Excelentíssimo magistrado, ilustríssimos jurados e demais cidadãos de Arda, vimos aqui com o intuito de responder aos argumentos trazidos pela Defesa, a quem, por sinal, felicitamos pela grandiosa imaginação, e tornar a decisão dos jurados e de nosso juiz mais fácil e justa.
Quando a Defesa contextualizou a situação que trouxe-nos ao julgamento do réu, trouxe-nos nada mais do que tentativas vãs de manipular toda a história desde que Arda ainda era um desejo no coração dos Ainur. Realmente, não podemos e nunca afirmamos enquanto Promotoria que há apenas relações dicotômicas no mundo: bem e mal, heróis e vilões, entre outros. Sabemos que existem nuances e contextos que devem sempre ser analisados e como Promotores de Justiça de Arda sempre nos preocupamos com isso, mas Sauron, nunca em sua história provou-se merecedor dessa preocupação porque simplesmente tudo o que fez e tudo o que foi é mal, é vil, é como seu próprio nome diz, abominável. Precisamos lembrar que estamos num mundo criado por Eru, e concretizado pelos Sagrados, assim, pensar em justiça significa pensar em nosso propósito enquanto criação Dele. Por que Eru nos desejou? Por que Eru nos colocou neste lugar que chamamos de Reino? Foi para que alguém, como a Defesa afirma, tão poderoso quanto Sauron pudesse nos manipular na destruição da obra de nosso Criador?
A defesa, em sua primeira tentativa de corromper nossas mentes, afirma que chamamos a liberdade de traição e perguntou se os Maiar são escravos dos Valar. Não, eles não são. Mas, enquanto criação daquele que é O Mais Alto, os Maiar têm um propósito. Como a Defesa conhece, o réu, como servo de Aulë, era chamado de Mairon, o Admirável, por suas obras. Mais tarde, na Terra-média, ele inclusive utilizou-se de seu dom dado por Eru para dominar os noldor. Sauron havia sido criado para isso! Mas, como seus próprios defensores afirmam,
(Sauron) Teve o desejo de trabalhar com Melkor, pois via nele um senhor maior e mais poderoso, que poderia fazer mais por Arda do que Aulë e suas joias.
Vê-se o quanto o réu menosprezava o desejo de Aulë de fazer tudo para glória dO Primeiro, pois desejava a glória para si mesmo. O réu queria ser mais poderoso do que o seu próprio criador e achou que unir-se àquele que já tinha propósitos malignos seria mais vantajoso para tal objetivo. Isso é crime? Afirmamos que não, mas isso demonstra que desde o início Sauron não era merecedor da misericórdia dos Poderes, pois não os respeitava desde então.
Quando viemos diante de vocês afirmar que o réu foi lugar-tenente de Angband, que transformou Minas Tirith em posto de vigia, que aprisionou elfos e homens livres da Terra-média não negamos que outros, elfos e homens valentes que amavam as luzes de Valinor e o que os Ainur representam, nunca foram senhores de guerra ou fizeram para si postos de vigia e aprisionaram inimigos. O que deixamos claro para vocês foi que o réu nunca possuiu intenções benignas. Lembrem-se que seu senhor, Melkor, desde a Grande Música, tentava destoar dos desejos de Eru. Como alguém que idolatrava seu senhor poderia ter desejos diferentes dos dele? O réu veio para Arda com a intenção de destruí-la, assim como Melkor desejava. Não apenas destruir as obras criadas pelos Ainur, mas a obra do próprio Eru. Tanto é que, quando os filhos de Eru chegaram, o réu como servo de Melkor, fora enviado a eles, junto com sombras e outros espíritos do mal. Sauron colaborou para a corrupção dos primogênitos antes da queda de Angband, quando seu senhor criou os orcs, criaturas feitas à sombra dos elfos e seus futuros inimigos. Além disso, ser um bom comandante de guerra ou qualquer coisa de que o réu se orgulhe, não justifica a imoralidade de seus atos. Como afirmamos anteriormente, ser competente em guerra, nossos homens e elfos também foram, mas eles lutavam por um propósito: a destruição do mal trazida à Terra-média por meio de Melkor, Sauron e seus exércitos. Sauron nunca possuiu por objetivo um bem maior, mas apenas a corrupção e destruição de Arda e dos Filhos de Ilúvatar por sua raiva e inveja deles. Outra acusação da defesa foi a de que os elfos e homens aprisionados por Sauron só o foram porque invadiram seus territórios. É sabido que Sauron sempre teve prazer na tortura e no assassinato dos povos livres e nunca esperou invasores para aprisioná-los e matá-los. Aqueles que buscavam justiça contra Sauron também fizeram prisioneiros e mataram, mas nunca com a maldade que os seguidores de Sauron e o próprio o faziam.
