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Clube de Leitura 5º Livro: Madame Bovary – Gustave Flaubert

Bom, eu já li o livro, e pra um Clube de Leitura, o do Meia Palavra.

Porém acredito que nessa releitura talvez possa compreender melhor a Emma Bovary, um personagem que despertou em mim uma mistura de raiva, piedade, desprezo e tristeza.
É bem complexa a Dona Bovary. =/

E lendo os primeiros capítulos vejo como, no começo, ela era ingênua.
Mas também, era praticamente uma criança, ou melhor, uma adolescente, só que naquele tempo não devia existir "o adolescente" como vemos hoje.
Passava-se da infância pra vida adulta direto.
Os mais pobres acho que nem infância tinham.

E o Charles Bovary, meu Deus! :no:
 
Clara, no livro que você está lendo, como está traduzido o nome do personagem: Carlos ou Charles Bovary? No meu livro aparece como Carlos Bovary.
 
É Charles, Spartaco.

A tradução é de Ilana Heineberg.

Sua tradução deve ser mais antiga, dá uma olhada, os tradutores antigos costumavam aportuguesar os nomes próprios. :yep:
 
Ontem mais três capítulos, que foram bem interessantes, a saber:

4- A festa do casamento;

5- O novo lar em Tostes, narrando o dia a dia do novo casal;

6- Um relato da infância de Emma, a sua entrada no convento, onde estudou, e o seu mundo de fantasia secreta.
 
Posso participar? Posso? Vou tentar acompanhar a sério a discussão. Acho a oportunidade de ler finalmente Madame Bovary (que estava esperando há algum tempo na estante) imperdível.

Por enquanto li até o capítulo 7.

Sobre o capítulo 1, queria deixar uma imagem de uma sala de aula na França no final do século, provavelmente não muito diferente da de Charles Bovary. As roupas, pelo menos deveriam ser semelhantes. Nessa sala pelo menos tem um cabide para pendurar chapéus... É uma pintura de Henri Jules Jean Geoffroy de 1889, chamada En classe, le travail des petits (Em sala, o trabalho dos pequenos).

escola 2.webp
Parece mesmo que as crianças do campo tinham educação irregular com o padre local até entrarem para o liceu (cena que vemos no começo) e depois iam para a universidade. Será por ser do campo que ele se sentia inferior aos colegas? Enfim, a figura de Charles me pareceu meio triste e medíocre/mediana: filho único de um casamento infeliz, mimado pela mãe, esquecido pelo pai, relativamente pobre, depois do casamento horrível com uma viúva uns 20 anos mais velha (capítulo 2) por interesse da mãe (no dinheiro), não é à toa que parece ter achado a felicidade conjugal no segundo casamento com Bovary. Comparou uma com outra e se achou no céu, né?

Quanto a essa me pareceu a figura (meio exagerada) de uma romântica ideal. A princípio meio carola (alguém mais sentiu isso?), foi "desvirtuada" pelas leituras de romances? Vou tentar fazer uma lista das leituras dela por aqui depois. Mas a primeira cena onde ela mostra esse romantismo meio doido é em querer casar à meia-noite à luz de velas, né? rs Com o que o pai não concorda, obviamente...

E o Charles Bovary, meu Deus! :no:
O que você achou dele, Clara?

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A edição da Penguin-Companhia tem notas? Estou pensando em copiar algumas da minha edição aqui porque notei que a que traz a tradução do Araújo Nabuco que tenho aqui não tem nenhuma. Será que é útil isso? Alguém está lendo/vai ler pela da L&PM? Tem notas também?
 
Última edição:
O que você achou dele, Clara?

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A edição da Penguin-Companhia tem notas? Estou pensando em copiar algumas da minha edição aqui porque notei que a que traz a tradução do Araújo Nabuco que tenho aqui não tem nenhuma. Será que é útil isso? Alguém está lendo/vai ler pela da L&PM? Tem notas também?

