Hesitei, mesmo, em postar aqui. Entretanto, eu não consigo ver propósito em estar em um fórum de discussões e deixar de opinar sobre algo tão caro aos seres humanos para não me estressar. Não vou quotar ninguém, não porque eu não saiba, seus malditos, eu não sei é criar enquete e anexar imagens
rofl
, mas quotar, sei, sim. Não quotarei porque quero fazer um post geral, não direcionado a um usuário especificamente, mas, sim, a todos os usuários que lerem o tópico.
Eu posso falar algo que vai acabar desagradando a vocês, assim como muito do que já foi dito, me desagrada. Mas é só vocês entenderem uma coisinha: não há como desvincular a pessoa do lugar social que ela ocupa. Eu não vou transformar o tópico em um debate feminista, mas a minha opinião passará, TAMBÉM, pelo âmbito do feminismo, mas não ficará só aí. O debate é amplo, amplo demais para ser visto apenas sobre o dualismo Estado X Igreja. Ficar só nisso é muito simplista.
Bem, como eu disse, meu lugar de fala é o da mulher, então, sim, não vou tentar falar como se, efetivamente, soubesse como o homem se posiciona diante dessa situação. Entretanto, também não vou assumir uma postura radical a ponto de falar que homens não devem nem comentar sobre o aborto, já que eles não engravidam, não é o corpo deles que passa por transformações TEMÇAS, etc (se fosse radical assim, eu cometeria o mesmo erro das pessoas que ficam escandalizadas quando descobrem que eu, branquela e loira, estudo Literatura Africana. Pois é, vejam só a mediocridade dos seres humanos).
Eu acho que os homens têm de falar sobre o assunto, sim. Falam muito que se homens engravidassem, o aborto já teria sido legalizado, e seria até visto com um troféu (ah! homens, se vocês engravidassem, eu assistiria o parto, com uma garrafa de vinho e queijo. Eu não perderia, por nada, o momento em que vocês chorariam loucamente e gritariam "MÃEEEEE!"
Tá, parei, mas que vocês são fracos pra dor física, são, sim). Não gosto de colocar as coisas dessa maneira. Não vamos falar sobre o "SE", ok? Eles não engravidam, nós, mulheres, engravidamos, então, vamos falar do nosso lugar.
Uma das coisas que ouço falar, frequentemente, quando o assunto é a legalização do aborto, é a seguinte: "Ah! vai banalizar; mulher vai engravidar, dizer que não quer, e tirar". Gente, as coisas não são bem assim. Não são, mesmo. Vocês têm noção do quão doloroso é o processo do aborto para a mulher? Vocês acham que as mulheres saem fazendo aborto como se estivessem trocando de roupa? Vocês já viram alguma mulher de TPM, não viram? Vocês conseguem entender que NÃO É FRESCURA, NÉ? (porque se vocês me falarem que TPM é frescura eu vou assumir que estão sendo puramente machistas) Os hormônios FERRAM com a nossa vida. Eu falo sério, gente. Então, vamos lá, mulher grávida, OS HORMÔNIOS PIRA! A coisa é dolorosa demais, gente. Acreditem, nenhuma mulher acorda sorrindo "tô grávida, não quero, vou abortar". A coisa é mais complexa do que isso.
Olha, me desculpem, eu não acho que dizer "na hora de abrir as pernas, abriu, agora quer ser uma assassina" seja algo muito racional, não. Sinceramente. O ato sexual ocorre entre duas pessoas. As duas pessoas (não tô falando de gente que começa a vida sexual precocemente. Particularmente, acho bem complicado adolescentes que têm vida sexual ativa. E não é moralismo, é questão de bom senso. O útero delas não está preparado para isso. E muitas das doenças uterinas que ocorrem posteriormente, são derivadas do início precoce da atividade sexual) têm consciência de tudo o que envolve o ato. "Ah! usa a pílula, mulher!" Sim, mulher, SE ENCHA DE HORMÔNIOS, C'MON, É CONTIGO, MESMO, né? Não estou falando que não se deva usar a pílula, só estou mostrando a coisa do lado da mulher. Eu acho que se deve usar camisinha e pílula (ATÉ FAZER SIMPATIA, MEU DEUS DO CÉU! Sim, sou neurótica)...
