Felagund
Usuário
Sobre a questão dos características genéricas dos paulistas: é tão absurdo pensar que o paulista (ou o paulistano, que seja) possuem algumas posições ideológicas e politicas mais ou menos compartilhadas por boa parte de sua classe média? Nada ao estilo "paulista é reaça!", "Paulista é chato e conservador!" ou, citando uma frase que eu considero trágica da Chauí "a classe média é fascista". Mas não podemos dizer que é característica do eleitor paulistano pautar suas escolhas politicas sempre com base na "gestão ética", por exemplo? Isso explica a vitória do Lula e do PT em duas eleições (89 e 02) entre a classe média e alta paulistana, quando o PT era conhecido por ser o campeão do povo contra as maracutaias do governo e etc. Mais do que ideologia, posicionamento politico ou mesmo agenda de governo, os paulistanos rejeitam corrupção e votam naqueles que, em menor ou maior grau, passem a impressão de honestidade.
E mesmo essa característica não é um determinante, em especial se pensarmos que na capital do estado de SP já tivemos três prefeitos petistas, sendo que duas mulheres e uma delas nordestina, enquanto tivemos apenas um prefeito do PSDB (Serra, que nem completou o mandato). SP elegeu três senadores petistas de 2002 para cá, e se pensarmos que o representante do pensamento conservador no Estado de SP sempre foi o Maluf e seus aliados, a situação dos "reaças" paulistas fica ainda pior, pois o ex governador acumula derrotas no governo do Estado para o Covas e na capital para a Marta.
O Maluf viu sua popularidade no estado e na capital derreter ao ter o seu nome e o nome do seu sucessor envolvido em inúmeros escândalos de corrupção. A lógica do "rouba mas faz", presente no pensamento político paulista e até mesmo brasileiro desde Adhemar de Barros até o Maluf não se sustenta mais, principalmente com os políticos expostos o tempo todo pela mídia e mais recentemente pela internet.
Voltando ainda mais no tempo: São Paulo foi centro das principais forças anti-Vargas no seus dois governos. A UDN, partido mais à direita da época, ganhou força no estado também pela sua agenda (Liberal e Conservadora), mas principalmente por fazer dura oposição à "ladroagem" que Vargas e seus sucessores (Dutra e JK) se envolviam. A Marcha da Família com Deus pela Liberdade, principal evento nos instantes pré golpe de 64 foi realizada em SP, e o que motivou os paulistas a irem nela? Paranoia anti comunista? Também. Rancor que vinha desde 1930 pela perda de centralidade politica dos liberais paulistas para os populistas gaúchos? Também. Mas muitos foram pelo discurso ético, contra a gestão corrupta, contra um governo que, independente de ser progressista, conservador ou qualquer outra coisa, era acusado de corrupção pelos seus adversários e pela mídia paulista.
E tal comportamento não emana de nenhum superioridade ética e moral dos eleitores paulistas em relação ao resto do Brasil. Eu particularmente creio que esse comportamento eleitoral (se pudermos considera-lo existente) é produto da mídia paulistana, que é grande, forte, tradicionalíssima e a mais lida/ouvida em todo o país. E quando digo isso, não estou querendo entrar nas polêmicas bestas de que "a mídia manipula o povo" ou algo do tipo, como se existisse um grande plano orquestrado pelos jornais e rádios paulistas para derrubar os "governos progressistas", nada disso. QUando me refiro à influência da mídia, me refiro ao fato dela expor políticos corruptos, principalmente no governo federal, como um grande espetáculo, com analistas e opinadores reforçando a debilidade ética de quem nos governa e tantas outras coisas. E isso não passou a existir apenas nos anos do PT, ou se fez presente apenas nos "governos progressistas", se pensarmos que a mídia paulista também foi dura com os governos de 1930-64, isso é uma característica da mídia paulista e paulistana: se posicionar de forma dura contra o governo federal, mesmo quando eram Collor e FHC no poder. Quem é mais velho pode lembrar: a mídia era acusada de ser pró-Lula! Uma coisa impensável hoje em dia, mas nos anos 90 muita gente acusava a Globo e outras mídias (muitas delas paulistas) de apoiar o PT.
Enfim, o comportamento eleitoral do paulista e paulistano é complicado. Não podemos dizer que os paulistanos são reaças, conservadores ou mesmo fascistas, assim como não é possível dizer que a classe média e alta paulista e paulistana que deu duas vitórias ao Lula era de esquerda e comunista. Talvez os paulistas sejam bipolares, mas ai fica pra outro dia.
E claro, tudo isso que eu falei acima são impressões e deduções minhas, baseadas em um ou outro autor/texto que li e na minha ~~~vivência~~~ enquanto paulista e paulistano de classe média alta e tradicional.
O André Singer, por exemplo, defende que após as eleições de 2006 o Brasil se dividiu em pobres e "nova" classe média pró PT x Classe média alta e "tradicional" e ricos anti PT (e consequentemente pró PSDB pela forma como a política brasileira se organiza). Essa divisão acaba sendo potencializada como uma disputa de regiões, onde o Sul e Sudeste a rejeição ao PT se intensifica enquanto principalmente no Nordeste a força do PT fica enorme. Essa divisão geográfica das tendencias de voto, mais questões ufanistas dos paulistanos ( a autoimagem de ser o grande empreendedor do Brasil, a locomotiva da economia, o sangue bandeirante com o sangue europeu etc.) aliado ao preconceito contra nordestinos que marcou por muito tempo o dia à dia dos paulistanos acaba passando a imagem do paulista e paulistano como um chato arrogante e preconceituoso, o que é evidentemente uma generalização grosseira, mas que no bate papo popular é indiscutivelmente real.
