da pessoa - como o sujeito equivocadamente identificado como racista. Seja como for, o termo em geral não é usado com esse pré-requisito. Quando a Paola se disse cancelada (e matérias repercutiram), duvido que ela estava seriamente preocupada com sua carreira, por exemplo.

Nesse sentido, classifico o que a J.K. sofreu como um cancelamento forte porque ela sofreu muitos ataques, inclusive por pessoas de seu círculo social - a dificuldade é psicológica e não financeira. O "muitos" que causa o sofrimento psíquico não necessariamente é o "muitos" que irá prejudicar a carreira de alguém, especialmente de alguém com uma carreira tão consolidada quanto a da J.K. Rowling.
 
Última edição:
Mas aí entramos no outro ponto, que é a responsabilidade do que é dito em rede social. Celebridades podem falar o que bem entendem, sem qualquer repercussão, meramente por serem celebridades? As pessoas devem aceitar sem criticar qualquer groselha dita?

Se interfere no psicológico, não é o caso de saber qual audiência está apta a ouvir certas coisas? A gente já não faz isso meio que no cotidiano? Escolher com qual colega dá para reclamar do chefe, por exemplo?

Parece ser uma ideia que está cerceando os direitos mas não é. Ela pode falar o que quiser, mas tem que aguentar o rojão porque do outro lado tem uma audiência que pode concordar ou discordar do que é dito. Se você é uma pessoa pública não é natural que você tenha algum nível de preocupação com o que é dito ao público? Já não era assim mesmo nos tempos em que suas ideias chegavam ao público através de aspas em jornais?
 
O cancelamento não é um fenômeno de agora, mas o twitter foi um dos disseminadores dessa onda de maneira desenfreada, eu como ignorante fui a favor do cancelamento a alguns anos atrás, após muita discussão e leitura, vejo que os lados negativos que esse tipo de atitude pode levar em certas questões, casos como acusar Tolkien de racista por causa de algumas falas como ele tratava dos povos do sul em sua obra é demais, o homem era contra o Apartheid ele era Sul-africano e sabia bem os males disso, mas estou eu aqui regando no encharcado.

Esse tipo de atitude é bizarra, eu estou lendo um livro que fala exatamente de caso de pessoas que tiveram suas vidas prejudicada por esse tipo de atitude, recomendo a leitura.

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não duvido, até porque é um jeito de esvaziar questões legítimas de minorias. na linha: se tudo é "cancelamento", então nada é importante. é um jeito de pintar minorias como meninos que gritam lobo.
Mas eu nao coloco que a ideia de falar "hey, a galera em 1920 era racista!" como algo errado. Tem a importancia do contexto, mas não significa que não exista o racismo institucionalizado e normalizado. Falar expõe esses valores e (deveria) faz(er) a gente pensar.
tão duro o cancelamento da rowling, deu pra ver que nenhuma casa editorial resolveu publicá-la depois do ocorrido, tadinha :roll:
mas nada melhor que esta versão da obra dela: https://www.amazon.ca/dp/B08B386R6J
 
Mas aí entramos no outro ponto, que é a responsabilidade do que é dito em rede social. Celebridades podem falar o que bem entendem, sem qualquer repercussão, meramente por serem celebridades? As pessoas devem aceitar sem criticar qualquer groselha dita?

Se interfere no psicológico, não é o caso de saber qual audiência está apta a ouvir certas coisas? A gente já não faz isso meio que no cotidiano? Escolher com qual colega dá para reclamar do chefe, por exemplo?

Parece ser uma ideia que está cerceando os direitos mas não é. Ela pode falar o que quiser, mas tem que aguentar o rojão porque do outro lado tem uma audiência que pode concordar ou discordar do que é dito. Se você é uma pessoa pública não é natural que você tenha algum nível de preocupação com o que é dito ao público? Já não era assim mesmo nos tempos em que suas ideias chegavam ao público através de aspas em jornais?
Eu acho que todo mundo pode criticar ou repercurtir sem necessariamente "cancelar", quer dizer, não precisa se tratar de um "rojão", ou do papo de "tá na internet tem que aguentar". Para diferenciar, corremos o risco de cair no paradoxo do monte de areia que me referi anteriormente, mas para mim é concebível um cenário onde a celebridade seja criticada por todas pessoas do mundo e ainda assim as críticas fiquem somente no campo das ideias, e que o nome da pessoa seja usado apenas para fazer menção a essas ideias, sem repúdio à pessoa. Um caso hipotético em que uma pessoa só fala bobagem, ela naturalmente perderia engajamento e seria basicamente isso. É claro que esse é um cenário utópico, mas é um norte que, creio eu, deveria ser buscado, ao invés de naturalizar cancelamentos.
 
Felipe Castanhari se mostrou preocupado, no twitter, com terraplanistas. Mas daí foi criticado pela esquerda por, em outras ocasiões, supostamente defender "terraplanismos" ou "fake news" sobre assuntos estudados nas humanidades (como, por exemplo, o fascismo [1][2]). O Felipe Neto hoje veio em sua defesa e criticou essa reação do público, que ele (como muitos outros) chama de "cancelamento".

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Enfim, se um diálogo civilizado parece difícil ante às discordâncias sutis do Castanhari, fico imaginado com discordâncias mais importantes ou profundas. Sem condições... tendo a duvidar cada vez mais da mera possibilidade de um debate público amplo: o que haveria de promissor é o debate entre grupos afinados ideologicamente, profissionalmente ou pessoalmente, para além disso só restaria divulgação, proselitismo ou militância...
 
