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Machado de Assis

  • Criador do tópico Criador do tópico Anica
  • Data de Criação Data de Criação
Para mim Machado de Assis é o melhor escritor brasileiro de todos os tempos. Tanto os romances, quanto os contos, para mim são maravilhosos, sendo o Dom Casmurro o livro preferido deste grande artista.
 
Coisa curiosa me aconteceu esses tempos em sala de aula.

Ao comentar de Machado de Assis e algumas passagens de Memórias Póstumas, uma das alunas se interessou enormemente pelo livro. Emprestei e ela me devolveu pela metade, disse que não gostou.

Aí lembrei que Mário de Andrade disse uma vez que se há algum talento em Machado de Assis, este talento está nos contos. Peguei um livro de contos que tenho aqui do Machado e emprestei para a aluna, indicando, principalmente, Um Homem Célebre, A Igreja do Diabo e A Cartomante.

Ela leu, adorou e depois veio pedir pra ficar com o livro para ler o restante dos contos. Perguntei ontem e ela afirmou que estava adorando.

O que vocês acham? Há razão nas palavras de Mário? Ou Machado é mais palatável para o adolescente em contos do que nos romances?
 
Acho que o Machado é mais "superficialmente interessante" nos contos. No conto "Pai contra mãe", por exemplo, a história é simples, curta e impactante, além de ser uma leitura que não exija lá muita carga literária para chegar nessas impressões.
No caso de Dom Casmurro, além de ser mais extenso, requer já uma certa maturidade literária para extrair boas impressões do texto. Muita marinheiro de primeira viagem termina o romance tomando a Capitu por adúltera, coisa que é impossível de se ter certeza.
 
eu também. sinceramente, acho que a diferença é só o número de páginas (o romance tem mais, e aí algumas coisas que tinham que ficar de fora nos contos aparecem nos romances, como aquelas reflexões, digressões e afins, mas não é nada que torne a leitura mais densa).
 
eu também. sinceramente, acho que a diferença é só o número de páginas (o romance tem mais, e aí algumas coisas que tinham que ficar de fora nos contos aparecem nos romances, como aquelas reflexões, digressões e afins, mas não é nada que torne a leitura mais densa).

Pode haver mais diferenças, mas penso como você Anica. Sou fã do 'formato' romance, mas os contos do Machado são muito bons mesmo.

Aliás, aproveitando para uma pergunta, O Alienista é conto ou novela?
 
Aliás, aproveitando para uma pergunta, O Alienista é conto ou novela?

Parece que O Alienista de Machado de Assis, para alguns especialistas, é uma novela, para outros trata-se de um conto.

Não sendo nenhum especialista, em minha modesta opinião, considero a referida obra um conto mais longo.
 
eu também. mas vou ser sincera, juntando tudo num mesmo balaio, o que eu sempre indicaria sem piscar é a igreja do diabo. adoro esse conto. MUITO bom.
 
1 conto dele q é mto mencionado em portugal é o enfermeiro, q ainda ñ li.
 
é bem bom, tb. de certa forma tem alguma coisa que lembra the imp of perverse do poe, mas não colocaria entre os melhores dele, não.
 
eu também. mas vou ser sincera, juntando tudo num mesmo balaio, o que eu sempre indicaria sem piscar é a igreja do diabo. adoro esse conto. MUITO bom.

Anotado aqui já, vou procurar esse conto. Já que o JLM tocou no assunto escritos 'menos conhecidos' do Machado, digamos assim, alguém de vocês já leu aquele Casa Velha (acho que é um romance)?
 
Acho que discutir Machado de Assis conto ou romance seria como discutir o sexo dos anjos (se é que vocês me entendem, XD né). O Bruxo do Cosme Velho é muito bom nos dois gêneros.

Nunca precisei ler :lendo: Machado de Assis para fazer prova de Vestibular ou concurso o que deixou a leitura mais prazerosa e menos tensa. Bom, isso é debate para outro tópico.
 
Anotado aqui já, vou procurar esse conto. Já que o JLM tocou no assunto escritos 'menos conhecidos' do Machado, digamos assim, alguém de vocês já leu aquele Casa Velha (acho que é um romance)?

esse eu não li. vou chamar a melian aqui hehehe
hahaha Assim que vi o seu tweet, vim correndo para o Meia.

Casa velha é uma novela, Lucas. Eu recomendo a leitura. Se não o fizesse pelas qualidades literárias, o faria pelo período histórico no qual a novela é situada: Farrapos, maioridade de Dom Pedro, etc. Mas eu sou um problema quando se trata de Machado de Assis. :lol:

Casa velha foi publicada em folhetins, entre janeiro de 1885 e fevereiro de 1886. Foi escrita de encomenda para a indústria literária da época. Mas quem pensa que ela fala só coisas que o seu público-alvo: as mocinhas e senhoras da sociedade, queriam ouvir, está enganado. A sutileza da ironia machadiana está lá, firme e forte.

Em 1944, Casa nova foi reeditada, com a organização e o prefácio de Lúcia Miguel Pereira. A novela retrata o universo da família patriarcal brasileira do século XIX. O enredo conta a história da família de uma viúva, do seu filho, de uma agregada, e de um cônego - que é o narrador.

Um padre decidiu escrever um livro sobre Dom Pedro. Então, por meio de outro padre, conseguiu, depois de uma certa insistência, que Dona Antônia, a viúva, abrisse a biblioteca do falecido esposo - que fora ministro- para que o padre pudesse fazer as pesquisas necessárias para a escrita do seu livro. A biblioteca ficava sempre fechada, em respeito ao falecido marido, que, aliás, é uma figura que me lembra, muito, o pai totêmico (me lembra bastante do pai do conto "Peru de Natal", do Mário de Andrade). A abertura da biblioteca promove como que uma volta ao passado. Nada é o que parece. E em Machado, tudo pode ter um lado podre, né?

