Que aumentando contracepção e planejamento familiar o número de abortos se reduzam, acho que ninguém discorda. Mas isso não argumenta em nada a favor da legalização do aborto
Não, justamente porque o argumento não é este. Como eu já havia falado, a razão para legalizar o aborto seria a fim de evitar as mortes das gestantes de baixa renda que procuram formas ilegais de realizar o aborto.
suas matérias não trazem nada de determinante com respeito a esse tema - pelo contrário, na matéria de Portugal é defendido explicitamente que a legalização não teve influência significativa nos bons resultados que lá ocorrem.
As matérias apenas comprovam que, dentro de um cenário onde o aborto é legalizado, é possível reduzir o número de abortos.
Percebi já ao escrever o post que você não disse com todas as letras que a legalização reduziria o nº de abortos, e que você eventualmente exploraria isso na resposta. Por isso falei sobre "sua crença de que a legalização do aborto vai fazer o que quer que seja", escrevi o "prova é de quem, por exemplo, defenda (...)", etc... Mas de qualquer forma você encaminhou sim a discussão dando a entender implicitamente isso, ao dizer por exemplo "acompanhamento e planejamento familiar devem ser oferecidos junto com a legalização, exatamente da mesma forma como vemos ser aplicado nos países onde o aborto foi legalizado, e onde o número de abortos tem diminuído". Aqui você implicitamente atrela o fato do número de abortos diminuírem via planejamento familiar com a legalização.
Mais um equívoco seu, porque se eu digo que X deve ser oferecido junto com a legalização, eu estou me referindo à forma como acredito que a legalização deverá acontecer. No caso, eu não seria a favor de uma legalização que ignore o planejamento familiar e o incentivo aos métodos contraceptivos. Quando eu digo "exatamente como vemos ser aplicado nos países onde o aborto foi legalizado" estou dando exemplos de como conseguir reduzir o número de abortos mesmo em um cenário onde o aborto foi legalizado. Nestes países não houve apenas a legalização, criaram suporte para guiar estas familias, acompanhando estatísticas e medindo resultados. Em resposta à sua descrença de que existiriam pessoas que desistiriam do aborto neste cenário onde o aborto é legalizado, eu mostrei matérias que tratam deste assunto, na qual a de Portugal afirma: "No entanto, assinala Raquel Pires, daquelas que tiveram essa possibilidade, apenas 15,1 por cento ponderou interromper a gravidez, tendo posteriormente mais de metade destas decidido continuar com a gestação."
Afinal de contas, se uma coisa não está ligada a outra, por que dizer que o planejamento se daria "como vemos ser aplicado nos países onde o aborto foi legalizado"?
Porque para a nossa realidade, a legalização serviria como uma solução a um problema de saúde pública. Ponto.
A forma como a legalização precisa ser feita e todos os demais detalhes, podem ser tomados como referência os exemplos que vemos nos países onde o aborto foi legalizado, e onde existem programas que conseguem reduzir o número de abortos.
Se a legalização (e a possibilidade de abortar e 'falar livremente' a respeito, como você acredita) não é essencial
Para reduzir o número de abortos, talvez não, mas o intuito da legalização seria salvar vidas.
então bem poderíamos fazer o planejamento "como vemos ser aplicado nos países onde o aborto não foi legalizado".
Gostaria de ver o resultado nesses países, e se neste países também é um problema de saúde pública o número de gestantes que morrem durante uma tentativa de aborto ilegal.
É como um desarmamentista dizer "o policiamento deve ser feito como nos países onde o porte de armas é livre" - ora, o sujeito atrela implicitamente o policiamento ao porte de arma, ainda que não diga explicitamente isso.
Discernimento.
Em outro trecho você diz que "a legalização feita de forma correta traria um acompanhamento que ajudaria a reduzir o número de abortos" - se essa redução de abortos não é feita em comparação ao período anterior onde o aborto é ilegal, então não faz sentido você trazer isso como uma vantagem da legalização
Por que? Se o objetivo da legalização for evitar a morte de gestantes de baixa renda que procuram clínicas clandestinas, conseguir uma redução no número de abortos após a legalização continuará sendo uma vantagem. No entanto...
