Mas no caso de anencéfalo, não.
Uma criança deficiente VIVE! Com problemas, mas VIVE. O anencéfalo, não!!!
Vive sim. Pelo menos na minha visão que um feto já é vida e vida humana. Não creio na hipótese de 'humanização' do feto através da formação do sistema nervoso.
E a dor purifica o c@*%$#
A pessoa vai passar o resto da vida se torturando, se remoendo... nunca mais vai voltar a ser a mesma (no pior sentido). Isso vai causar depressão, tortura, dificuldades de relacionamento, as piores lembranças possíveis, marcas impossíveis de apagar... Pode até causar a separação do casal.
O deficiente vai viver, vai crescer, vai evoluir... com o dobro ou triplo das dificuldade de uma criança normal, mas vai. O anencéfalo nunca vai fazer NADA, nem por si mesmo e nem para os outros. Ele já nasce condenado pela própria natureza. Pra quê prolongar o sofrimento de todos???
Como eu disse, por pior que esse sofrimento seja eu NÃO CONSIGO vê-lo como pior que assassinato de inocentes. Desculpa, não consigo.
Um dos grandes problemas que vejo nesse debate (e na verdade em qualquer outro debate onde haja alguma polêmica, por menor que seja) são as ideias extremas, que em geral só prejudicam o andamento das discussões e inviabilizam a possibilidade de se chegar a um denominador comum - que afinal é o que se busca quando falamos de uma escolha social. Grosseiramente falando, se metade da população acha que o aborto é crime e a outra metade é a favor de que ele seja liberado, como ficamos? Se é exigido do Estado um posicionamento na forma de lei, o que se faz com a questão?
Pensando nisso, é preciso que cada lado pese melhor seus argumentos. No fim das contas, praticamente todo mundo discordará de um ou outro ponto sobre o tal "denominador comum", o que é nada mais que normal. Mas esse entendimento comum é preciso para amenizar o conflito de ideias e buscar o melhor alinhamento possível com aquilo que cada sociedade pensa, acredita, defende.
Acredito que a ciência pode contribuir muito para esse tema, ao estabelecer alguns critérios que podem guiar decisões a respeito do que é permissível ou não com base naquilo que a maioria da sociedade pensa.
Li muitos citando "direito à vida", mas acho que há aí uma argumento não-válido na sua forma, por não representar de fato aquilo que defendemos enquanto sociedade. Acho que isso vai ficar mais claro com a citação abaixo, do Carl Sagan (os negritos são meus):
A questão dos extremismos se dá, a meu ver, porque estamos falando de uma questão tão última, irremediável não é? Trata-se de morte. E se é de morte que estamos falando também falamos de vida, um tema extremamente controverso e que, também a meu ver, não pode ser relativizado como mera questão cultural nem absolutizado como frequentemente ocorre. Vejo esses extremismos, por indesejáveis que sejam, como naturais.
E, claro, vou discordar, da crença do Sagan. Porque é crença também, colocar a humanização do feto baseado em aspectos puramente biológicos. Eu, eterno apóstolo da metafísica, nunca vou entender o homem como mero amontoado de construções sociais e organismo vital que se auto-regula e funciona como qualquer outro animal. Minha crença.
E nem adianta muito mergulhar em considerações científicas sobre a importância do neo-cortex enquanto formador do que se considera razão. Dizer que é a inteligência que nos humaniza, nos torna homens... é também uma crença.
Para complementar o raciocínio de que o "direito à vida" não passa de buzz word:
Em outras palavras, a "vida potencial" é argumento fraco, e o "início da vida" é um conceito enganador. Se o que se defendemos de fato é a vida humana, então devemos nos basear naquilo que consideramos nossa característica especialmente humana, e a partir disso podemos pensar em um critério um pouco mais objetivo, que no caso está relacionado com a formação do néocortex.
É, mas é uma crença que a inteligência seja um critério mais objetivo que o da existência da alma infundida logo na concepção, por exemplo. Por que é mais objetiva? Por poder ser constatada empiricamente? Wat???
Por isso penso que o aborto deve ser permitido, seguindo a seguinte linha:
- Até cerca de 3 meses: liberado sem restrições. Mas é preciso que sejam feitas mais pesquisas para definir com exatidão onde esse período acaba.
- De 3 a 6 meses: Apenas se comprovado que a gestação e a concepção serão prejudiciais à saúde da mãe.
- Depois de 6 meses: Apenas no caso extremo da mãe ter a vida seriamente ameaçada.
-Liberado sem restrições? Baseado na crença acima né, o fato do homem poder ser definido como animal racional atesta que é sua racionalidade que o torna humano, como se a racionalidade fosse um tipo de selo ou operação livre de afecções, instintos, processos bioquímicos que ocorrem de forma mais ou menos semelhante com outros animais. Nossa, essa crença tem tantos, mas tantos refutadores, como o tem a minha crença radical e obscurantista na infusão da alma na concepção.
-Até concordo.
-Concordo igualmente.
Agora, acho de certa forma contraditório que algumas pessoas "pró-vida" admitam a possibilidade do aborto em caso de estupro. Ora, se o que se defende é a vida, então o aborto nesse caso não estará extinguindo a mesma vida? As circunstâncias sociais provavelmente dificultarão a vida de tal criança e mesmo da mãe, mas nessa ótica o que se quer não é aliviar a barra de ninguém, e sim defender a vida, não? E o que garante que a criança terá de fato uma vida ruim? E se ela for deixada para adoção e encontrar uma boa família?