E mesmo essa característica não é um determinante, em especial se pensarmos que na capital do estado de SP já tivemos três prefeitos petistas, sendo que duas mulheres e uma delas nordestina, enquanto tivemos apenas um prefeito do PSDB (Serra, que nem completou o mandato). SP elegeu três senadores petistas de 2002 para cá, e se pensarmos que o representante do pensamento conservador no Estado de SP sempre foi o Maluf e seus aliados, a situação dos "reaças" paulistas fica ainda pior, pois o ex governador acumula derrotas no governo do Estado para o Covas e na capital para a Marta.
O Maluf viu sua popularidade no estado e na capital derreter ao ter o seu nome e o nome do seu sucessor envolvido em inúmeros escândalos de corrupção. A lógica do "rouba mas faz", presente no pensamento político paulista e até mesmo brasileiro desde Adhemar de Barros até o Maluf não se sustenta mais, principalmente com os políticos expostos o tempo todo pela mídia e mais recentemente pela internet.
Voltando ainda mais no tempo: São Paulo foi centro das principais forças anti-Vargas no seus dois governos. A UDN, partido mais à direita da época, ganhou força no estado também pela sua agenda (Liberal e Conservadora), mas principalmente por fazer dura oposição à "ladroagem" que Vargas e seus sucessores (Dutra e JK) se envolviam. A Marcha da Família com Deus pela Liberdade, principal evento nos instantes pré golpe de 64 foi realizada em SP, e o que motivou os paulistas a irem nela? Paranoia anti comunista? Também. Rancor que vinha desde 1930 pela perda de centralidade politica dos liberais paulistas para os populistas gaúchos? Também. Mas muitos foram pelo discurso ético, contra a gestão corrupta, contra um governo que, independente de ser progressista, conservador ou qualquer outra coisa, era acusado de corrupção pelos seus adversários e pela mídia paulista.
E tal comportamento não emana de nenhum superioridade ética e moral dos eleitores paulistas em relação ao resto do Brasil. Eu particularmente creio que esse comportamento eleitoral (se pudermos considera-lo existente) é produto da mídia paulistana, que é grande, forte, tradicionalíssima e a mais lida/ouvida em todo o país. E quando digo isso, não estou querendo entrar nas polêmicas bestas de que "a mídia manipula o povo" ou algo do tipo, como se existisse um grande plano orquestrado pelos jornais e rádios paulistas para derrubar os "governos progressistas", nada disso. QUando me refiro à influência da mídia, me refiro ao fato dela expor políticos corruptos, principalmente no governo federal, como um grande espetáculo, com analistas e opinadores reforçando a debilidade ética de quem nos governa e tantas outras coisas. E isso não passou a existir apenas nos anos do PT, ou se fez presente apenas nos "governos progressistas", se pensarmos que a mídia paulista também foi dura com os governos de 1930-64, isso é uma característica da mídia paulista e paulistana: se posicionar de forma dura contra o governo federal, mesmo quando eram Collor e FHC no poder. Quem é mais velho pode lembrar: a mídia era acusada de ser pró-Lula! Uma coisa impensável hoje em dia, mas nos anos 90 muita gente acusava a Globo e outras mídias (muitas delas paulistas) de apoiar o PT.
Enfim, o comportamento eleitoral do paulista e paulistano é complicado. Não podemos dizer que os paulistanos são reaças, conservadores ou mesmo fascistas, assim como não é possível dizer que a classe média e alta paulista e paulistana que deu duas vitórias ao Lula era de esquerda e comunista. Talvez os paulistas sejam bipolares, mas ai fica pra outro dia.
E claro, tudo isso que eu falei acima são impressões e deduções minhas, baseadas em um ou outro autor/texto que li e na minha ~~~vivência~~~ enquanto paulista e paulistano de classe média alta e tradicional.
O André Singer, por exemplo, defende que após as eleições de 2006 o Brasil se dividiu em pobres e "nova" classe média pró PT x Classe média alta e "tradicional" e ricos anti PT (e consequentemente pró PSDB pela forma como a política brasileira se organiza). Essa divisão acaba sendo potencializada como uma disputa de regiões, onde o Sul e Sudeste a rejeição ao PT se intensifica enquanto principalmente no Nordeste a força do PT fica enorme. Essa divisão geográfica das tendencias de voto, mais questões ufanistas dos paulistanos ( a autoimagem de ser o grande empreendedor do Brasil, a locomotiva da economia, o sangue bandeirante com o sangue europeu etc.) aliado ao preconceito contra nordestinos que marcou por muito tempo o dia à dia dos paulistanos acaba passando a imagem do paulista e paulistano como um chato arrogante e preconceituoso, o que é evidentemente uma generalização grosseira, mas que no bate papo popular é indiscutivelmente real.
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