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A vida é cheia de dissabores. Quase nunca as coisas acontecem da forma como desejaríamos. Mas a gente tem que seguir em frente com o que a vida nos dá. Tenho certeza que um bebê, por mais que fosse filho biológico de um estuprador, se recebesse amor e carinho seria alegre como qualquer outra criança. Sopraria velinhas todos os anos... jogaria bola e paqueraria as meninas no colégio. Cresceria, poderia entrar na faculdade. Tem certeza mesmo que a solução para a sociedade é exterminar um indivíduo que pode ser assim?

Como eu disse, não tenho o direito de decidir por uma mulher que foi estuprada, nenhum de nós sabe o que é isso. Elas se sentem sujas depois disso e o pior, culpadas. É muito fácil deixar a vida seguir quando não fomos nós que sofremos a violência.

Conheço mulheres que prefeririam a morte do que serem estupradas. E ainda obriga-la a gerarem o fruto disso? (A lei permite que se faça neste caso, e a existência desta lei não obriga a mulher a fazer, mas dá o direito de escolha se ela aguenta ou não conviver com isso, cada pessoa tem um grau diferente de superar ou não os seus traumas)
 
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Se há sofrimento, o mais próximo de uma solução que o Estado pode fazer seria oferecer assistência social para essas mulheres. Mas não vejo como assassinar um outro ser ajudaria nisso. Na verdade, mesmo que ajudasse, o direito à vida desse indivíduo vale mais do que o sofrimento psicológico da mulher ou do que o constrangimento que ela possa carregar com seus familiares e amigos. Se não tiver jeito mesmo dela criar essa criança, então o estado é quem deveria se encarregar da tutela dessa criança. Mas matar? Discordo totalmente.

Eu entendo o seu ponto que "só uma mulher que foi estuprada é que sabe o tamanho do sofrimento". Mas tem que pensar no lado do nascituro também. Porque ele tem menos direito à vida do que eu ou você? Por acaso os filhos de estupradores pertencem a uma sub-espécie diferente do Homo Sapiens? A gente já viu isso antes... Mais de uma vez na história da humanidade, para dizer a verdade.

Antigamente, quando uma criança nascia deformada, ela era abandonada na porta de uma igreja na noite fria. Chorando na escuridão.

Os filhos bastardos não eram considerados filhos em outras eras. Isso só porque causariam algum constrangimento na sociedade para um lorde qualquer.

E ainda tiveram os nazistas, que quiseram separar a raça ariana das outras sub-espécies "inferiores".
 
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Belíssima comparação.

Porquê essa comparação não seria válida? Só citei isso para debater a definição de vida, no que você se baseia para definir a vida? Algum critério absoluto e objetivo?

E você falou do mágico terceiro mês. Aí vai a sua crença que o ser humano antes da formação do sistema nervoso não é humano. O que o torna ser humano é então ser capaz de pensar?

Não, sentir algo, sem sistema nervoso ele não tem consciência de nada, não sente dor, por isso vejo esse como um limite mais humano, é pior se ele morresse sentindo dor, não?
 
Porquê essa comparação não seria válida? Só citei isso para debater a definição de vida, no que você se baseia para definir a vida? Algum critério absoluto e objetivo?
Por que essa comparação não seria válida? Isso é sério mesmo? É óbvio que não existe um critério objetivo que fundamente minha crença, é uma crença. Houvesse não seria crença. E o mesmo vale pra crença que só com a formação do sistema nervoso o ser vivo em questão se 'humaniza'.

Pra mim o critério semi-objetivo (porque não é imune de crítica) é o da concepção. Há feto? Há vida, e vida humana no caso do feto formado em ventre humano. Simples.
 
Eu nem vou entrar nessa questão de "ser humano só pode nascer de ventre humano", porque a discussão já fica muito mais complexa... (Seria até interessante criarmos um tópico só para discutir células tronco ou clones).

Mas no caso que a gente tá discutindo, é uma criança normal.
 
Bons argumentos de ambos os lados ao meu ver....

Mas o Estado brasileiro(legalmente falando) não deveria de basear em crenças religiosas a partir do momento que ele é laico? A legalização não é uma regra, mas não poderia ser um direito dado as mulheres de exerceram suas próprias crenças?