Mas voltarei ao ponto, a questão de banalizar. Uma das coisas que eu gosto na minha pessoa é o fato de que eu não tenho uma opinião formada sobre tudo. Eu opino sobre tudo, mas nunca no sentido de dizer "olha, penso assim e nada vai mudar, abs!". Eu já fui completamente contra a legalização do aborto. (What? Como assim, uma feminista, petista, contra o aborto? Não forcem a barra, ok? Eu conheço o estatuto do meu partido. Não fiquem surpresos, eu não sigo nada "às escuras") Hoje, eu diria que sou mais flexível (hum...). NOSSA, VOCÊ É A FAVOR DA MORTE DE CRIANCINHAS INOCENTES? Poupem-me do sensacionalismo barato, ok? O ponto é o seguinte: eu não faria um aborto na época em que eu era contra a legalização. Eu não faria um aborto, hoje, quando posso dizer que sou praticamente a favor da legalização. (E se você fosse vítima de estupro, abortaria, Melian? Sinceramente, não sei. Eu precisaria colocar na balança e ver com qual trauma eu conseguiria lidar melhor: com o trauma de ter uma criança que me faria lembrar de uma das coisas que eu mais abomino no universo inteiro, a violência contra a mulher, seja sexual, ou não; ou com o trauma de ficar imaginando "e se eu conseguisse amar essa criança e não tivesse abortado? Quantos anos ela teria, agora? Eu teria guardado o primeiro sapatinho que tricotei para ela? Eu teria feito vestidos de crochê para ela?" [sim, sou uma moça prendada, sei fazer crochê.
] As duas opções são traumáticas, mas elas são isso, OPÇÕES, não imposições, entendem? Eu acho que a mulher tem de ter as opções.)
Então, sério, não venham com esse papo de banalizar. Quem faria um aborto sem a legalização (mesmo correndo o risco de ir parar na cadeia e tal), continuará fazendo. Quem não faria, não fará. O que muda, para mim, é a questão de que uma menor quantidade de mulher morreria. Sim, gente, não venham com ilusões. Mulheres de classe alta fazem abortos em clínicas clandestinas e limpinhas, e organizadinhas. Mulheres pobres tomam uns remédios escrotos, procuram uns açougueiros, e correm mais risco de morrerem por causa de infecções. Ah! mas é só não fazer, se sabe que pode morrer, né? Gente, em que PLANETA vocês vivem? Pessoas deixam de cometer crimes por medo de pena de morte? NÃO. Estudos mostram que não, porque quando vai cometer um crime, a pessoa NUNCA acha que será presa. Mas o ponto nem é esse: o ponto é "deixem as bruxas morrerem, não mandei elas acenderem a fogueira". Assim, vocês acham desumano o aborto, mas não acham desumano o descaso para com a vida da mulher, né? Em um mundo ideal, nenhuma mulher teria gravidez indesejada, nenhuma mulher que não quisesse ser mãe, engravidaria, nenhuma mulher seria estuprada, e salvaríamos tanto a vida do bebê quanto a da mãe. Mas, então, por uma suposta defesa DA VIDA, já que vocês não podem evitar que o feto (vou chamar de bebê, se vocês assim preferirem. E sei que vocês entendem direitinho a questão das células e tal. Não sejamos sentimentalistas, ok?) e a mãe morram, que morram os dois, né? Salvar a vida da mulher, nesse caso, não é opção, né? Porque, sim, uma mulher não vai deixar de abortar porque isso é legalmente proibido. Então, a morte do "feto" é, potencialmente, um fato. E no caso do aborto feito como é, hoje, a morte da mulher, também. Não me falem que se a mulher morrer fazendo um aborto é castigo divino, gente. Colaborem, galerinha. Ou vou assumir que toda mulher que morre no parto também é por CASTIGO divino. Tá, não vou assumir, mas cês sacaram o ponto.
