Consegui o meu só ontem, mas já li a parte da primeira semana. Vou para a segunda. Algumas considerações:
1. Interessante a abertura com uma citação de Rousseau e a contraposição Paris x interior, ou também o "mundo/alta sociedade" (
le monde) x interior. Me lembra que Rousseau via justamente na civilização a fonte da "corrupção" do homem que nascia bom. E Cecília foi justamente para Paris, o "centro da Civilização" e, logo, a cidade mais corrompida do mundo, nessa lógica (o que leva a pensar que a escolha de Nova Iorque para o filme Segundas Intenções faça sentido).
Há o calculismo/esquemas x inocência/autenticidade de Valmont/Merteuil x Cecília/sua mãe/Presidenta. Parece que o maior pecado para Valmont/Merteuil é não ser calculista. Enfim, eles são "civilizados" e horríveis. Há outras relações com a Nova Heloísa e com Rousseau, acho. Como a ideia de seguir seus princípios mesmo contra a sociedade, que na Nova Heloísa seriam bons, e em Valmont, não são. Por isso não sei se é tanto uma sátira dos moralistas. A ver.
2. Lembrei de Madame Bovary nesse começo. A história de Emma e de Cecília (mas também da Presidenta) é bem próxima. Tiveram uma educação exclusivamente religiosa e saíram do convento para casar, e para uma vida de tédio, sem saber nada da vida (A
@Clara V. deve estar com pena da Cecília, só para ficar com raiva depois. =P) Danceny é o Léon de Cecília. Parece que os franceses eram meio obcecados com a carolice das mulheres que recebiam educação da Igreja, já que Flaubert ainda esculhambava isso 1 século depois.
3. Há bastante teatralidade em Valmont e Merteuil, como na cena em que ela fica estudando livros como se fossem roteiros e quando (supostamente) se veste de serviçal e depois se transforma em harém(?) para o C. de Belleroche. E na esmola que ele dá para parecer caridoso, arrependido, bom etc. Aliás, tudo naquela carta pode ser falso, só para provocar Valmont. E o fato de ele se sentir provocado/enciumado também parece bem falso. haha
4. Vemos as corrupções simultâneas de Cecília e da Presidenta. De um lado um estudante (ainda) inocente, do outro o visconde já corrupto Valmont. É como se um fosse o espelho do outro no futuro e no passado.
pergunto se Sofia nunca vai responder ¬¬
Acho que agora sabemos que não. O organizador das cartas disse em alguma nota que "tirou" as cartas dela do conjunto para não ficar muito grande, mas dá para imaginar as respostas.
e acho que o Danciny é ou pode ser o suposto cavaleiro que "alegra" a Marquesa na ausência do Visconde
e ate agora não vejo a Presidente apaixonada! Alguém vê??
O interessante naquela carta é que tudo pode ser mentira, inventado pela marquesa. Mas se fosse verdade, acho que não seria o Danceny, não. Ah! Também não vi ela apaixonada não. Por outro lado, ela não deveria nem ter lido a carta de Valmont se não tivesse interesse...
aos finais da cartas usa-se tenho a honra de ser, ect..., que habito ou gesto seria este no final das cartas!?
Acho que era uma fórmula comum de fechamento das correspondências. Ela completa seria algo como "Tenho a honra de ser, Senhor/Senhora vosso mui humilde e mui obediente servo". Tanto era uma fórmula que ninguém nem ligava para o resto e só usava o etc. Mesmo em português acho que chegou a haver isso. E parece que era usada de alguém mais novo para alguém mais velho, ou de um inferior para um superior, estando relacionado então com a hierarquia social e o poder político, religioso, familiar... Depois a Revolução Francesa até quis substituir isso por "Saudações fraternas", igualando todo mundo, mas não "pegou". Acho que quem fala sobre isso é Robert Darnton, mas não lembro onde (em O beijo de Lamourette?)