A novela aborda, de forma brilhante, a questão das diferenças sociais. Tereza Cristina, de Fina estampa, ficaria intrigada com a Dona Antônia. :lol:

A viúva é toda orgulhosa da educação de seu filho, Félix. É toda orgulhosa das origens da família, uma família importante. Ela nutre um grande carinho por Cláudia - Lalau - uma agregada, e a trata como se fosse da família (a ironia do "como se fosse da família" me lembra do maravilhoso "Jóias de família", da Zulmira Ribeiro Tavares).

Vou citar uma parte da novela que tem uma conversa entre o cônego e Félix. É um spoiler que não prejudica a leitura, mas se preferirem não ler, ok.

O cônego e Félix conversavam sobre a Dona Antônia aceitar ou não o amor de seu filho por Lalau:

"— O senhor não conhece mamãe. E um coração de pomba, e gosta dela como se fosse sua filha.
Mas coração é uma coisa, e cabeça é outra. Mamãe é muito orgulhosa em coisas de família. Seria capaz de velar uma semana ou duas, à cabeceira de Lalau, se a visse doente; mas não consentiria em casá la comigo. São coisas diferentes.
— Devia ser isso mesmo, repliquei alguns instantes depois. E murmurei baixinho as palavras que ela ouvira ao avô, no tempo do rei e repetira mais tarde no paço: "Uma Quintanilha não trame nunca!"
— Nem treme, nem desce, concluiu o rapaz sorrindo. - O sentimento de mamãe.
— Seja como for, nada está perdido; cuido que arranjaremos tudo. Deixe o negócio por minha conta."

A ironia machadiana aí está: eu tenho um ótimo coração, eu não tenho preconceito contra sua classe social, desde que você não queira fazer parte da minha. Eu te amo, porque Cristo nos ensinou a amar a todos, mas isso não quer dizer que eu aceite que você possa fazer parte da minha família.

Agora, o que eu mais gosto na novela é uma sutil referência aos africanos (cês sabem que eu AMO literatura africana, né?). Assim, muita gente critica o machado dizendo que ele nunca se mostrou engajado, de maneira nenhuma, na causa dos negros, cuja origem, ele, mestiço, não poderia renegar. Machado já foi muito mal lido. E na tentativa de fazer uma leitura mais fiel da situação, o professor Eduardo de Assis, organizou uma antologia com fragmentos de crônicas, contos, poemas, novelas e romances machadianos que provam que, com a sua ironia, com o seu estilo, machado falou, sim, da causa afro-descendente. Eu já tinha lido Casa velha quando comprei a antologia. Mas não tinha, mesmo, reparado em uma coisa que parecia estar lá na novela aleatoriamente (na antologia tem apenas um fragmento da quinta parte da novela, que é composta por dez partes): a citação de um episódio no qual Lalau conversa com um escravo, que era tido com louco, e ele termina a conversa cantarolando: "Calunga, mussanga, monandenguê... Calunga". Transcrevo, abaixo, as notas de Eduardo de Assis sobre o canto de Gira (o escravo):

"Calunga": palavra com vários sentidos no português do Brasil. Segundo Nei Lopes (2003: 57), "do termo metalinguístico banto Kalunga, que encerra a ideia de grandeza, imensidão, designando Deus, o mar, a morte"; "mussanga": segundo Nei Lopes, do quimbondo misanga 'conta de vidro', pl. de musanga 'conta'; coisa miúda, de pouco ou nenhum valor, miudeza; "Monandenguê": consta no Novo Aurélio (2004) como "monandengue", termo de origem quimbundo que significa criancinha, bebê. Vale ressaltar ainda a referência que o negro faz ao "rei", ou seja, no discurso do africano, as comunidades de origem são tratadas como "reinos", e, não, "tribos, fato que remete à adoção por parte de Machado de um ponto de vista identificado à africanidade, descartando desta forma a adoção do lugar de enunciação do europeu colonizador. Designado apenas como o "Gira", o negro tem estampada no próprio nome (ou na ausência dele) toda a despersonalização identitária e social de que eram vítimas os africanos e seus descendentes. Discriminado pela cor e pela demência, o personagem comove pelo patético de sua condição.
 
Nossa Valentina, valeu mesmo pelo post, vou procurar o livro com certeza. :sim: Parabéns! :clap:

Quanto ao que você disse sobre acusarem o Machado de não se engajar na questão da escravidão:

Valentina disse:
Assim, muita gente critica o machado dizendo que ele nunca se mostrou engajado, de maneira nenhuma, na causa dos negros, cuja origem, ele, mestiço, não poderia renegar. Machado já foi muito mal lido.

Te indico para ler Machado de Assis Historiador, do Sidney Chalhoub. É um livro que lida tanto com literatura quanto com História e explora as facetas de Machado como escritor e como funcionário de repartição, aludindo a documentos escritos no âmbito profissional a respeito das deliberações que eram feitas acerca da escravidão, sobre como deveria ser abolida, sobre como amenizar as perdas da patriarcas e tudo o mais. É uma belíssima obra, na minha opinião e explora um lado menos conhecido do escritor, onde, ao contrário do que pensa muita gente, Machado também se destacava e, a seu modo, lançava mão de artifícios relevadores de sua posição crítica à escravidão e contra certas mentalidades basilares da ideologia patriarcal que imperava, tudo isso refinado pela já clássica ironia do autor.
 
O que é que tem na prosa do Machado de Assis? Quando você começa, não dá mais pra parar de ler! Dá um medo de saber que o número de livros dele é finito...

#machadodeassisbatatafrita


#machadofeelings

#Oquequeomachadotem?tem!?
 

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