Acho o Charles medíocre mesmo.
Mas não quero falar mais porque já conheço a história mas assim, quando li pela primeira vez não senti empatia nenhuma por ele. =/

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Estou lendo a edição de bolso da L&PM.
Tem algumas notas, acho poucas.

As edições da Penguin-Cia costumam vir com uns extras bem bacanas.
Se tivesse dinheiro comprava pra essa leitura.
 
Terminei os últimos três capítulos da Primeira Parte:

7- Emma fica entediada; convite para um baile pelo Marquês d'Andervilliers;

8- O baile no Château La Vaubyessard, onde ela fica fascinada pelo ambiente e, também, pelo Visconde;

9- Emma segue modas, sente saudades do baile, sonha com Paris e, ainda, reclama do tédio a Carlos, que acredita que ela está doente e, assim, resolve se mudar; ficamos sabendo também que ela está grávida.
Achei interessante a maneira que Flaubert descreve, paulatinamente, a mudança comportamental de Emma, bem como a sua maneira de pensar.

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A edição da Penguin-Companhia tem notas? Estou pensando em copiar algumas da minha edição aqui porque notei que a que traz a tradução do Araújo Nabuco que tenho aqui não tem nenhuma. Será que é útil isso? Alguém está lendo/vai ler pela da L&PM? Tem notas também?

Seria muito bom se você pudesse colocar as referidas notas, pois, como disse anteriormente, a minha edição é antiga (Abril Cultural) e, realmente, não tem notas.
 
bom, vamos lá - referente aos primeiros 6 capítulos do livro

O que vocês acharam da morte da primeira esposa do Charles (Carlos para alguns)? Ela morreu de desgosto porque descobriu sobre a filha (Emma) do carinha com sobrenome estranho? Achei muito providencial e facilitado pelo autor, se bem que ele frisava que ela era muito magra (talvez ele queria dizer sem saúde?).
 
bom, vamos lá - referente aos primeiros 6 capítulos do livro

O que vocês acharam da morte da primeira esposa do Charles (Carlos para alguns)? Ela morreu de desgosto porque descobriu sobre a filha (Emma) do carinha com sobrenome estranho? Achei muito providencial e facilitado pelo autor, se bem que ele frisava que ela era muito magra (talvez ele queria dizer sem saúde?).
Não tinha dado muita atenção a isso. Fui olhar de novo essa cena e o final do capítulo 1 e pelo que entendi ela já tinha alguma doença. No final do capítulo 1 ela reclama dos nervos, do peito, dos "humores" e que as pessoas a visitavam esperando que ela fosse morrer e pede um xarope ao Charles. Quando ela morre, depois de brigar com os Bovarys, ela escarrava sangue (final do capítulo 2). Tinha entendido que tinham sido os nervos, o estresse. Mas talvez esteja subentendido que ela tinha tuberculose.

Quanto à função da primeira esposa (Heloïse Dubuc) na narrativa, eu diria que ela serve para mostrar o Charles como um homem servil: primeiro obediente à mãe, não se casa por amor, se casa por conveniência. Ele nem mesmo escolhe a mulher! Segundo, servil à mulher: o narrador ironiza dizendo que com o casamento Charles esperava encontrar liberdade, tanto pessoal quanto de usar seu dinheiro como quisesse, para na frase seguinte dizer que a mulher é quem mandava: no jeito dele falar (!), se vestir, fazer suas consultas... Serve também para Charles fazer uma comparação com a Emma Rouault e se achar no melhor dos mundos, coitado (final do capítulo 5). Aliás, quanto a ele ser servil, notar também que ele nunca toma partido nas disputas da mãe com as esposas.

Talvez seja isso?
 
Última edição:
Post duplo para comentar mais um pouco.

Sobre as leituras da Emma. Há as que são mencionadas e as que ficam subentendidas também.