Também acho muito escroto dizerem que a legalização do aborto será importante para diminuir as favelas, o número de assassinos, etc. Não, gente. Qualidade de vida das pessoas se melhora não é com a legalização do aborto, não. Melhora-se com políticas públicas que realmente sejam voltadas para o desenvolvimento sócio-econômico-social das pessoas. "Ah! esses pobres não têm televisão em casa e só sabem fazer filhos que não terão como sustentar!" OLHA, NA BOA, eu me sinto ofendida quando as pessoas assumem que, por ser pobre, a pessoa será bandido. Eu não falo que as coisas serão faceis (sem acento, sou chique lol), não. É provável que sejam mais dificeis (sem acento, sou chique) do que são para pessoas de classe alta. Falo que é próvavel, porque eu não posso falar de um lugar social do qual não pertenço. Minha mãe teve quatro filhos. Preciso dizer que nenhuma gestação foi programada, né? Condições financeiras TEMÇAS. Casamento mais TEMÇO ainda. E, até onde eu sei, na gravidez dos outros três, embora a situação financeira fosse ruim, o casamento ainda era bom, ainda existia sentimento. Mas quando minha mãe estava grávida de mim, foi a pior época. Meu pai já tinha mandado o juízo tirar férias eternas. Minha mãe passou o natal de 85 grávida de sete meses, em casa, com os três filhos, comendo banada cozida, porque era a única coisa que tinha na casa. Meu pai, onde estava? Na rua, com outras mulheres. Chegou quatro horas da manhã. Eu fui amamentada por duas semanas, porque meu pai chegou, super agressivo, e irritou minha mãe a ponto de o leite secar. Segundo consta, naquela noite, eu tive de beber água com açúcar, porque minha mãe não tinha dinheiro nem mesmo para comprar leite. No outro dia, as vizinhas se reuniram e compraram duas caixas de leite. Eu cresci em uma vila, ainda moro nessa vila. Muitas pessoas que estudaram comigo, foram por caminhos complicados e acabaram morrendo. Isso me machuca tanto. E me machuca, também, quando chego do trabalho e vejo crianças brincando de bola na rua, e penso que muitas delas não chegarão nem mesmo à faculdade (cara, eu sou Pollyanna, eu tenho complexo de Jesus Cristo e queria salvar todo mundo.
). Eu quero chegar é no seguinte ponto: tive mil fatores para me tornar bandida, mas não me tornei. Sou uma mulher que trabalho, pago as minhas contas, sou professora por opção (não por falta de opção), porque acredito que a Eduação possa transformar. Ser professora é o que eu faço bem, é o que eu faço porque gosto, e porque acredito.
Eu trabalho desde nova: eu dava aulas de reforço, já trabalhei em uma clínica de olhos como secretária e fazendo serviços gerais, etc. Fui aluna ProUni, e para pagar passagem para a faculdade, eu fazia e vendia brigadeiro e beijinho. Nunca matei aula na minha vida. Tenho 26 anos e nunca matei aula na minha vida. Já vim, sim, embora mais cedo, da faculdade, por estar muito cansada do trabalho, ou por motivo de doença. Mas nunca deixei de assistir uma aula para ir para um bar, por exemplo. Faço mestrado porque tenho bolsa, etc.
Enfim, o que eu quero dizer é que a legalização do aborto não pode ser vista como um DETETIZADOR. Pobre não é inseto. Pensem nisso antes de saírem falando que se a penca de filhos de mulheres pobres não nascer, teremos menos bandidos. Eu acho super TRANQZ um tanto de criança passando fome? Não. Eu acho que tem de haver, como já falei, investimentos DE BASE para a melhoria efetiva da vida das pessoas. E acho que o planejamento familiar tem de ser melhor divulgado, porque não basta que ele exista, basta que as pessoas sejam conscientizadas a respeito dele, da importância dele. Esse é o papel do estado, sim, mostrar às mulheres e aos homens que há outras opções. Agora, escolher se a mulher deve fazer um aborto ou não, eu já acho que é uma coisa séria demais. Bater o pezinho e deixar a mulher morrer porque fez um aborto, é idade média demais para minha mente moderna. Desculpem-me.
Por que eu optei por um discurso bem subjetivo, neste tópico? Porque todo mundo fala com um distanciamento incrível, como se a vida dessas mulheres se tratasse apenas de estatísticas que analisamos cientificamente no âmbito acadêmico. Eu não sou assim, gente. Eu não consigo ver a situação dessa maneira Eu acho importante falar como a Cleonice mulher, como eu acho interessante ouvir o que as mulheres que cometem aborto têm a dizer. As pessoas costumam tirar todo o direito de fala delas. Todo o direito de escolha.