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Clube de Leitura 26º Livro: Fausto (Johann Wolfgang von Goethe)

Era hoje que começava a leitura?
Nem peguei no livro ainda. Espero não ser o único. Vou me esforçar pra corrigir.
:dente:
 
Galera, a @BarbaraFM é minha amiga e nova no fórum, tratem ela bem, viu!

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Tô com a tradução de Feliciano de Castilho aqui. Alguma contraindicação, considerando que é a primeira leitura? Acho que tem outras no Unlimited.
 
Hoje marcamos nosso primeiro domingão com Faustão.
Vou começar com os comentários.
Mas antes, alguns alertas:

Disclaimer aos de coração puro. Imorais, segui adiante:
Atenção, essa obra contém versos com inequívoca conotação erótica. Carolas, afastai-vos. Nem todos têm a decência e a pureza do excelso Tolkien. Mas, como nem só de Tolkien vive o fórum (perdoai-nos, ó Pai), rebaixemo-nos a esses autores menores que se permitem explorar em suas obras a imundície na forma de pecados carnais.

Disclaimer para o @Eriadan :
Atenção, achei algumas enjambadas no texto. Mas não se desespere, são bem poucas e, em sua maioria, estão presentes apenas na tradução. No original mesmo, é uma raridade.

Disclaimer a todas, todos e todes:
Atenção, os comentários a seguir contém spoilers.

Gostaria de iniciar, antes de tudo, dizendo que estou positivamente surpreso com o texto. Eu confesso que esperava encontrar algo mais arrastado. Por diversas vezes ouvi aquela comparação que Fausto é para a Era Moderna o que A Divina Comédia foi para a Era Medieval. E minha experiência com Dante não foi nada prazerosa.
Já Fausto, ao menos até aqui, tem sido uma delícia de ler. Seja pela forma, seja pelo conteúdo, estou achando bastante agradável.

Há muitos detalhes que fui marcando ao longo da leitura pra comentar, mas não quero fazer um texto minucioso, então decidi focar naquilo que mais me saltou aos olhos durante toda essa parte.

Fausto é, essencialmente, um ser que sente que jogou a maior parte de sua vida fora. Ele se ressente de ter desperdiçado a vida em estudos. Há sempre alguma contraposição na obra entre a situação de Fausto - quarto abafado, escuridão, erudição, cidade, inverno - com o que ele entende que seria a vida de verdade - o lado de fora, luz, festa, campo, primavera.

Fausto parece querer dizer o tempo todo que a vida de verdade é aquela que acontece lá fora. Fora do seu quarto abafado, escuro, fora dos livros empoeirados. A vida ocorre na rua, na interação social dos transeuntes, na festa camponesa sob a tília, nos campos floridos na primavera. Quanto mais afastado da existência urbana, mais intensa é a vida.

Esse ar bucólico, junto ao desprezo da erudição, me remete a Alberto Caeiro. Nunca li nada a respeito, mas fiquei imaginando se Fernando Pessoa não bebeu de Fausto para a composição desse heterônimo.

Como comentei em outros posts, eu estava lendo Schopenhauer, e ele elogia Goethe, inclusive cita um trecho da cena Noite para fazer uma crítica à erudição, aos homens que não pensam com a cabeça própria mas só reproduzem o pensamento alheio, muitas vezes deturpando-os, inclusive. Pessoas que passam a vida lendo, lendo, lendo, mas que nada conhecem de verdade. Essa visão é muito clara no posicionamento de Fausto e fica evidente quando ele se contrapõe a Wagner, que é a imagem exata do erudito criticado por Schopenhauer.

Outro ponto que reforça esse desprezo pela erudição é no Prólogo do Teatro, quando a arrogância do Poeta, que detesta o povo, se sobressai (e é muito reproduzida depois pelas falas de Wagner).

Essa existência de Fausto até então dedicada à erudição o fez sentir-se vazio e só. Sua ansiedade e apego são evidentes em alguns versos - “Tremes com tudo o que não acontece; / E o que não vais perder, já vives a prantear.” (v. 650-651).