  • Paulo e Virgínia (1787) de Bernardin de Saint-Pierre - A primeira obra citada. Normalmente incluído no pré-romantismo, trata dos amores de duas crianças enquanto se tornam adolescentes nas Ilhas Maurício, que moram com suas mães, o escravo Domingo e o cão Fiel (há um episódio em que Virgínia se perde e Paulo vai com Fiel atrás dela na noite). Mais ou menos como A Lagoa Azul =P. Uma tia nobre de Virgínia a convida para ir morar com ela e receber educação na França. Ela vai, mas não suporta o ambiente "civilizado" de Paris e foge de volta para a ilha só para morrer no naufrágio do navio que a levava na chegada ao porto, durante um furacão, com Paulo assistindo a tudo desesperado à beira-mar...
  • Conferências (1825) do Abade Frayssinous - Segundo a nota da minha edição, faz o elogio do Catolicismo contra a Revolução.
  • Gênio do Cristianismo (1802) de François-René de Chateaubriand - Uma das primeiras obras de crítica literária romântica, é, mais ou menos como a anterior, uma defesa do Catolicismo contra a Revolução, mas Chateaubriand também faz a defesa das obras de arte cristãs em oposição às obras clássicas. Por exemplo, Homero contra Milton ou Racine. Analisa também a arquitetura, pintura, escultura....
  • Os keepsakes (traduzido por Araújo Nabuco infelizmente como "álbuns de lembranças") compartilhados com as amigas - Eram livros com publicações de vários autores. Segundo a Wikipédia, alguns dos autores publicados nesse formato foram: Mary Shelley, Charles Dickens, Lord Byron, Robert Southey, Walter Scott, William Wordsworth, Robert Browning, Nathaniel Hawthorne, Edgar Allan Poe, Ralph Waldo Emerson, Frances S. Osgood, e Henry Wadsworth Longfellow. Ou seja, só a nata do Romantismo.
  • Walter Scott (1771 -1832) - Que já está implícito no item anterior, mas também na visão que ela tem de ruínas e de um cavaleiro com um penacho branco vindo buscá-la (capítulo 6).
  • Meditações poéticas (1820) de Alphonse de Lamartine - Esse aqui, principalmente o poema "O Lago" parece ser recorrente no livro. Vemos ele quando ela recebe a notícia da morte da mãe e tem "meandros lamartinianos" à beira de um lago, numa cena bem engraçada e patética. Emma querendo ser uma heroína romântica sofrida, até que ela se cansa (se entedia de sofrer?). Temos ainda reflexo disso no bolo de casamento com um "laguinho de doce" (o que é uma ironia e diminuição da arrebatação do Lago de Lamartine)
  • O corcunda de Notre-Dame (1831) - Essa aqui sabemos por Djali, nome da cabra de Esmeralda que é também o nome que Emma deu para sua cadela.
  • La Corbeille - jornal para mulheres.
  • Silfo dos salões - jornal sobre a vida parisiense e sobre moda.
  • Eugène Sue (1804 -1857) - Escritor de romances em fascículos publicados em jornais (logo burguês?) conhecido principalmente por Os Mistérios de Paris (1842-1843), muito popular no século XIX.
  • Balzac (1799 -1850) - não sabemos o que leu. Poderiam ter sido os poucos contos fantásticos, mas ela procura a decoração para a casa em Balzac, algo mais realista. Talvez os dois, quem sabe?
  • George Sand (1804 - 1876) - não sabemos o que leu dela.
Acho que o quadro geral, como disse, é de uma romântica ideal exagerada (de propósito, claro): a menina "se estragou" na leitura dos ultrarromânticos na adolescência... Engraçado que na década de 50 talvez fosse lendo quadrinhos. Hoje em dia, jogando videogames, né?

Ainda estou mais para o lado da pena quanto ao caráter dela (e de Charles também). Ela me parece muito ridícula e triste, por exemplo, quando deseja sofrer "até a morte" pela morte da mãe e não consegue (capítulo 6); quando sonha com um cavaleiro com penacho e com um castelo (capítulo 6); quando recita poemas à luz da lua e não sente muita paixão (capítulo 7); quando compara Charles com os personagens dos livros (capítulo 9).

