Como disse, esbarrei com o texto, não conhecia a autora, e tenho uma birra grande com vários colunistas do UOL (Milly Lacombe pra mim é igual o povo da JP mas de esquerda). O que me chamou a atenção do texto foi a parte grafada por mim ao final. Esse comportamento apontado por ela sobre os militantes eu concordo bastante.
Inclusive boa parte das minhas críticas recentes à campanha do Lula são mais direcionadas aos eleitores do que ao PT propriamente dito. A antipatia de uma parcela dos petistas é realmente impressionante, agem como detentores de toda a moralidade e verdade universal. Ok que é um comportamento que pode ser encontrado em outras militâncias, mas talvez essa seja mais barulhenta pra mim por fazer parte da minha bolha mais do que as outras - perdi 98% das amizades bolsonaristas em 2018.
Você mesmo já deu a senha para solucionar a questão. É um comportamento que pode ser encontrado em outras militâncias. Política mobiliza afetos, impulsos que nem sempre são inteiramente racionais e rede social é o buraco do capeta. A militância cirista nas redes é diferente disso? Não se posiciona nas redes em condição de superioridade, moral e intelectual? A pergunta é retórica.
Como comentei em outra parte, armou-se uma teia de ressentimentos. E é esperado que isso se traduza em alguma animosidade nas redes. As campanhas não têm total controle sobre isso. Mas é claro que elas podem e devem trabalhar a ideia de que é momento de conversar onde quer que haja diálogo possível, de buscar o convencimento fora da bolha.
Mal comparando, é como torcida de futebol, em que às vezes um grupo de torcedores especialmente devotado faz merda e acaba prejudicando o time.
Eu acho que a campanha errou no clima de otimismo de primeiro turno. O
@Felagund já vinha falando há algumas semanas que achava isso perigoso, porque se desse segundo turno daria uma murchada no povo, e foi o que aconteceu. Domingo a noite parecia que Bolsonaro estava eleito, e não que o PT chegou no segundo turno com seis milhões de votos à frente. E essa campanha pelo primeiro turno também engaja o outro lado, que fica com medo dessa vitória ser tão rápida e aumenta a sua própria militância.
Se não houvesse essa história de "vai ser de primeiro turno" e essa agressividade pra cima de eleitores de Ciro e Tebet, talvez o clima hoje seria melhor do que o atual. Obvio que é ser engenheiro de obra pronta falar isso, mas não deixa de ser bacana ficar palpitando.
Eu acho que a campanha não teve salto alto em nenhum momento e mesmo quando as pesquisas - meses atrás - mostravam os resultados mais favoráveis a Lula, não partiu do pressuposto de que estivesse tudo ganho. Se sabia da dificuldade de ganhar no primeiro turno, mas a campanha mirou onde tinha que mirar. E isso mobilizou e gerou engajamento e, ainda que não se tenha fechado a fatura no primeiro turno, Lula teve a sua segunda melhor votação em um primeiro turno, considerando o desempenho em termos proporcionais. Teve no primeiro turno quase a quantidade de votos que Bolsonaro teve no segundo turno de 2018 e parte para o segundo turno com uma dianteira de mais de 6 milhões de votos.
Essa campanha conseguiu mobilizar grupos que vão além da base petista, como o próprio texto da Lackso deixa ver. Ela diz que queimou pontes, mas reitero: foi uma campanha que construiu pontes e trouxe para a órbita da campanha do Lula eleitores que votaram no Ciro em 2018 e que, pelas suas inclinações, tenderiam a votar nele novamente. É, aliás, o meu caso - já disse em outros posts.
O clima de otimismo é natural, quando você promove esse tipo de engajamento. Ora, lembra da campanha de 2018, com o eleitorado do Ciro realmente crente de que iria virar pra cima do Haddad - aliás, mobilizando o discurso de voto útil, veja você, batendo-se na tecla de que se devia votar no Ciro porque ele era o único que, segundo as pesquisas, era capaz de derrotar Bolsonaro no 2º turno?
Cá entre nós, o bolsonarismo já estava mobilizado e engajado. Sempre esteve, ao longo de todo esse governo. A campanha do Lula conseguiu unir um bloco capaz de rivalizar com eles e a maioria do eleitorado, dos dois lados, optou por antecipar o 2º turno.
Eu concordo que não ter levado no primeiro turno teve esse efeito, de balde de água fria. Mas agora é realinhar, mobilizar novamente e ganhar terreno. Mantidos os votos recebidos no primeiro turno, precisa de muito pouco para eleger Lula. Sem salto alto, é claro. Afinal de contas, eles têm a máquina na mão e estão fazendo uso disso despudoradamente, com um desassombro que não teme eventual judicialização.
Aqui discordamos. Ciro atacar o Lula não faz dele uma linha auxiliar do bolsonaro. Ciro passou quatro anos atacando Bolsonaro, mas parece que isso não é importante pra discussão. Eu acompanhei toda a sua campanha, e e qualquer podcast ou entrevista dada, ele criticava basicamente todos os pontos do governo atual, de economia à corrupção. Não tem nada de auxiliar isso. A questão é que o argumento muito usado pelo Ciro é que o Bolsonaro "nasce" do sentimento antipetista, já que de acordo com nosso querido Coronel, o miliciano conseguiu roubar do PSDB esse protagonismo de ser o candidato "ANTIPETÊ". Porque mesmo o antipetismo sendo bem anterior ao miliciano, foi usando esse movimento que Bolsonaro soube crescer. Tem outras "qualidades" no presidente, como ser uma "novidade" e o candidato "anti-sistema", mas o ponto central dele é se apresentar como o cara que quer "acabar com a corrupção" e a "degeneração" da esquerda (vou lotar essa porra de aspas né. A gente sabe que é tudo mentira, estou colocando só o que fez parte da narrativa que construiu o Mito).