Outro ponto que vejo reforçando essa ideia de vida desperdiçada aos estudos é quando ele desiste de se matar ao ouvir as canções de páscoa. Não é o conteúdo da música que o faz desistir, mas é a memória afetiva que ela carrega consigo, fazendo Fausto relembrar sua infância e adolescência, num tempo em que sua vida ainda era vivida e não fora desperdiçada.
É a partir daí que Fausto renasce, ressurge, ressuscita, num paralelo com as festividades da Páscoa, para a vida de verdade, e vai para fora da cidade, sempre se contrapondo a Wagner. Esse renascer também é expresso pelo fim do inverno e início da primavera. Pela interação com o povo, com o campo, com a luz:

"Aqui sou gente, aqui posso sê-lo" (v. 940)

A vida acontece lá fora.
 
Última edição:
Esse ar bucólico, junto ao desprezo da erudição, me remete a Alberto Caeiro. Nunca li nada a respeito, mas fiquei imaginando se Fernando Pessoa não bebeu de Fausto para a composição desse heterônimo.
Não sei se para esse heterônimo pesou a influência do Fausto, mas o Pessoa sem dúvida era bem versado no assunto:
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Comecei a ler ontem e não terminei ainda a parte que estava prevista para comentários. Não acho que eu vá conseguir nada assim muito elaborado como o Finarfin, mas vamos tentar dar um pitaco ou dois, mais tarde. :dente:
 
Mas Castilho é português, uai.
Deixe de ser mão-de-vaca e adquira a edição econômica da Ed. 34. (Infelizmente para você, acho que não tem e-book, mas depois de lido você pode revender, ou doar, se tem tanta aversão a papel rs) :joinha:
 
Em seus últimos anos de vida António se dedicou à tradução. Traduziu Virgílio, Ovídio, Anacreonte, Cervantes, Shakespeare, Goethe... Estes últimos de forma controversa pois Castilho não conhecia nem inglês nem alemão. Sua tradução do Fausto, feita a partir de uma edição francesa e de uma tradução literal feita por seu irmão José mais um amigo, Laemmert, deu ensejo ao que se chama hoje de "Questão faustiana". Castilho bateu a mão na mesa e defendeu em especial a questão do humor: o que fazia rir em Berlim não era o que fazia rir em Portugal. Daí que pra ele a tradução devia ser uma "transsubstanciação", um termo que Castilho usou tendo em mente as conotações sacras. Mas um germanófilo denominado Joaquim de Vasconcelos, esposo de Carolina Michaëlis (a grande estudiosa do trovadorismo português), chegou a denominar a versão de Castilho de um aborto nacional. Em outros momentos da polêmica, que aos poucos foi se estendendo e atingindo mais gente, Joaquim de Vasconcelos diz de maneira um tanto quanto explícita que a alegada mediocridade das traduções em pauta se davam graças a uma inferioridade frente ao povo alemão. E se Castilho se valera do termo "transsubstanciação" pra se referir a sua tradução, Joaquim de Vasconcelos dizia com todas as letras: aquilo era uma profanação, isso sim.

O que achei aqui: http://formasfixas.blogspot.com/2015/07/os-irmaos-castilho.html

:lol:
 
Falando nisso, estava aqui lendo a primeira parte do "Quarto de trabalho". Agora acho que vou é ver um filme até a hora de mimir. Já tem mais alguém lendo, além de mim e do Finarfin? :3
 
Er... Devo dizer que tentei a tradução do Castilho e foi impossível. E não quero comprar livro. Acho que vou acompanhar isso aqui de longe.
 
Shame, shame, shame. Ainda não comecei a ler. Estou no #projeto de ler umas coisas mais levinhas. Quem sabe ainda acompanho vocês em algum momento, mas por enquanto estou curtindo o Howl's moving castle e tentando ficar bem zen :meditando:
 

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