A Defesa afirma que o réu matou Gorlim por nojo diante da traição deste aos seus companheiros. O que a Defesa não nos mostra é que Gorlim foi enfeitiçado pelos seguidores de Sauron e assim, capturado por eles. Num momento de dúvida, cheio de amor e acreditando que havia visto sua mulher em sua casa, fez o que o mais desesperado dos corações faria. Ao ser prometido de que teria sua esposa à salvo, acabou contando a localização de seus companheiros e após, morto pelo próprio Sauron, com imensa crueldade. Sauron enganou Gorlim, que merece nossa compaixão após ter resistido bravamente às artimanhas do réu, caiu em desgraça por sucumbir à ela. A própria Defesa afirma que o réu era
o ser mais poderoso de Arda, a exceção dos Valar
isso demonstra que praticamente nenhuma artimanha sua poderia ser vencida por um simples homem e a traição de Gorlim, então, foi obra do réu.
A Defesa afirma que
abrir mão de servidão dos Valar pela liberdade da Terra-Média não pode ser considerado um crime,
mas o que a Defesa não disse é que nenhuma decisão havia sido tomada. Sauron, como seguidor de Morgoth e após sua derrubada, tinha recebido a chance de ir até Aman para lá receber o julgamento de Manwë. O réu preferiu fugir. A fuga indica que o réu sabia do mal que havia causado e não era inocente de seus atos. A imoralidade de Sauron foi tamanha que ele sentiu-se envergonhado com a possibilidade de receber um julgamento, não apenas por causa da ira de Manwë, mas porque sabia que sua pena seria pequena em meio à atitude de humildade que teria que tomar. Sauron assim assumiu a condição de foragido.
A Defesa afirma que o réu
aceitou povos sob sua bandeira, e homens de Rhûn à Harad o reverenciaram como um grande senhor dos homens,
bem como que o réu
procurou exercer sua filosofia de ordem e prosperidade. Trouxe governo, religião, unidade. Foi um provedor de conhecimento. Tirando povos caçadores e coletores seminômades para agricultores e habitantes de cidades de pedra.
Ser reverenciado não significa ser bom, ser justo, ser correto. Significa encontrar quem se identifica com seu pensamento. Nesse contexto, os homens que o serviam ou eram maus e cruéis ou o faziam por medo. Sabemos que o réu foi servido pelos dois motivos. O réu utilizou seus conhecimentos enquanto espírito de sabedoria para dominar homens e elfos, sem necessariamente mostrar seus desígnios maléficos. O réu, como a própria Defesa disse, era um dos mais poderosos de Arda, assim, naturalmente corrompeu muitos para seu domínio. A Defesa usa o conhecimento dado pelo réu aos povos como justificativa para a inocência deste, mas o que ele fez foi manipulá-los para seus interesses.
O réu, ao contrário do que a Defesa diz para tentar nos manipular, não era um enviado dos Valar. A partir do momento em que decidiu agir contra a vontade dos Valar e rejeitou sua disciplina se tornando um foragido, Sauron não tinha autoridade nenhuma para se nomear dessa maneira. Num mundo justo como desejado por Eru, os mais fortes foram enviados para proteger e encaminhar os mais fracos, não para dominá-los. Sauron, em seu egoísmo e prepotência, ao ver a Terra-média sem a influência direta dos Valar achou que eles não se importavam com ela, e mostrando-se completamente oposto aos desejos de Eru, buscou dominá-los, controlando suas mentes e exercendo poder sobre eles. Que espécie de líder é esse? O Um Anel é a prova máxima de que Sauron não veio à Terra-média lançar as bases da civilização oriental, trazer governo, unidade, abrigo, como a Defesa tenta nos fazer crer, mas veio destruir mais ainda os intentos daqueles que realmente se importavam com os povos, de tal maneira à deixá-los cumprir seus próprios destinos. Sauron não tinha poder sobre os anéis élficos. Os anéis foram criados, sim, por incentivo dele, mas não pertenciam à ele. Aqui, confirmamos que seus intentos ao trazer conhecimento aos povos livres da Terra-média não eram bondosos ou livres de pagamento. Sauron, “o poderoso”, como afirma a Defesa, apenas utilizou novamente seu poder de maneira indevida.
