Melian
Período composto por insubordinação.
Sim. Ele ganhou em complexidade, firmeza e tudo o mais. Mas é aquela questão: quem é que estava bem em 2018? A gente tava muito abalado. Eu me lembro do Haddad extremamente travado para falar sobre coisas que, em outras situações, ele falaria sem o menor problema. Foi um ano atípico, mas que sintetizou a bagunça que já vinha se formando no campo progressista há um bom tempo. E parte dessa bagunça está na conta do PT, sim. Negar isso é fazer uma leitura equivocada do cenário político.Acho nítida a evolução do Boulos-candidato desde 2018. Em 2018, a meu juízo, ele foi horrível. Lógico, não havia nenhuma expectativa de que ele fosse ser eleito. Mas uma candidatura pode, ainda assim, se destacar e ser chamariz para buscar fortalecer a bancada do partido.
Aqui entra um ponto interessantíssimo. A faceta do Boulos como liderança de movimento social será essencial para começarmos a nos organizar, em termos de campo progressista, a partir de hoje.Mercúcio disse:Respeitava o Boulos como liderança de movimento social, mas o achava fraco como candidato.
Todo o empenho para virar voto foi válido, todo o esforço em prol de aglutinar lideranças de Esquerda em torno do Boulos (em São Paulo) e da Manu (em Porto Alegre) foi essencial. Mas a gente precisa voltar a fazer trabalho de base. O Boulos, bem, ele nunca parou de fazer, né?
Um dos grandes erros da Dilma, a meu ver, foi o de não fortalecer esse laço (que o Lula, bem ou mal, conseguiu manter) com os movimentos sociais. Precisamos nos mostrar como alternativa viável não apenas para quem já vota na gente mas, principalmente, para quem não nos conhece para além das Fake News. Precisamos compreender o porquê de o apelo dos pastores das igrejas Neopentecostais ser tão ouvido. Precisamos voltar a falar a língua do povo, ao invés de querer falar por esse povo. E quando eu falo "precisamos" não significa que não tenha gente fazendo isso. O que eu quero dizer é que é preciso intensificar a nossa participação nesses movimentos.
Sim, o Boulos parece (vou tentar modalizar o discurso) ter encontrado um caminho interessante.Em 2020, acho que o Boulos-candidato melhorou muito. Por certo, ainda tem fragilidades, que me desobrigo de comentar. Mas é nítido que ele está se formando. Entre outros aspectos, viajou para a Europa, para aprender com a experiência dos novos partidos de esquerda que surgiram como reação às políticas de austeridade; mobilizou novos instrumentos, usou bem as redes. Acho que esse é mesmo um bom caminho.
Ele amadureceu, bastante, como político. E, sim, ter a Erundina ao lado meio que é um curso intensivo, né? (Sim, agora falei como uma xóvem emocionada hahahaha).Acho que esse segundo turno, em que ele de repente se viu como uma candidatura competitiva, com apoio de outros partidos maiores e contando de perto com a experiência da Erundina - que sabe que você precisa de mais do que voluntarismo pra fazer política - deve ter sido um laboratório e tanto para ele.
Isso! Acho que ficou bem claro que, em uma situação normal, ninguém votaria no Paes, mas não se tratava de uma situação normal, né? Acho que parte desse pragmatismo do PSOL se deve ao Freixo a quem, inclusive, eu não vou criticar por não ter aceitado ser candidato sem que houvesse uma união mais expressiva da Esquerda.Como saldo positivo dessas eleições, parece que pelo menos uma parcela do Psol se tornou um pouco mais pragmática. Acho que isso se mostra, por exemplo, no apoio de quadros do partido ao Eduardo Paes, no Rio de Janeiro.
Agora, cheguei num ponto sobre o qual tenho sentimentos conflitantes: eu acho legítimo que os partidos lancem candidatos próprios, e que disputem o eleitorado, que tensionem o debate, sem partir para a baixaria. Tento votar ideologicamente no primeiro turno, e do jeito que for possível no segundo. Mas, porém, contudo, entretanto, todavia... tá liberado dizer que, embora legítima, a candidatura da Marta Rocha (PDT) me deixou levemente irritada?
Eu entendo a estratégia de "ok, vamos colocar uma delegada para puxar o voto de parte do eleitorado bolsonarista", mas, sei lá, acho que a gente já tentou fazer "do jeito deles" (vide Lula e a política de conciliação de classes e, por conseguinte, burocratização excessiva da Esquerda) e não deu certo. Que tal a gente tentar fazer do nosso jeito, mesmo, sabe? Também sei das inúmeras questões que pairam sobre a Bené, mas é aquela história: passar a limpo o passado do PT não significa ficar preso a ele. A gente não tem o privilégio de ficar nessa, sabe?
Em novembro de 2017, a Nilma Lino Gomes esteve aqui, na cidade em que moro, para lançar um livro. Na ocasião, ela falou um trem que me marcou, muito. Era algo como: "ninguém nega que o PT precisa fazer autocrítica; o que a gente precisa fazer é ter o cuidado de não confundir autocrítica com autoflagelo".