Enfim, indo um pouco longe daria para dizer que Emma Bovary representa a impossibilidade (trágica?) de se viver em um estado poético (de "elevação espiritual", de "sublime" segundo a concepção romântica) o tempo inteiro, que é, no fim, a condição humana, né? E Flaubert diz isso enquanto escreve bem poeticamente em alguns trechos!
como o do buquê de casamento queimando (capítulo 9)

Aliás, sobre a escrita de Flaubert, Madame Bovary definitivamente não é um romance de ação. É mais um romance psicológico, com bastante descrições de vários objetos, dos ambientes etc, o que torna o texto bem pesadão e bem diferente dos best-sellers de hoje em dia. Deve ser por isso que é um dos livros mais abandonados do Skoob, por exemplo. O que vocês acham da escrita?

(Desculpem ter escrito tanto..., por enquanto acho que é isso)
 
Última edição:
Acho que o quadro geral, como disse, é de uma romântica ideal exagerada (de propósito, claro): a menina "se estragou" na leitura dos ultrarromânticos na adolescência... Engraçado que na década de 50 talvez fosse lendo quadrinhos. Hoje em dia, jogando videogames, né?

Acho que seria mais certo comparar com as telenovelas e filmes românticos ou então, nos dias de hoje, algo como livros tipo "Crepúsculo" pras mais novinhas, e "50 Tons" pras mais velhas e "moderninhas".
:tsc:

Ainda estou mais para o lado da pena quanto ao caráter dela (e de Charles também). Ela me parece muito ridícula e triste, por exemplo, quando deseja sofrer "até a morte" pela morte da mãe e não consegue (capítulo 6); quando sonha com um cavaleiro com penacho e com um castelo (capítulo 6); quando recita poemas à luz da lua e não sente muita paixão (capítulo 7); quando compara Charles com os personagens dos livros (capítulo 9).

Sinto pena da Emma em vários momentos do livro, mas principalmente no começo. =/

Aliás, sobre a escrita de Flaubert, Madame Bovary definitivamente não é um romance de ação. É mais um romance psicológico, com bastante descrições de vários objetos, dos ambientes etc, o que torna o texto bem pesadão e bem diferente dos best-sellers de hoje em dia. Deve ser por isso que é um dos livros mais abandonados do Skoob, por exemplo. O que vocês acham da escrita?

Adoro a escrita do Flaubert, exatamente por isso!
A precisão em descrever as situações, o clima, o ambiente.
Lima Barreto também é assim, por isso gosto das histórias dele também. :yep:

Do Flaubert lembro de ter lido, faz tempo, mas acho a que é esse livro aqui, Cartas Exemplares:

cartas-de-flaubert.webp

Então, numa dessas cartas ele escreve que foi a uma cidade do interior da França assistir a um enterro, só pra poder descrever uma situação dessas em um livro que estava escrevendo, não me lembro direito mas acredito que tenha sido o Madame Bovary, porque nele tem uma cena de enterro (e tudo que acompanha esse tipo de cerimônia) muito bem escrita, tanto no aspecto da cerimônia em si como (e é isso que acho mais tocante no Flaubert) os sentimentos, a visão dos personagens. :yep:
 
Aliás, sobre a escrita de Flaubert, Madame Bovary definitivamente não é um romance de ação. É mais um romance psicológico, com bastante descrições de vários objetos, dos ambientes etc, o que torna o texto bem pesadão e bem diferente dos best-sellers de hoje em dia. Deve ser por isso que é um dos livros mais abandonados do Skoob, por exemplo. O que vocês acham da escrita?

Sobre a escrita do Flaubert, estou achando bastante pesada mesmo. As descrições são bem complexas e as vezes o livro se torna enfadonho pois como você disse não há muitas ações. Acabei de ler um livro com várias cenas de ações e estou com dificuldades de apreciar essa leitura meio vagarosa do Flaubert, mas irei forte até o fim, rsrs!