PS. defendo o direito de aborto em caso de estupro e de risco de vida para a mãe e em caso de fetos anencéfalos(permitidos por lei)
 
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Quem falou em religião?

São crenças, tanto partindo de abortistas quanto de anti-abortos (entre os quais existem mesmo ateus). Crenças porque não existem 'provas' científicas que indiquem quando a vida começa, quando o feto se torna humano ou não, se é lícito o aborto etc. Isso foge do escopo da ciência. O que temos são visões mais ou menos racionais sobre a vida, sobre a alma.

São crenças, tanto minhas, como do Amon, do Thor, do Morfindel etc.

além dos casos de feto anencéfalo.

Igualmente imoral. haters gonna hate
 
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Não creio numa liberação completa do aborto no Brasil, para a alegria das clínicas clandestinas.

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É... esse assunto é para ser discutido no campo da filosofia, mas com o amparo da ciência, é claro.

No meu entender, é um assunto para ser discutido fora da crença religiosa. É até possível que padres e outras pessoas ligadas à igreja discutam, porque há verdadeiros mestres de filosofia dentro da Igreja Católica. Mas os argumentos deles não podem se embasar na crença religiosa.

É claro que o campo filosófico depende do pensamento subjetivo. Mas subjetividade não é antagônica de coerência; muito pelo contrário.

Eu encontro sérias incoerências no meu próprio discurso quanto a essas questões, porque eu acredito mesmo que haja vida a partir da fecundação. No entanto, por algum motivo que eu ainda não identifiquei, sou a favor da pílula do dia seguinte, mas sou contra o aborto em qualquer hipótese.

Eu também quero muito ser a favor da utilização de células-tronco na medicina, porque imagino o potencial que a humanidade poderia alcançar com essa tecnologia... mas ainda não tenho uma opinião conclusiva quanto a isso. As vezes eu me sinto um pouco como a Elizabeth Bathory, quando penso que a humanidade poderia alcançar a imortalidade com as células-tronco...
 
É... esse assunto é para ser discutido no campo da filosofia, mas com o amparo da ciência, é claro.

No meu entender, é um assunto para ser discutido fora da crença religiosa. É até possível que padres e outras pessoas ligadas à igreja discutam, porque há verdadeiros mestres de filosofia dentro da Igreja Católica. Mas os argumentos deles não podem se embasar na crença religiosa.

É claro que o campo filosófico depende do pensamento subjetivo. Mas subjetividade não é antagônica de coerência; muito pelo contrário.

Eu encontro sérias incoerências no meu próprio discurso quanto a essas questões, porque eu acredito mesmo que haja vida a partir da fecundação. No entanto, por algum motivo que eu ainda não identifiquei, sou a favor da pílula do dia seguinte, mas sou contra o aborto em qualquer hipótese.

Eu também quero muito ser a favor da utilização de células-tronco na medicina, porque imagino o potencial que a humanidade poderia alcançar com essa tecnologia... mas ainda não tenho uma opinião conclusiva quanto a isso. As vezes eu me sinto um pouco como a Elizabeth Bathory, quando penso que a humanidade poderia alcançar a imortalidade com as células-tronco...

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Pesquisa e tratamento com células-tronco são algo bem diferente de banhar-se em sangue de virgens, concorda?

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Eu encontro sérias incoerências no meu próprio discurso quanto a essas questões, porque eu acredito mesmo que haja vida a partir da fecundação. No entanto, por algum motivo que eu ainda não identifiquei, sou a favor da pílula do dia seguinte, mas sou contra o aborto em qualquer hipótese.

Mas só é aborto depois de fecundado, a pilula do dia seguinte impede que a fecundação ocorra, não é abortiva. Ela dificulda que o espermatozoide chegue ao óvulo.
 
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Pesquisa e tratamento com células-tronco são algo bem diferente de banhar-se em sangue de virgens, concorda?

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Deveria ser...

Mas por que o meu pensamento insiste em imaginar rostinhos de bebês azuis dentro de frascos laboratoriais quando penso em células tronco?


Mas só é aborto depois de fecundado, a pilula do dia seguinte impede que a fecundação ocorra, não é abortiva. Ela dificulda que o espermatozoide chegue ao óvulo.

Isso me deixa aliviado... pensei que houvesse a possibilidade de a pílula matar o embrião depois de fecundado.
 
