Essa discussão é o que os comentários respeitantes a essa temporada andaram dando muita causa ultimamente:
Existe mesmo um Tolkien canon quando a gente fala da mitologia do Silmarillion e todos os materiais dos livros póstumos?
The past couple of days, an online furore has blown up regarding commentator/scholar Corey Olsen and his claim that there is no Tolkienian canon. The sort of people who delight in getting outraged …
phuulishfellow.wordpress.com
Tolkien infelizmente não publicou sua "versão definitiva" das outras obras: Silmarillion e afins. Porém, entretanto, todavia, eu acho (IMHO) que Tolkien prezava por uma espécie de "canon" do "Núcleo" de sua mitologia - o mínimo de intrusão ou exagero no "espírito" de sua obra. E o próprio Tolkien escreveu uma carta sobre essa necessidade de "cuidado" com sua mitologia:
Porém, eu lhes pediria que fizessem um esforço de
imaginação suficiente para compreender a irritação (e de vez em quando o ressentimento) de um autor que descobre, progressivamente conforme prossegue, sua obra tratada descuidadamente no geral, em certos lugares imprudentemente e sem quaisquer sinais evidentes de qualquer apreciação sobre do que ela se trata.....
Os cânones da arte narrativa em qualquer mídia não podem ser completamente diferentes; e o fracasso de filmes ruins com freqüência está precisamente no exagero e na intrusão de material injustificado que se deve a não-percepção de onde o núcleo do original se situa.
Z .... introduziu um “castelo de fadas” e muitas Águias, sem mencionar encantamentos, luzes azuis e alguma mágica irrelevante (tal como o corpo flutuante de Faramir). Ele cortou as partes da história das quais seu tom característico e peculiar depende principalmente, evidenciando uma preferência por lutas; e ele não fez uma tentativa séria de representar o coração da história adequadamente: a jornada dos Portadores do Anel. Aúltima e mais importante parte desta foi simplesmente, e não é uma palavra forte demais, assassinada.
Carta 210
Se não soubesse que a Carta foi escrita por Tolkien, o "Z", citado na carta, podia ser a Amazon; e o P.J também. Ambos pecaram muito na adaptação. Mas, pelo menos, P.J não quis enfiar nenhum mensagem ou proselitismo, e tentou (ao meu ver) adaptar o conceito citado por Tolkien: "a jornada dos Portadores do Anel".
Os filmes, pelo menos, souberam retratar a aventura, sacrifício, emoção, amizade (etc, etc) que muitos leitores sentem ao ler a obra. Óbvio, a trilogia, repito, peca muito na adaptação do Lore, mas soube transmitir algo/um sentimento advindo dos livros. E vai do gosto de cada um gostar dos filmes como obra cinematográfica.
Anéis do Poder é uma obra de Hubris, infelizmente. Hubris nas mãos de amadores com 1 bilhão de orçamento. Mas, falta algo na série, pelo menos pra mim. E, pior, os "argumentos" aos futuros roteiros da Série estavam escritos e publicados quando Tolkien ainda era vivo: os apêndices. Tolkien colocou tudo o que aconteceu - ponto A ao B. Os roteiristas podiam ter utilizado esse cânone publicado em vida por Tolkien.
Qual seria o outro cânone mais "detalhado" da 2ª era? Tolkien descreve a 2ª Era e seus conceitos na Carta 131. O "argumento" à Série foi escrito por Tolkien na década de 50.
Sobre o porquê de citar "Argumento e roteiro":
- Argumento
É o primeiro passo no desenvolvimento de um roteiro, e é uma sinopse mais extensa que conta a história, os personagens e as ações do filme, sem a divisão de cenas. O argumento é escrito como se fosse um conto literário, sem diálogos.
- Roteiro
É o texto do filme, adaptado do argumento com falas e cenas, para ser filmado. O roteiro é a transcrição da história de uma forma que possa ser montada e encenada.
Ao meu ver a série nasceu errada ao se ignorar os "Argumentos" que Tolkien trouxe nos apêndices, nas cartas e no "conceito"/espírito da mitologia do professor. Os roteiros ruins e a série ser péssima foram consequência disso.
Qual o conceito de Sauron na 2ª era que podiam adaptar na Série? Eu imagino que ele fosse uma figura "reformista" e pseudo prometeica fazendo revolução metalúrgica no sul e no leste da Terra-média com a introdução de uma espécie da ideia de "despotismo hidráulico", similar ao anjo caído Azazel do livro de Enoque. Veríamos a criação de uma (pseudo) tecnocracia Satânica espelhada no cultos a divindades solares/deuses do fogo para uma grande unificação temporal e a reforma religiosa anti-Deus.
Galadriel da 2ª era? Uma sábia e uma oponente política às ideias reformistas de Annatar. Ela podia encarnar o arquétipo da rainha-filósofa com os ensinamentos dos Anjos em Valinor e a tutela de Mélian em Doriath. Ela era uma oponente tão feroz a Sauron que ele, através de manipulação, fez com que Celebrimbor e os Joalheiros dessem um golpe de estado em Galadriel e Celeborn em Eregion.
Númenor? Uma história sobre vida x morte x Desejo de Imortalidade x Natureza Humana. O Drama da condição do Homem diante da dádiva de Eru e a jornada na busca pelo triunfo sobre a morte. Algo que vimos com Roy e os replicantes em Blade Runner.