Há uma edição de A Máquina do Tempo que tem o prefácio do Borges. Da primeira vez que li esse livro, foi sobre essa edição que me debrucei. Adoro quando o escritor e crítico literário argentino começa citando Oscar Wilde, que definiu Wells como um Julio Verne científico. Logo em seguida, Borges rebate essa fala, dizendo que o Wilde, como de costume, queria causar (é óbvio que ele não usou esse linguajar, eu só estou fazendo bom uso do vocabulário que exercito com meus alunos hahaha). Ele explica:
Verne escreveu para adolescentes; Wells, para todas as idades do homem. Há outra diferença, já denunciada certa vez pelo próprio Wells: as ficções de Verne tratam de coisas prováveis (um barco submarino, um navio mais comprido que os de 1872, o descobrimento do Pólo Sul, a fotografia falante, a travessia da África num balão, as crateras de um vulcão extinto que vão dar ao centro da terra); as de Wells são meras possibilidades (um homem invisível, uma flor que devora um homem, um ovo de cristal que reflete os acontecimentos de Marte), quando não coisas impossíveis: um homem que regressa do porvir com uma flor futura, * um homem que regressa da outra vida com o coração à direita, porque ele foi inteiramente invertido, como num espelho.
Achei importante resgatar as observações do Borges porque o prefácio do Braulio Tavares, que já foi citado no tópico, retoma o espanto do Julio Verne com a forma de escrita do Wells. Aproveito o prefácio do Braulio Tavares para mencionar algo que ele diz quando descreve a máquina do tempo do Wells. Ele diz que ela é: "um mecanismo controlado pelo passageiro, que assim pode se deslocar na direção que quiser, parando onde bem entender, e retornar ao ponto de partida quando for conveniente.".
Acho que, de certa forma, é possível intuir uma noção metalinguística dessa descrição. Enquanto escreve o livro, o escritor comanda a sua própria máquina do tempo. Ele viaja para diversas partes do romance, fazendo com que o enredo tome a direção que ele, como guia, desejar, podendo, quando quiser, retomar ao ponto de partida da história. De algum modo, o leitor, ao entrar em contato com o livro, busca refazer o percurso que o escritor fez.
Eu adoraria reler o livro e participar das discussões sobre ele. Mas, como final de ano letivo é um trem muito louco, não vou me comprometer.
De qualquer modo, passei por aqui para avisar que tem uma turma de pessoas que está lendo Jane Eyre. Na verdade, eu decidi reaparecer na Valinor porque soube que estavam lendo Jane Eyre e, como amo o livro, quis conversar sobre ele com o povo. Se alguém quiser nos acompanhar na leitura, será muito bem-vindo. Não estabelecemos um prazo. Então, não tem problema vocês começarem agora. Apareçam por lá:
https://www.valinor.com.br/forum/topico/jane-eyre-charlotte-bronte.122271/page-2