@ Haran
Entendo a diferença entre os dois casos, só não entendo a relevância dessa diferença que torna as duas ações profundamentes diferentes entre si. Não é ético exterminar um zigoto porque isso implicaria que não existiria mais um ser um humano no futuro, porém se o zigoto se divide e já existem, por exemplo, duas células, bastante parecidas, é ético matar uma delas?! O problema não é então em matar o zigoto, mas apenas "matar o ser", isso é, impedir que um humano se desenvolva? Esse argumento não me convence muito, pois seja lá o que tiver dignidade humana, parece-me claro que isso não é uma propriedade daquilo que ele virá a ser ou do fato de ter ou não uma célula do lado para continuar um processo, e sim daquilo que ele é (isto é, do ser, palavra que você utilizou). Ou o zigoto é digno por sua própria natureza ou ele é o meio de algo digno vir a ser. Ele não pode ganhar sua dignidade no momento da fecundação mais perdê-la momentos depois porque já há um punhado de células parecidas ao seu redor...
Não no futuro, mas no presente! Zigoto é ser humano, assim como embrião e feto são. E, claro, a criança recém-nascida. O que quero dizer desde o começo é que não há diferença
essencial entre esses quatro momentos do desenvolvimento, todos já são dignos de proteção desde já.
Por "impedir que um ser se desenvolva", impede-se a continuidade da vida, em outras palavras, mata-se. É onde quero chegar. Então você mencionou o momento da formação do blastocisto, quando o zigoto inicial se divide em duas células, mas que continuam formando um único corpo (não no sentido 'anatômico' do termo, mas no sentido físico), que, inclusive, caminham juntas, quase fundidas. Até que depois há uma nova divisão para 4, 8, até que temos a mórula, o que será um embrião em breve. Voltando um pouco, você pediu para eu fazer o exercício mental de, dado o zigoto que acaba de se dividir em duas células, se retirássemos uma, mas mantendo a outra presente, portanto ainda apta a se dividir novamente, se isso teria algum impedimento ético. A resposta é sim, mas por outro motivo:
Quando estava-se no calor do debate sobre as células-tronco embrionárias e o julgamento no Supremo Tribunal Federal, o Ministro Menezes Direito, já falecido, votou pela constitucionalidade da Lei de Biossegurança
haja vista a possibilidade de usar de células-tronco embrionárias sem destrui-las. Citou um procedimento experimental cujo nome agora me fugiu em que recolhia-se, depois da quinta divisão (ou seja, quando o nascituro tivesse 16 células), uma delas, deixando-o com 15. Neste caso, ainda manteria-se o ser em desenvolvimento, sem que houvesse o impeditivo ético de cometer tecnicamente um aborto, permitindo, assim, que os necessitados fossem tratados, e, dessa forma, atendendo ao mandamento de solidariedade e dignidade da pessoa humana previsto na Constituição. Porém, Alguns cientistas contestaram afirmando que é por demais arriscado e temerário esse procedimento porque não se sabe, e nem se têm condições de prever se haveria, e quais seriam as eventuais deficiências somáticas que o ser pudesse carregar; algumas poderiam manifestar-se somente com 30, 50 anos de idade. Seria como dar um tiro no escuro usando-se de um procedimento de eticidade duvidosa. Sim, a discussão é se isso ofende a ética ou não, mas, se vamos começar a pisar em terreno minado, por que começar a caminhada?
Não vejo a relevância dessa divisão que você fez, entre "cientistas" de humanidades e cientistas biológicos, como se houvessem aqueles que discutem a questão do aborto através de conceitos humanísticos e outros que discutissem com conceitos biológicos... Porque, primeiramente, e quem não é cientista humano e nem biológico faz o quê, cria ou grupo, ou se refugia sobre a opinião de alguém que é de algum dos grupos antes de emitir sua própria? Em segundo, porque não dá pra atacar a questão só com conceitos humanísticos, porque a matéria em questão é sobre o aborto de fetos - conhecer e analisar como se dá o desenvolvimento do feto é indispensável, então não dá pra separar conhecimentos de biologia como uma espécie de "linha de argumento alternativa", se alguém o faz seus argumentos são incompletos já em seu início. Em terceiro, e mais importante, porque acredito que a questão de ética não pode-se ser atacada simplesmente cientificamente, o fator mais importante, de longe, é o filosófico. [...]
Na verdade eu esqueci de falar que essa divisão é importante porque alguns, como Débora Diniz, bióloga com doutorado em Antropologia, mais uns cinco pós-doutorados, gosta de deixar claro que "não se tratam de pessoas humanas, mas de
células humanas". Bem conveniente. Em outras ocasiões eu a vi ser chamada por programas diversos, inclusive o Fantástico, para opinar sobre o aborto, e, desta vez, ela usou de argumentos não humanísticos, mas sociais. Citou também um experimento por amostragem em que, disse ela, chegou à conclusão que 20% das mulheres brasileiras já fizeram aborto. Achei hiper-exagerado por causa do espaço amostral usado - 40 mulheres. Mas, enfim, você tem razão, essa diferenciação não é tão relevante assim... muito embora haja aqueles que se concentram unicamente no critério biológico, e outros no critério prático. E alguns adeptos desse último usam o primeiro apenas como fonte de legitimação.