Sobre a explicação da função e morte da 1ª esposa, acho que ela serviu exatamente pra isso, para mostrar o quão servil é o Charles! Concordo com você!

Terminei a 1ª parte ontem e após ler o seu post, realmente me pareceu que a formação da Emma é uma critica ao Romantismo exagerado das protagonistas dos romances citados e que ela lê.

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E uma coisa que está me irritando um pouco é que estou lendo no Kindle e minha edição da Penguim tem diversas notas, algumas no fim do livro e algumas no fim do capítulo. Ainda não aprendi no Kindle, ter a mesma agilidade e praticidade de um livro fisico para ir ler tais notas.
 
Última edição por um moderador:
Acho que seria mais certo comparar com as telenovelas e filmes românticos ou então, nos dias de hoje, algo como livros tipo "Crepúsculo" pras mais novinhas, e "50 Tons" pras mais velhas e "moderninhas". :tsc:
Verdade, Clara. Pensando bem acho que seria com Crepúsculo mesmo, ou livros de Nicholas Sparks, Barbara Cartland, Danielle Steel... Ou romances de banca... Ou séries de tevê em que todo mundo é rico, consumidor, bonito e...

Então, numa dessas cartas ele escreve que foi a uma cidade do interior da França assistir a um enterro, só pra poder descrever uma situação dessas em um livro que estava escrevendo, não me lembro direito mas acredito que tenha sido o Madame Bovary, porque nele tem uma cena de enterro (e tudo que acompanha esse tipo de cerimônia) muito bem escrita, tanto no aspecto da cerimônia em si como (e é isso que acho mais tocante no Flaubert) os sentimentos, a visão dos personagens. :yep:
Os irmãos Goncourt quando estavam escrevendo Germinie Lacerteux (1865), se não me engano, também passaram um tempão visitando hospitais e fazendo observações para descrever um no romance. É aquela ideia do "romance de tese", ou "romance científico" dos realistas.


Adoro a escrita do Flaubert, exatamente por isso!
A precisão em descrever as situações, o clima, o ambiente.
Lima Barreto também é assim, por isso gosto das histórias dele também. :yep:

Sobre a escrita do Flaubert, estou achando bastante pesada mesmo. As descrições são bem complexas e as vezes o livro se torna enfadonho pois como você disse não há muitas ações. Acabei de ler um livro com várias cenas de ações e estou com dificuldades de apreciar essa leitura meio vagarosa do Flaubert, mas irei forte até o fim, rsrs!
Eu também gosto da escrita cheia de detalhes, barroca quase. O Flaubert fazia questão de "escrever bonito", de burilar as frases, mesmo tratando de temas "baixos", o que parece ser um contrassenso do Realismo. Inclusive era uma das lições que ele dava ao Guy de Maupassant, dizer coisas comuns como não foram ditas antes. Ele acabou influenciando o James Joyce também por causa disso. Depois vou procurar uns livros que li sobre isso e volto aqui. Parece que aqui, segundo extras da minha edição, ele queria escrever um romance "sobre nada", sem ação, o que ele parece ter conseguido com "A educação sentimental".
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Mudando de assunto, ontem eu estive pensando por acaso sobre Charles: ele diz que fuma "às vezes, quando a ocasião se apresenta", que é "um prazer estar em casa" e ele dorme durante a festa DA VIDA DELE, a melhor festa DO UNIVERSO (mentira, provavelmente tudo não passa de exagero de Emma que nunca tinha ido a um baile antes...). Pois bem minha pergunta é:

Será que Charles Bovary é um hobbit infiltrado nessa história? Quando forçado a isso ele vai levantar a bunda do sofá e salvar o mundo?
Cenas dos próximos capítulos! :pipoca:
 
Eu também gosto da escrita cheia de detalhes, barroca quase. O Flaubert fazia questão de "escrever bonito", de burilar as frases, mesmo tratando de temas "baixos", o que parece ser um contrassenso do Realismo. Inclusive era uma das lições que ele dava ao Guy de Maupassant, dizer coisas comuns como não foram ditas antes. Ele acabou influenciando o James Joyce também por causa disso. Depois vou procurar uns livros que li sobre isso e volto aqui. Parece que aqui, segundo extras da minha edição, ele queria escrever um romance "sobre nada", sem ação, o que ele parece ter conseguido com "A educação sentimental".