Né? E isso não chega a ser necessariamente um mérito do PT (ei, não estou descartando a relevância histórica do meu partido hahaha), é mais um demérito da Esquerda, mesmo.Eu concordo contigo, Melian, de que qualquer candidatura que se queira competitiva à esquerda terá de passar por algum tipo de costura com o PT.
Pois é, aí entra a angústia sobre a qual falei, anteriormente: acredito que a melhor estratégia para a esquerda seria essa. Mas também acredito que a instituição partido não vai abrir mão de ter candidato próprio, se estiver bem nas pesquisas. No pleito passado, eu fiquei puta com a demora do partido para decidir a parada; estava óbvio que não teria como o Lula ser candidato, mas ficava naquele chove e não molha. Aliás, eu já tinha decidido que, dependendo do candidato que o partido lançasse, não teria o meu voto. Eu já estava pronta para apoiar a Manu. Mas aí o partido lançou o Haddad. E todo mundo sabe que eu adoro o Haddad. Gostei, ainda mais, do fato de a Manu ser vice dele. Mas gostaria, igualmente, se fosse o contrário: ela a cabeça de chapa e ele vice.Agora... tenho poucas esperanças de que a esquerda venha unida em 2022. A meu juízo, seria estratégico que o PT abrisse mão de encabeçar a chapa de uma eventual coalizão desse tipo, reservando-se o direito de indicar um nome forte como vice (vi o Tarso Genro, por exemplo, defendendo isso mais de uma vez, mas infelizmente ele é uma figura super isolada dentro da estrutura do PT de hoje). Mas duvido que isso vá acontecer.
No pior dos cenários, o que eu acho possível fazer é tirarmos uma linha de não partirmos para críticas enviesadas. Veja bem: não concordo com aquela história de que criticar é fazer o jogo da direita. Mas creio que dá para criticar sem esculhambar (viu, Ciro?).
No auge da minha revolta, em 2018, citei o Ulysses Guimarães para dizer que eu faço não apenas política, mas quase tudo com o fígado, e que esse era o motivo de eu me ferrar, muitas vezes. Mas não é bem assim. Falei isso, à época, porque eu não passava um dia sem xingar bolsonarista (até saí do grupo da família, no Whatsapp). Mas, em situações menos desesperadoras, embora seja da minha personalidade me posicionar, eu não o faço, sempre, sem raciocinar.Essa também é parte da minha crítica ao Ciro Gomes. Concordo com boa parte do conteúdo de suas críticas ao PT e ao Lula, mas acho que ele com alguma frequência errou muito no tom. Aí ficamos na expectativa de que os ressentimentos alimentados ainda possam ser colocados de lado. Como dizia o Ulysses Guimarães:
"Não se pode fazer política com o fígado, conservando o rancor e
ressentimentos na geladeira."
Tive a mesma sensação. Mas não foi tão ruim quanto imaginar o voto útil na chapa Moro e Huck. Ainda não consigo ficar bem com a ideia de votar nesses caras, não. Não vou fingir que dou conta de lidar com isso, porque ainda não dou, mesmo.cada vez mais assusta com o número de abstenções, parece maior a cada eleição.
(eu vi o maia ontem ao lado do paes durante o discurso de vitória e deu um frio na barriga de: pqp, em 2022 vai todo mundo votar no maia como os cariocas estão votando no paes. que bosta).
Inclusive, como o meu cérebro não para, comecei a imaginar o cenário em que eu teria de votar no Kalil, para Governador de Minas, contra o Zema. Confesso, esse cenário não me assustou. Kalil puxou o combate à pandemia, de modo responsável, em Minas. As demais cidades do estado (a minha, inclusa) seguiram o protocolo que o Kalil adotou para BH, não o inútil do Zema.
É mais uma coisa sobre a qual a Esquerda precisa refletir. Como fazer para as pessoas recuperarem a confiança na Política como meio de transformação social?Minha cidade teve 29% de brancos e nulos.
No meio de uma pandemia, o que leva alguém a sair de casa pra votar branco ou nulo no segundo turno?
Exatamente. E aí entramos naquela questão: se todos são iguais, eu posso anular, votar em branco, ou votar em qualquer um, que nada vai mudar. Eu entendo o que gera esse modo de pensar, mas me preocupo com o fato de que ele favorece justamente os políticos cujos objetivos passam longe de políticas públicas válidas e necessárias.isso e, claro, desgosto com política. aquela coisa do "são todos iguais, tudo corrupto", etc.
(Travei com a regência de favorecer, aqui. Se o meu contrato não se encerrar em dezembro - eu ainda tenho esperança! hahahaha -, quem sabe eu me dê um dicionário de regência de presente? Facilita, muito, a vida de quem trabalha com revisão).
Lufe, o diabo é melhor do que o Bolsonaro. Acho que até Jesus concordaria comigo.O Maia ainda é melhor que Bolsonaro né?
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