Também adorei essa alternância de "discursos". A gente vê bastante isso em obras modernistas. Acho que com isso ele quis mostrar o vazio de ambos, a conversa furada. O Rodolfo nessa parte fala como um livro, como um artista romântico, se dizendo perseguido pela sociedade, exatamente o que Emma queria ouvir... Engraçado que, mais pra frente, quando ela fala assim, "cheia de paixão" (feito a doida que ela é), para ele é algo vazio, que ele já viu várias vezes antes. É como se fosse um Romantismo vulgarizado, decorado, e ele não acredita.
O que vocês acharam da figura do Rodolfo? Ele amou ela de verdade em algum momento? Ele me pareceu um conquistador Casanova barato... Também fiquei impressionado com a rapidez com que a Emma esqueceu seu "amor" por Léon... Então tanto poderia ser o Rodolfo quanto o Léon quanto qualquer um outro? O que ela quer é fugir. Não importa com quem, né?
Não acho que ele se apaixonou pela Emma, não.
Pro Rodolfo conquistar mulheres era quase um esporte, a Emma foi só mais uma.
E quanto a Emma, ainda acho que ela não "ama" ninguém de verdade, mas acredito que ela foi bem ingênua nessa história do Rodolfo.
Não me lembro de ter lido um livro que tenha me feito sentir tanta raiva e pena de um personagem, ao mesmo tempo, como sinto pela Emma Bovary.
Assim, ela é patética se a gente for pensar bem. =/
Uma coisa que não parece existir no casamento dos dois é diálogo, o que nos é mostrado de maneira irônica no capítulo 12, na parte dos sonhos de cada um. Charles tem um sonho de felicidade caseira: é ver a filha crescer e a mulher envelhecer com ele. Ela sonha em fugir para países exóticos, para viver na beira da praia, quando é interrompida pela tosse da filha (aliás, ela nunca considera a filha no sonho...).
Uma pergunta que fica: o Charles tem culpa por ser traído? É verdade que ele praticamente joga a mulher nas mãos dos outros? Seria excesso de confiança? Inocência?
Será que o Rodolfo se arrependeu mesmo? Acho que ele nunca esteve tão disposto a seguir os planos da doida da Emma. E quanto a essa doença? Não é muita doença por muito pouco não? Acho que ela sofre de depressão, né? (A Clara discorda? =P) Já desde antes de eles se mudarem para Yonville eu achava isso. Depois os sintomas voltaram com a partida de Léon e aí com o Rodolfo de novo, mais intensos.
Mas será que existia diálogo entre os casais daquela época?
Acho que não.
Os casamentos eram praticamente arranjados (pelo padre da paróquia, pelo salsicheiro, lembra do começo?) então era uma coisa acho que meio automática: se casar com quem era mais conveniente, ter filhos, envelhecer (o que devia acontecer quando? acho que alguém com 50 anos já era considerado idoso, não?) de maneira que não existia esse negócio de "discutir a relação", a mulher reclamar que se sente "sufocada" no casamento e essas viadagens todas que só apareceram no mundo burguês acho que na metade do século XX.
É por isso que Mme Bovary é um livro fora de série.
Imagina essas coisas sendo ditas naquela época, uma mulher que não aceita sua condição, que tenta sair da vidinha medíocre que leva.
É certo que a Emma é uma paspalha metida e escrota, mas não tem como negar que ela estava à frente do seu tempo.
Ou melhor, acho que o Flaubert é que estava à frente de seu tempo.
E não, não acho que o Charles é culpado por a Emma tê-lo transformado em um fura-fronhas.
Ele está inserido em sua época e sociedade, é uma marido "genérico" digamos assim.
A Emma é que tem fogo na periquita e age como deviam agir muitos homens de sua época (e de épocas posteriores) só que pra eles isso era normal, pras mulheres não era, e não é até hoje se a gente for pensar bem. =/