Lendo a #Ilíada
Canto III: Curtinho mas interessante. O combate que se armou no canto II está para começar. O mulherengo Páris Alexandre chama os troianos na chincha, mas se acovarda e foge com o rabinho entre as pernas quando Menelau se prontifica a enfrentá-lo. É uma caracterização patética do príncipe troiano. Só depois de uma reprimenda é que ele toma jeito. Mas não por muito tempo.
Todo o esforço de encerrar a guerra com um simples duelo, mediante juramento e imolação, é frustrado. E na prática tudo termina como começou.
Príamo isenta Helena de culpa pela guerra. Isso não é algo que se possa ignorar quando se analisa o papel dessa personagem complexa no ciclo troiano. Com efeito, se Páris escolheu justo Afrodite na eleição da deusa mais bela, ele por consequência escolheu o único favor prometido (isto é, Helena) que implicava em treta direta com outro povo.
Helena bate boca com Afrodite, mas termina por lhe obedecer sob ameaças. A ver o que rola...
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Canto IV: Continua o anterior de onde parou. No Olimpo Zeus tenta apaziguar a contenda entre os deuses para que a guerra termine aí. Como Afrodite interferiu no duelo e retirou Páris por conta, os troianos deveriam honrar o juramento e devolver Helena, pondo fim à guerra. Zeus vê aí a oportunidade perfeita para poupar Ílion da destruição, pois confessa ser esta a sua cidade predileta entre todas. É bem verdade que dele veio a ideia da guerra, para diminuir a populaçāo do mundo, que se achava muito numerosa, segundo fontes antigas exteriores ao texto de Homero. Mas que não devem ser ignoradas por quem deseja compreender o quadro geral.
"Houve o tempo em que vagavam sem conta, sempre, os povos
humanos. Eram um peso na planície da Terra de amplo seio.
Zeus viu isso, compadeceu-se, e em seu espírito complexo
planejou aliviar a terra toda nutriz do peso da humanidade
atiçando a grande rixa, a batalha ilíada,
para que o fardo se esvaziasse com morte. E em Troia
os heróis eram mortos: cumpria-se a vontade de Zeus."
(Poemas Cíprios, fragmento 1, trad. Rafael Brunhara)
Não obstante, Hera é irredutível e insiste em que a guerra continue até as últimas consequências. E para isso põe à disposição suas três cidades mais queridas, se Zeus um dia as quiser arrasar. A tal ponto chega o despeito de uma deusa...
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Canto IV: Afora o diálogo entre os deuses no Olimpo, há uma porção de pequenas conversas de Agamêmnon com cada chefe grego para incitar as tropas e retomar a batalha. Não é à toa que 52% do poema sejam diálogos. Ô povo parlante!
Só depois no fim começa a sanguinolência. Sangue, miolos e tripas. A ver se rolam mais cabeças no próximo capítulo... Mas ainda acho que nesse ponto a Eneida será imbatível.
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Canto V: Deuses, gregos e troianos, uma galerinha do barulho apontando altas confusões nas planícies de Troia... Vai ser um zeus-nos-acuda e ninguém está a salvo.
Novecentos versos de porradaria. É como um filme de ação dos anos 80, com gente morrendo feito mosca (quase sempre com um único golpe). A diferença é que os coadjuvantes e figurantes têm nome próprio, filiação e cidade de origem revelados antes da morte.
Do que me lembro da Eneida, o estilo de Virgílio é superior no que concerne à narrativa bélica; é que o estilo oral de Homero faz demasiado uso das fórmulas prontas, que num canto longo e todo centrado na guerra acabam saltando aos olhos de tão repetidas que ficam.
Diomedes recebe superpoderes de Atena e entra em estado "berserker": mata a rodo e não refreia a fúria nem contra os deuses, ferindo Afrodite e Ares. Eneias quase morre e é salvo no último segundo. Sarpédon também se escapa por pouco. Não bastasse os troianos mortais levarem uma surra, também os olímpios que os defendem apanharam agora. Puta falta de sacanagem. Mas Zeus tá vendo essa zoeira aí, e as pedras rolam.