Bom, não sou nenhum professor de literatura, longe disso, não dava muito valor ao estudo da Literatura na escola, pois não caia no vestiba.
O que eu quero dizer é que a meses atrás fizemos o Clube da Leitura de Senhora do José de Alencar e frases buriladas eram com esse escritor do Romancismo brasileiro. O Flaubert parece mais um Alencar moderado e/ou um Machado de Assis exagerado, seria algo como um pré-realismo ainda com influências românticas... rsrsrs
 
Concordo, fcm, o Alencar tinha mesmo uma prosa elaborada (por assim dizer) também, principalmente na descrição de paisagens e talz né? Para não mencionar quando ele escreveu mesmo poesia em forma de prosa como no famoso primeiro capítulo de Iracema. Só acho que o Flaubert era bem detalhista na escrita, na estrutura das frases. Olha o primeiro parágrafo do capítulo 1, parte 2. É uma frase só, aquilo, toda cheia de subordinadas... Acho que é a isso que se referem quando falam da escrita dele e que dizem que Proust, Joyce e outros tentaram "superar" (se não for, ainda vamos descobrir haha).

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Quanto a alguns detalhes: o que acharam do Visconde? do porta-charutos bordado? da ideia de Emma de que "já leu tudo"? e do buquê queimando? (precisa da tag para spoiler?) E ainda das mudanças no humor de Emma?
 
Última edição:
To bem no comecinho ainda =P
Mas uma coisa que me chamou a atenção (e talvez não tenha muito importância, mas...) é que no capítulo do casamento do Charles com a Emma o Flaubert foca mais na festa mesmo, na parte mais "mundana" da união dos dois (e isso que também tem uns convidados que ficam só lançando piada pro Charles, o que deve ter ajudado a levar a censura a loucura na época, hahaha) do que na cerimônia na Igreja, a qual é só mencionada que aconteceu e tal... Será que com isso o autor já quis dar um prenúncio do que viria a ser o casamento deles? No que estaria baseado? Ou seria só um detalhe? (não conheço a história, então...).

E tbm achei o Charles bem medíocre, tadinho... até o autor parece rebaixá-lo - numa nota da edição da penguin, quando diz que o Charles "entusiasmou-se por Béranger", o editor aponta que "Flaubert coloca a 'admiração por Béranger' no topo da lista de coisas que ele repudiava imediatamente nas pessoas". Como disse, não conheço nada da história além da sinopse básica que se tem, daí fico pensando se o personagem vai ser sempre tratado assim, usado, ridicularizado pelos outros, motivo de pena - e talvez tbm quando a Emma começar a traí-lo isso fique ainda mais exposto, sei lá...
 
To bem no comecinho ainda =P
Mas uma coisa que me chamou a atenção (e talvez não tenha muito importância, mas...) é que no capítulo do casamento do Charles com a Emma o Flaubert foca mais na festa mesmo, na parte mais "mundana" da união dos dois (e isso que também tem uns convidados que ficam só lançando piada pro Charles, o que deve ter ajudado a levar a censura a loucura na época, hahaha) do que na cerimônia na Igreja, a qual é só mencionada que aconteceu e tal... Será que com isso o autor já quis dar um prenúncio do que viria a ser o casamento deles? No que estaria baseado? Ou seria só um detalhe? (não conheço a história, então...).

Gabriel,

achei o Flaubert muito crítico com a Igreja no geral, talvez seja isso, mas passei batido nesse detalhe especifico. Parece que o autor não curte muito esses lances da igreja católica e a vida dos padres.
 

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