A Defesa disse que o réu ofereceu os anéis aos homens e anões como forma de amizade. O que Sauron fez foi distribuir os anéis àqueles que sabidamente desejavam poderes maiores do que os destinados à sua espécie. Não foi bondade. O réu conhecia os que se submeteriam aos seus desejos e utilizou isso como uma maneira mais fácil de atraí-los para o mal. A Defesa diz que o réu nunca comandou anões da linhagem de Durin, mas sabe-se que todos os anéis causaram maldição aos seus usuários. Para os anões, a cólera e a cobiça foram seu fim; para os homens, a eterna dependência de Sauron no mundo das sombras.
A Defesa afirma que Sauron foi para Númenor como refém para salvar seu povo na Terra-média, que lá apenas praticou liberdade religiosa, que realizou sacrifícios e construiu um templo apenas como exercício da religião praticada. Em primeiro lugar, Sauron foi para Númenor como estratégia para destruir os Altos Homens do Ponente. Sim, ele se utilizou da maldade e prepotência de Ar-Pharazôn, mas não foi à Númenor refém como a Defesa afirma. Liberdade religiosa é uma coisa, apologia à crimes de ódio é outra. Se os numenorianos foram inocentes à ponto de acreditar que Melkor os daria vida eterna, os sacrifícios que realizaram à Melkor matando fiéis devem ser computados ao réu, pois foram incentivados pelo próprio Sauron. Além disso, sacrifícios realmente são comuns em outras religiões, mas amoralidade é diferente de imoralidade, como todos devem saber. Os homens de Númenor não devem ser culpados por não conhecerem a moral nesse caso, ao contrário de Sauron, que manipulando-os os fez acreditar que isso era correto dentro do contexto religioso em que os colocou.
A Defesa afirma que a destruição de Númenor e a retirada de Aman e de Eressëa do alcance dos homens são culpa de Ar-Pharazôn, já julgado nesse tribunal. Quanto à destruição de Númenor realmente já existe jurisdição, mas quanto à retirada de Aman e Eressëa de Arda nada foi dito, assim, mantemos aqui a acusação de que Sauron foi o culpado pela retirada de Aman e Eressëa do alcance dos homens, através da influência sobre Ar-Pharazôn.
A Defesa afirma que Sauron, após sua volta à Terra-média, agiu defendendo-se de uma ofensiva dos povos livres da Terra-média. Sauron, desde o início agiu para manipular esses povos e destruí-los juntamente com Arda, sua terra tão amada. Assim, sua volta à Terra-média e os ataques recebidos, inclusive a destruição de seu Um Anel, nada mais são do que consequências dos males causados por ele mesmo. Sauron não voltou à Terra-média para viver em paz, mas foi uma tentativa que felizmente foi frustrada, de repetir o domínio sobre os homens, através de medo e morte. Os povos livres, que lutaram com tanto afinco contra Sauron é que devem ser louvados.
A história nem sempre é justa. Nem sempre a versão final é a versão verdadeira, como todos já tivemos chances de ver em diversas ocasiões. Entretanto, a história de Sauron e a consequente história de Arda, que sempre teve em Sauron seu algoz, é verdadeira. Sauron deve ser condenado, não apenas pela destruição que causou, mas pela maldade que sempre possuiu. Sua não-condenação resultará em e somente em mais destruição. Sauron, como a própria Defesa disse, é o ser mais poderoso de Arda, à exceção dos Valar, e nós da Promotoria concordamos. Por isso, utilizamos esse argumento da Defesa como nosso argumento chave nessa Réplica: Um espírito de tanto poder não foi criado à toa por Eru, mas para proteção e guia dos Filhos de Eru e todas as criaturas, mas pervertido desde o início com o desejo de ser senhor de Arda, foi o culpado por todos os males causados aqui, primeiro por devoção à Melkor e depois por servir exclusivamente à si mesmo. Lembramo-vos que Sauron foi foragido dos Círculos da Lei anteriormente, e assim, seu julgamento nada mais deve ser do que uma formalidade para enfim, haver justiça e paz em Arda. Relembramo-vos também que não há amor em nenhum ato de Sauron e que de nada vale ser um bom comandante de exército, transmissor de conhecimento e unificador de povos se não houver moral e respeito à Eru e aos Valar.
Sem mais para o momento, ratificamos nosso desejo por justiça e contamos com vossa colaboração.
Ainurian
Sev.
Promotores de Justiça de Arda