Não dá pra você pegar um critério que usa linguagem científica (seja de ciências humanas ou biológicas), por exemplo, esse:
Citação Post Original de FURIA Da Rossa
E, para precisar o momento, tive que falar da característica biológica do humano que é possuir 46 cromossomos. Se tem 46c, então está em desenvolvimento, até a morte. Por outro lado, se só tem 23 (sendo um somente gameta, portanto), aquilo definitivamente não é um ser humano
Aqui as coisas já mudam um pouco, porque o critério biológico auxilia a determinação de quando temos um ser humano ou não. E tanto que foi esse o critério usado até por alguns juristas, pretensos cientistas de humanidades, que quiseram determinar o momento da
nidação como momento em que a vida começa, argumentando que, antes disso, o ser não tem condições de crescer e que, caso não se fixasse na parede do útero, o embrião morreria pela falta de nutrientes. Note que temos aqui um grupo de pessoas recorrendo à Biologia mais uma vez, desta vez erroneamente, a meu ver. O recém-nascido também morrerá se ficar sem mamar, da mesma forma que o embrião morrerá se não for nidado. Então usei a questão da quantidade de cromossomos unicamente para diferenciar gametas de pessoas em desenvolvimento.
Essas “ciências” (Antropologia, Sociologia, Psicologia...) podem até trabalhar com o conceito de dignidade humana, mas o fazem da mesma forma que trabalham com religiões – elas o fazem, mas não há nada nelas que determine a veracidade das religiões, isso é, a realidade de suas afirmações. Da mesma forma, nada nelas aponta para o quê realmente tem dignidade humana, sequer se algo desse tipo existe. Se algumas delas tentam fazê-lo, não passam de uma ideologia travestida de ciência, como existe muito em ciências humanas (positivismo, marxismo, psicanálise, etc). Estranho até você dizer que só as ciências biológicas ou exatas, "não admitem a incidência de outros critérios que não o fato", como se fosse esperado em alguma ciência, mesmo humanística, algo tão diferente dessa postura.
Concordo que algumas até arrogam-se a condição de "conhecimento que traz a verdade". O problema é que o método das ciências exatas é diferente das humanas. Motivo pelo qual, inclusive, alguns cientistas exatos não admitem as humanas como ciência, mas somente como "uma forma de arte". Isso é secundário, na verdade. Pelo menos o método da observação empírica é compartilhado pelas duas formas de ciência, mas a interpretação que fazem é que é diferenciada. Cada uma tem seus próprios fins.
Mas, caro Haran. seja ideologia ou não, a algum ideário você terá que se filiar, mesmo que pareça não se filiar a nenhum, ou não queira declarar-se de nenhuma corrente. Eu só emiti meu posicionamento em declarar-me adepto da corrente concepcionista, não apenas para o Direito enquanto aprendiz de jurista, mas também para a Moral enquanto ser humano valorador das condutas humanas, e por último também, na condição de observador, até de cientista! Hehe, claro que não tenho a rigidez do método exigida pela comunidade científica, mas, se vale aquela de Descartes...
cogito, ergo sum!
Referia-me a matar zigotos e não a ouvir que zigotos foram mortos. “Perder o sono” é uma expressão casual para sentir culpa e que envolvesse o sentimento de “luto”, isso é, uma culpa pela morte de um ser humano (ou dezenas deles!) e não uma culpa por ter derrubado o objeto de outra pessoa.
Agora esclarecemos, ou não? Se não, continua aí até eu compreender. Mas sim, se
eu matasse os zigotos, perderia o sono literalmente. Se só ouço, por outro lado, que zigotos foram mortos, fico especialmente inquieto por saber que isso é normal e praxe nos procedimentos de clínicas de fertilização in vitro. E se ouço que caiu o alambrado no jogo do Vasco (sou Flamenguista), matando cinco, fico, naturalmente triste pela fatalidade. É por aí?
@ Madalena
Este é um fórum de discussões, sinta-se livre ponha suas opiniões aqui!
@ Thanatos
Minha opinião: Ser contra o aborto mesmo em casos específicos como estupro, risco de vida da mãe, etc...é não pensar na mulher! É não tentar imaginar o que é um estupro pra ela e o que isso implicará emocionalmente para o resto da vida dela, e ainda por cima ela ainda terá que carregar o fruto disso. Ser contra em caso de risco de morte é simplesmente colocar sua crença religiosa ou sua visão de mundo acima da vida da mãe.
Já disse antes...se você é contra então não faça....agora deixem que os outros decidam por eles.
Mesmo com a questão do começo da vida....creio que deve-se dar preferência ao ser humano formado, cidadão, que vive neste mundo. Não consigo enxergar como talvez um punhado de células possa ter mais prioridade do que uma mulher ou qualquer ser humano.
Confie em mim, Thanatos!
Eu penso! Mas pondero! Não tem outra opção. Ou deve-se decidir pela dignidade da mulher, ou pela vida da criança. E esta não tem culpa de absolutamente nada. É um ser separado da mãe, portanto autônomo, mas que depende da vontade da mãe para nascer.
Sobre o punhado de células: falei em alguns posts acima por que não devemos encarar dessa forma.