E aí Ciro após 2018 ainda estar muito atrelado ao PT, usa dessa estratégia de dizer que o Bolsonaro é o maior cabo eleitoral do PT, que graças à incompetência do governo, Lula pôde ter chance de voltar a ter chances de ser presidente e etc. Não tem nada de linha auxiliar aqui, ele critica ambos, o tempo todo, linha auxiliar é o candidato padre. A não ser que você seja da turma que acha que criticar o Lula é coisa de fascista antidemocrático, tem que admitir que é uma campanha justa, mesmo que não tenha funcionado.
Por fim se mostrou uma estratégia ineficiente porque foi uma eleição absurdamente polarizada. Bolsonaro recebeu mais votos do que no primeiro turno de 2018, e Lula recebeu mais votos do que qualquer outro candidato na História do Brasil, mais de 90% dos válidos ficaram entre eles. Agora resta saber se ele vai se manter "Anti-PT e Bolsonaro" até 2026 e tentar conseguir votos de eleitores de Lula arrependidos por um eventual governo impopular. Só saberemos se ele fará isso (e se funcionará) daqui uns anos.
Neithan, criticar o Lula e o PT não faz de Ciro Gomes linha auxiliar do bolsonarismo. Eu mesmo validei e valido várias das críticas que o Ciro fez aos governos petistas.
Veja que a Simone Tebet bateu no PT, mas não foi chamada de linha auxiliar do Bolsonaro.
Ciro fez campanha em 2018, levou o meu voto, inclusive, tendo batido muito no PT, e não foi chamado de linha auxiliar de Bolsonaro.
Há muito eu vinha dizendo que o Ciro acertava no conteúdo das críticas, mas errava no tom. E eu acho mesmo que isso mudou de patamar no decorrer da campanha, quando justamente as melhores críticas que Ciro tem a Lula perderam espaço pro antipetismo e pro "moralismo de goela", pra usar aqui um termo do próprio pedetista.
O Ciro errou a mão. E veja... essa era inclusive a avaliação da campanha do Bolsonaro:
FONTE
Não é sem razão, como eu dizia, que os vídeos de Ciro Gomes fizeram a alegria dos grupos bolsonaristas no Telegram e no Whatsapp, que, como disse, também foram repercutidos aqui - e não por eleitores do Ciro. Familiares meus, bolsonaristas, receberam e compartilharam vídeos do Ciro Gomes.
Ainda que desse aqui e ali alguns sopapos em Bolsonaro, Ciro com alguma frequência quase o desculpava, atribuindo a culpa de tudo a Lula e ao PT. Como quem diz: "O país está uma merda - dizia - mas quem produziu essa crise foi o PT. Foi o PT que produziu o bolsonarismo." E aqui, curiosamente, a Lava Jato, que destruiu o ambiente político brasileiro junto com a indústria de construção pesada em nome do combate à corrupção, saía da equação, apesar de todas as críticas que o Ciro fez à operação ao longo dos últimos anos. [Aliás, andou recebendo uns afagozinhos do Sergio Moro.]
Analistas políticos, de diversos veículos e matizes, apontaram isso:
E mano... em entrevista à Jovem Pan, o Ciro disse ao Emílio Surita que compartilhava do receio dele de que o Brasil, sob Lula, se tornasse um país socialista; chamou Alckmin de socialista; chamou campanha por voto útil de "fascismo de esquerda" e de tática nazista; disse que o Psol é financiado por George Soros; fez ilações sobre a saúde de Lula; tratou artistas simpáticos a ele próprio e ao seu projeto, como Caetano Veloso e Tico Santa Cruz, com absoluta grosseria. Quase faz parecer que João Santana foi contratado por inimigos do próprio Ciro... rsrs
Como eu disse... eu sei que tudo isso é medido e eu sei qual eleitor o Ciro desejava atrair. Mas não concordo com a linha adotada, acho-a contraproducente para o próprio projeto que o Ciro pretende encarnar, e disse, antes do primeiro turno, que Ciro sairia menor dessa campanha. Está aí. Saiu de 12,43% de votos em 2018 para 3,04% em 2022, queimou pontes - ele sim - com setores progressistas, onde transitava bem, implodiu uma aliança exitosa de anos no Ceará, e depois fez aí um vídeozinho de "apoio" no qual foi incapaz de citar o nome do Lula ou de dizer sequer qual foi a decisão do PDT que ele estaria acompanhando. Vá lá... a esta altura, foi mais do que eu esperava dele, dada a teia de ressentimentos que se criou e que já lamentei aqui, em outros momentos.
Em todo caso, acho absolutamente equivocados os posicionamentos de Ciro e Mangabeira Unger ao sugerir que tudo é normalidade e que não há ameaça às instituições ante eventual reeleição de Bolsonaro.
Edit:
Ah sim... e o Ciro dizer que foi "vítima de uma campanha violenta". Piada...
A campanha pelo voto útil, que ele chamou de fascismo de esquerda e de tática nazista para eliminá-lo, sequer o atacou diretamente. E Ciro, como disse, foi muitíssimo mais violentos nos seus ataques à campanha do PT. Mas posa de Santa do Altar...
Essa parte eu acho que de novo seja mais direcionada à militância e seu ódio do bem à quem vota em outros candidatos de centro e esquerda que não seja no 13, do que ao Lula que de fato quis uma frente ampla, mesmo que com ele acima de todo o resto. E até aí tudo bem, ele tem mais capital político que todo mundo junto, tem que ser a cabeça da chapa.
O problema disso é que leva àquilo que falamos antes, impede o surgimento de um novo líder progressista. Mas é um problema conhecido, e pra 2026.
Bem, creio que esse ponto já está contemplado.
Segue o jogo.