Tendo toda essa impressão em mente, perguntei: "Que países são esses, e o quão significativa foi essa redução? A comparação teria que ser entre uma situação sem legalização e outra com legalização. (...) Quer dizer, você legaliza o aborto, na esperança de tratar abertamente a questão e convencer as pessoas a não fazê-lo?
" Estava claro sobre o que eu estava perguntando, que era sobre uma comparação "entre uma situação sem legalização e outra com legalização". Você em resposta citou os artigos sobre a Rússia e Portugal. Quando explico que o artigo nada diz sobre a comparação que eu perguntei, só então você diz que você não defendia desde o início a aplicação dessa comparação... Ora, seria melhor então ter dito logo de uma vez que não defendia e se poupado de trazer os artigos...
Na verdade eu não disse que não defendia a aplicação dessa comparação, apenas expliquei melhor minha posição e expus artigos que reforçam minha posição. Não houve trabalho a ser poupado, apenas citei novamente o que já havia citado antes pelo meio do tópico.
Mas se sua posição sempre foi essa mesma, e tudo foi um mal entendido, acho que você não foi ao ponto chave da questão, já que o seu (2), como argumentei, é algo um tanto quanto independente da questão se devemos legalizar o aborto ou não (isto é, podemos aplicar (2) legalizando ou nã0 o aborto), acho até mesmo difícil alguém ser contra o (2). Você deveria ter se focado então em razões que justifiquem diretamente a legalização, por exemplo, "legalizando o aborto menos mulheres morrerão em clínicas clandestinas", essa é em princípio um argumento possível para se legalizar, já que legalizando não haveria clínicas clandestinas. Mas sobre isso você só citou en passant, focando-se por exemplo no "ambiente aberto à discussão" que a legalização traria, coisa não essencial à legalização, o que seu próprio texto sobre Portugal tenta defender.
Legalizar o aborto para que menos mulheres morram em clínicas clandestinas foi justamente o que eu disse quando voltei ao tópico, porém dentro da discussão com você eu simplesmente estava discordando que esse tema era "sobretudo" uma questão moral. O assunto fugiu de rumo quando você duvidou que pessoas poderiam, por livre e espontânea vontade, desistir de abortar, dentro de um cenário onde o aborto é legalizado, e foi aí que trouxe as matérias.
"Não legalizar" não é "não fazer nada" né, há medidas de curto e longo prazo que podem ser feitas em um ambiente onde o aborto é ilegal. Assim "não legalizar" não se reduz a manter nossa situação atual, mesmo porque muitos países não legalizam e não estão na nossa situação.
Se "podem ser feitas" é porque ainda não o são, e isso é fazer nada. Da mesma forma, dizer que existem muitos países que não legalizaram e não estão na nossa situação é o mesmo que dizer nada, onde estaria a solução para o nosso problema tirada dessa comparação? Estes países tem algo de útil como exemplo para nós? O que seria? Entende que tudo é questão de encontrar e propor soluções, e que até agora ninguém fez isso? Além de que nos comparar com países que não estão passando pela mesma situação já demonstra uma razão do porque eles não precisaram legalizar ainda, agora supor que eles não estão na mesma situação devido a alguma atitude do governo ou da população, alguma solução mágica ou desconhecida, e não apenas por questão cultural, ou qualquer outra coisa na verdade, eu diria que é ir um pouco longe.
Sugiro perguntar para as mães que não tem a disposição de cometer aborto e que dependerão da pensão do marido para criar o filho, e veja se elas acham que é a mesma coisa.
Quando eu debater com alguma mãe dessas, vou perguntar a ela, mas no momento estou discutindo com você, e o que vale é a sua opinião, a qual você já mostrou nos comentários com a Anica, de que o pai simplesmente pagar pensão é o mesmo que abandonar o filho, ou algo bem próximo disso. Na minha hipótese essa situação não seria diferente da atual, só que em vez de cobrar uma pensão variável do pai, o próprio governo ofereceria um apoio decente à mãe solteira. E ainda sobre essa questão, qual seria a melhor opção? Porque a atual também não é boa, é impossível obrigar alguém a ser pai ou mãe, porque mesmo que a lei obrigue a morar sob o mesmo teto, deixar uma pessoa que não gosta da própria criança como responsável desta criança, é um risco maior que o próprio abandono.