Foder a economia nunca deveria ser motivo para se impeachionar presidente, mas ocorre. Ocorre porque por mais que seja um processo juridicamente válido, tutelado por disposições constitucionais, saindo do rito e entrando na substância de todos os processos que condicionam a substância do processo-mor, se trata de algo, em substância, eminentemente político. Então não adianta muito ficar discutindo se o crime cometido é menor ou maior que o aspecto político da coisa, o crime pode existir mas é sempre o peso político da questão que conta mais. E em termos de governabilidade o PT naufragou, foram incompetentes, conduziram uma política econômica desastrosa e politicamente o casamento patético com o PMDB deu naquilo que todos sabíamos que ia dar.
Eu era ferrenho defensor da continuidade até poucos meses atrás, dizia que era golpe etc, mas as interceptações das conversas e articulações do Lula, por exemplo, e ainda mais aquele absurdo da nomeação dele como Ministro foram a gota d'água para mim. E olha que eu achei, até o último momento, que essa história era boato, história da carochinha. Aconteceu a nomeação e eu não acreditei. Ainda hoje não consigo acreditar. Não que eu já tivesse muitas esperanças no PT, na honestidade política do governo, mas ainda assim foi um choque, choque de realidade.
Ainda estou aprendendo. É difícil você ser chamado de golpista por antigos camaradas, ser ameaçado de espancamento, ver as pessoas te acusando não só no facebook mas até dentro do coletivo que você trabalha, dentro do partido que você milita. Por isso que, apesar da posição extremamente lúcida do PCB quanto a isso, eu cancelei meu processo de filiação e parei de militar no partido. Mas é um detalhe... O que é importante nisso tudo é saber que não existe nenhum dualismo ao qual você tenha de ficar preso se os seus princípios forem firmes, se a sua análise política for clara, pensada e refletida, se a sua decisão política fundamental for algo que o coloca acima dessas picuinhas de crianças que se matam defendendo tanto a quadrilha do governo quanto a máfia que conduz sua deposição.
Não há dualismo, ainda há espaço para posições firmes e independentes, e que não tem nada a ver com ficar em cima do muro, 'isenção'. Não, uma postura radical e firmemente socialista mas que não deixa de enxergar esse governo pelo que ele é: um pseudo-social-reformismo marcado pelos conchavos com as grandes empresas, banqueiros e empreiteiras milionárias, o ataque frontal e insidioso aos direitos sociais da classe trabalhadora, a dilapidação dos nossos recursos naturais em favor do aprofundamento da MESMA política neoliberal implantada aqui desde pelo menos o governo Collor e, fundamental, a grande paralisia de mobilização, e a letargia mental, o desmoronamento interno de toda combatividade, força de luta e independência política da esquerda brasileira perpetrada pelo PT.
Golpe aqui é o que esse governo tem feito e faz com a classe trabalhadora. Ninguém me verá criticando a efetividade dos programas sociais do lulopetismo mas afirmar que esse governo algum dia foi um governo de esquerda, para os trabalhadores... desculpem, mas... tudo tem limite, até o cinismo e a senvergonhice. Não é. É um governo criminoso e os maiores atingidos por esses crimes não é a classe média, é o trabalhador e os marginalizados. As always...