Mas só é aborto depois de fecundado, a pilula do dia seguinte impede que a fecundação ocorra, não é abortiva. Ela dificulda que o espermatozoide chegue ao óvulo.

Depende da crença. Eu creio que a vida se encontra potencialmente já no espermatozoide. Então é minha crença que é uma pílula abortiva. Ocorre ejaculação e ela impede a fecundação, mas isso já é uma posição moral bem mais conservadora. Comum nos meios religiosos, mas NÃO está diretamente a crenças religiosas, mas a crenças específicas referentes à sexualidade.

Por isso que a masturbação é imoral nos meios católicos romanos e ortodoxos. Partem da mesma visão.
 
Eu sou contra o aborto, mas não exatamente nos 3 casos citados: risco para a mãe, estupro e anencéfalo.

Risco de vida da mãe

Muito bonito falar "ah, mas ela deveria se sacrificar pelo bebê". Tá e quem cria o bebê depois? O pai??? Tem noção da dificuldade que é para um pai cuidar de um recém-nascido sozinho??? E a criança muito provavelmente vai precisar de leite materno e não vai ter, vai tomar outro tipo de leite (como aquelas fórmulas que não são capazes de substituir os anticorpos do leite materno.)
E outra... a mãe, sobrevivendo, pode engravidar de novo e ter vários outros filhos. Nesse caso, seriam várias vidas sendo preteridas por uma, fora o sofrimento do pai e dos familiares pela morte da mãe... Tem muitas variáveis em jogo.




Estupro

Estão esquecendo na discussão desse caso um detalhe muito importante: se você soubesse ou viesse a descobrir que é filho de um estuprador e fruto de um estupro, como se sentiria???
O trauma é tão grande para a criança - ou adulto que vai se tornar - quanto para a mãe, especialmente se nascer menina / mulher.
E se for homem vai morrer de medo de "se tornar igual ao pai".
Você passaria a vida se questionando se "tem genes ruins, de maldade".

É muito fácil, nós, que nascemos do amor entre pai e mãe - ou pelo menos de uma relação consensual, em que houve prazer no momento - falarmos sobre como seria essa criança. A verdade é que ela só seria psicologicamente saudável se não soubesse a verdade... mas mais cedo ou mais tarde, vai querer saber ou vai descobrir!
E isso significa obrigar a mãe a passar o resto da vida lembrando com mais de 20x a intensidade que o trauma deixaria normalmente tudo o que aconteceu, todo maldito dia (mesmo que ela não crie). Isso impede que a mãe supere e siga em frente! E a criança gerada - igualmente - nunca vai conseguir superar também.

Particularmente, considero insuperável de um jeito ou de outro, e acho que eu me suicidaria se acontecesse comigo... mas tem gente que consegue, então....




Anencéfalo

É igualmente torturar os pais. Não existe a mais ínfima chance de sobreviver. Todos sabem que ele vai morrer assim que sair da barriga.
Nesse caso o aborto é misericordioso. É amenizar o sofrimento de todos: dos pais, da família e do próprio bebê.
Imoral é obrigar a mãe a carregar essa barriga por 9 meses sem esperança nenhuma, fazê-la sofrer de propósito... e essa gravidez também ficará martelando na cabeça dela pelo resto da vida, causando um trauma tão grande que ninguém mais tem capacidade de entender. O pai é o que chegaria mais próximo, se acompanhasse de perto... mas ainda assim, ele não teve que sentir na pele, no próprio corpo.
 
Tirando o risco de vida claro da mãe, os outros dois casos eu considero imorais mais pela inversão de valores que trazem no bojo que meramente a questão prática.

O anencéfalo pra mim se encaixa no mesmo caso da criança com deficiência mental/física. Claro que nem dá pra imaginar (nesse caso e no do estupro), o sofrimento que isso acarretaria para os pais e para a própria criança, mas como o Thor disse, se o Estado se comprometesse mais com essas tragédias isso poderia ser melhor suportado.

O sofrimento doi mas ele purifica, ele tem efeito salutar sobre a alma. Mas a morte é definitiva. Ela não deveria nunca ser preferível para evitar qualquer sofrimento. Seres humanos não existem para nossas conveniências de uma família feliz e bem-estruturada. Eles simplesmete existem.
 

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