Última edição:
Canceladores tiveram um mau dia hoje. A Porta dos Fundos, que é alinhada a essa gente, fez um vídeo de cunho bastante sexista, sugerindo que uma deputada do Novo teria sido bem-sucedida eleitoralmente apenas por... bem, devem imaginar. Mais um caso de "ódio do bem" ("racismo do bem", "machismo do bem", etc) - se o perpetrador é progressista, olham para o outro lado e nada é dito. Um campeão disso é o Ciro Gomes - ele pode usar termo racista,[1] ou meter aos berros o dedo na cara de mulher,[2][3] mas, claro, é o Cirão da Massa, e os alvos são gente de direita, então sem problemas. Outro é José de Abreu, que cuspiu em cara de mulher,[3] e além de não ser cancelado, foi no Faustão dar sua versão dos fatos.(!!!!) É evidente: interessa, antes de tudo, proteger não as minorias, mas sim gente alinhada a esse movimento político identitário (anti-liberal, portanto [4][5]) - basta ser minoria e não identitário, ou identitário e não minoria, e verá qual é a prioridade.

Pois bem, a contradição nesse caso foi ainda mais evidente do que o normal e virou um trending topic, aí mesmo a esquerda não teve como ignorar - tiveram que romper, tardiamente, o silêncio. Por exemplo, o Sleeping Gigants Brasil é um movimento meio (na falta de termo melhor) fascistóide, que busca prejudicar financeiramente gente cancelada, indo diretamente nos seus patrocinadores. Mas até eles se viram pressionados a se manifestar, e vieram com essa:

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Mas é claro, como bem observado, campanha de cancelamento nenhuma vai se seguir.
 
Última edição:
Outro que passou por um cancelamento foi um dos mitos da esquerda: Caetano Veloso, aquele que estuprou a atual esposa.
Ele postou algo como "reprodução heterosexual" e isso não foi muito bem aceito pela patota que controla o politicamente correto.
Hoje em dia essa patota controladora tem tantas regras que é quase impossível um próprio esquerdinha não cair em uma armadilha, seja ela de lugar de fala, de termos novilinguas, entre outros..

Finalizo com essa brilhante sentença:

"Além da montanha de 100 milhões de cadáveres no último século, o pior legado da esquerda materialista foi o de dividir e envenenar até as mais puras relações de afinidade humana. Ao instaurar um clima de permanente desconfiança e patrulhamento, a esquerda está matando a alma das pessoas, depois de provar que sabe como ninguém matar-lhes os corpos." - Paulo Briguet
 
Lembrando que estamos no fim do ano e está chegando a época do Porta soltar aqueles vídeos lacradores que zoam o cristianismo.
Adoro. Mas esse aí que apagaram foi bem ruim mesmo.

Eu acho cancelamento uma tremenda bobagem. Não gosta, não consome, simples.
E eu tendo separar uma pessoa do trabalho dela. Não pergunto pro garçom, pro frentista, pro caixa de supermercado, pro entregador de pizza, pro eletricista, etc, quais são as opiniões pessoais deles pra decidir se aceito o serviço ou não. Se essas opiniões pessoais transparecem no trabalho, você continua conseguindo avaliar apenas pelo trabalho.
Única exceção que faço é pra quem exerce cargo público, por motivos óbvios.
 
Eu mó cara aqui esperando a Americanas entrar na BlackFriday.... E eu pensando "pô, todos sites já entraram, eles vão esperar meia noite?". Passou a meia noite, nada... Mas daí que eu fui me tocar, eles cancelaram o termo "Black Friday", lá é "Red Friday". :blah: Os preços estão tão ruins que eu tava achando que "Red Friday" era tipo uma pré-Black Friday, apenas... :panela:
 
Queria ser ingênua (ou arrogante, whatever) como os xóvens que, um dia desses, estavam cancelando Shakespeare, no Twitter. :rofl:
 
Por qual motivo?
O último caso que eu vi foi o do Bukowski, que estupra nos livros pro deleite dos esquedomachos.
Porque Romeu e Julieta eram menores de 18. Tudo bem ignorar o fato de que a peça foi inspirada num poema (um poema ruim, que virou uma peça boa), o que só reforça o fato de que era uma situação vigente, à época. Fico imaginando os xóvens horrorizados com o fato de a Julieta ter treze anos, no início da peça, e me perguntando se eles são os mesmos que acham que uma TRAGÉDIA (gênero e tal) seja uma grande história de amor.

Anacronismo pouco é bobagem. :rofl: O que nos leva a isto:
Quem precisa de motivos pra cancelar alguém que viveu em 1600?
Ele certamente era retrógrado em todos os aspectos da vida.
Seu crime foi não pensar como se pensa em 2020.
Mas ai de quem pensar, hoje, como se pensará em 2400!
:lol:
Exatamente.
 
A idade para consentir ao ato sexual (maioridade sexual) na Inglaterra foi de 12 ou 13 anos por trezentos anos (entre 1550–1850 aproximadamente). Depois em questão de 30 anos deu um pulo pra 16, se não me engano. Posso ver em casa os dados com mais calma; estavam na introdução que o Guilherme da Silva Braga fez para o "Flossie, a Vênus de Quinze Anos", do Swimburne. Daí o carinha nasce no Brasil em 2000, esquece que aqui a idade é de 14, e fica de mimimi com o resto do mundo e da história.
 
Tipo gente que fica escandalizada dizendo que a juventude está transando cada vez mais cedo, mas não percebe que na realidade as pessoas é que estão casando cada vez mais tarde. A idade fértil pouco mudou.
 

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