O próprio Eduardo Jorge declarava, em 2014, que era "socialista, portanto de esquerda". Até onde sei ele não mudou com esse respeito. E eu acho que é um bom critério, bem objetivo: socialistas são de esquerda, liberais e conservadores são de direita. Por outro lado, são bastante subjetivos os critérios necessários para que o sujeito, fazendo concessões a ideias típicas do espectro oposto, seja considerado de centro (ou de centro-esquerda ou de centro-direita). Pelo menos no meu universo semântico não há uma definição rigorosa de "centro", e muito menos uma definição absoluta (que não dependa do cenário político em que o sujeito esteja inserido) ou uma definição que contraponha "esquerda" e "direita", como se o "centro" fosse uma terceira via. Inclusive, por exemplo, Eduardo Jorge poderia ser considerado de esquerda não-centro se não houvesse uma esquerda bem mais profunda (distante da direita) nas figuras de Boulos, Ciro e Lula... Em suma, se vamos contrariar o próprio Eduardo Jorge em como ele se classifica (até onde sei ele não mudou com esse respeito), precisaríamos de uma definição mais rigorosa para os termos.
E vale lembrar que "socialista" não é meramente quem busca a "socialização dos meios de produção" ou coisa que o valha - essa é uma definição estreita, de cunho marxista. O termo "socialismo" é tão amplo quanto "liberalismo", e pode-se, por exemplo, ser um "socialista" com respeito a um dado aspecto da sociedade, e um "liberal" com respeito a outros aspectos. Quem vai dizer se o sujeito é "socialista" ou "liberal" em um sentido global é, em geral, o próprio sujeito, que, pesando suas tendências liberais e socialistas, dirá quais tendências tem maior importância para o contexto ideológico em que vive. Inclusive, por exemplo, se formos olhar a
lista de estados socialistas na Wikipédia, o critério é meramente o de autodeclaração constitucional, e até Portugal é considerado um estado socialista.
Analogamente, tem muita gente aí que se diz católica, mas não difere um tico de um progressista típico - acho bizarro que Deus tenha se feito homem, fundado uma Igreja, o cara tenha entrado nessa Igreja, mas apesar de tudo isso em quase nada difira de um colega mundano típico, nada tem a dizer que provoque um mínimo de desconforto nesse colega; parece que Deus se fez carne apenas para dar um adorno de segunda ordem nas crenças do sujeito. Ainda assim, não sou eu que vou falar que o cara não é católico... Outro exemplo: tem uns liberais aí muito próximos da esquerda também, que em quase nada diferem de social-democratas, o liberalismo deles é um liberalismo já naturalizado no Ocidente após a derrocada do absolutismo... acho desnecessário declaram-se liberais apenas por causa disso, porque se for assim decerto será liberal todo mundo que procura atuar dentro dos limites do estado democrático de direito... Mas de novo, não sou eu que vou falar que o sujeito não é liberal. Ou posso até tentar fazê-lo, mas me caberá definir de forma mais estrita o que é liberalismo, e minha crítica só fará sentido uma vez tomada essa definição.
Em tempo....
O cara não consegue nem prever a necessidade política que virá no mês seguinte, se contradizedo politicamente dessa forma, imagina os arranjos necessários pra costurar uma frente ampla de esquerda. Como ele mesmo disse,
os antigos desentendimentos não foram superados, e nesse ritmo nem devem ser.