Alguém poderá argumentar dos danos psicológicos para a mãe. Mas uma mãe só pode/vai sofrer danos psicológicos quando ocorre estupro? Somente esse tipo de dano psicológico pode permitir que a vida da futura criança seja extinta, que o "direito à vida" seja assim relativizado?
E aí eu volto no ponto inicial: as posições extremas. Não é questão de ser "pró-vida" ou "pró-escolha". Esses termos tendem a criar conflitos que só desencaminham o debate. E por isso eu penso que as condições acima são plausíveis: ao mesmo tempo em que se defende a liberdade de escolha da mãe, a mesma é feita somente até certo ponto. Depois desse ponto, a defesa da vida está acima da liberdade de escolha.
Perfeito esse trecho do teu post. Por esses motivos que não entendo como se usa compaixão pelos sofrimentos da mãe e mesmo da criança matam nossa misericórdia para com o ser humano em formação.
Claro que existem diferenças, mas a palavra potencial no caso não visa tirar a importância da vida. Volta-se no que eu já coloquei lá em cima: o que nossa sociedade defende não é a vida em si. É a característica de vida humana. Um embrião não tem néocortex formado, então enquanto vida ele ainda não desenvolveu aquilo que de fato o caracterizará como humano, ou melhor falando, como vida especialmente diferente das outras que sacrificamos diariamente.
Engraçado né. Valorizamos mais um embrião humano que uma vida de outro primata plenamente desenvolvido.
Volto ao meu ponto. Crença! Essa é uma crença, segundo a qual o embrião que não tem néocortex formado não é humano. Dá aquela impressão desconfortável da ciência sendo instrumentalizada por defensores de uma determinada ideologia e querendo tornar tal ideologia absoluta ao 'cientifizá-la'. A vida foge dessas considerações científicas, ela é uma questão primariamente filosófica.
Eu valorizo sim. Sou antropocentrista declarado, e não tenho a menor vergonha em dizer isso.
Pode até ser que em um futuro logínquo, se a humanidade coexistir com outra espécie tão evoluída culturalmente quanto, que o meu pensamento se torne tão preconceituoso quanto o nazismo é visto hoje. Mas, pelo menos no meu entender, estamos no topo do universo.
isso sem considerar a definição de vida que, conforme já mostrado também neste tópico, não é absoluta. nem dentro da ciência, nem dentro da teologia. a própria biologia possui diversas "escolas" que polemicamente disputam a definição deste conceito. não precisa ser biólogo pra perceber que nenhuma delas está muito próxima deste feito (apesar de algumas idéias serem amplamente mais aceitas que outras).
Perfeito. É nesse ponto que insisto, não existe nada absoluto nas discussões sobre a definição de vida e mesmo de homem para que possamos emitir juízos sobre esse valor da vida, seja pelo ponto de vista científico (que não penetra no sentido da vida), filosófico (as crenças que fundamentem metafísicas e visões de mundo, inclusive sobre a vida, homem, alma etc, abundam, então, sejamos honestos e digamos de que estamos falando), teológico (pressupondo a existência de Deus e o valor objetivo que porventura os textos religiosos tenham com relação ao valor filosófico da vida, da alma, etc).
já no quesito "vida humana", podemos conversar de forma mais objetiva. o feanor postou de forma interessante a visão dele (justificada pela visão de outros, inclusive sagan) do que é um humano. e para você? um embrião é um humano? é extremamente importante definirmos a diferença entre "vida" e "vida humana". no segundo escopo, podemos discutir. já no primeiro, entramos num caos de informações que não nos levará a lugar algum.
Mais objetivo? Será mesmo? Tenho minhas dúvidas, não entendo porque as definições do Sagan do homem ter sua humanidade definida por sua inteligência seja mais objetiva que a da infusão da alma. Por ela ser mais empírica que metafísica?
as razões existem sim. cito as 3 mais importantes:
- aliviar o sofrimento de mulheres (este contempla tanto as estupradas quanto as que tiveram gravidez indesejada e/ou complicações)
- melhorar a condição média das crianças que nascem (ou seja: incentivar o planejamento, e descartar surpresas)
- deixar mais clara a idéia da responsabilidade de criar um filho, com opções
- Ainda acho que isso é opor o sofrimento das mães ao destino fatal do ser humano morto. Como que esse sofrimento é mais fatal que a morte?
- Eugenia né. Só geremos crianças perfeitas, prontas pra um mundo justo e perfeito que buscamos construir pra nossas crianças perfeitas, sadias e... por aí vai. Isso é perigoso demais IMO.
- /\
sobre os novos limites, estamos entrando novamente no domínio do absurdo. não é pq divórcio foi massificado que a idéia de família não existe mais, conforme era pregado anteriormente.
Mas não está em perigo essa ideia? Eu tenho a consciência da necessidade do divórcio mas nunca defenderei sua banalização, que É o que ocorre e é essa banalização que descaracteriza e, a nível religioso, o dessacraliza e desnaturaliza. O mesmo poderia ocorrer com o aborto, não de forma determinística mas pode ocorrer como eu mesmo presenciei nas discussões referentes ao aborto. Vi abortistas radicais falando mesmo de uma inferioridade óbvia do feto mesmo depois dos 3 meses usando aquele velho pseudo-argumento de 'defesa do direito da mulher decidir o que fazer de seu próprio corpo'.
Não é, um anencéfalo vai morrer, sem cérebro não há vida independente.
Há vida. Independente é que não. Segundo você a vida é menos vida quando dependente? Novamente, crença. Meu FAIL foi por ignorar essa diferenciação básica, aliás já discutida por aqui.
O que eu quis dizer: foi que uso um critério baseado na biologia, mesmo que não seja unânime, mas se estamos falando de vida devo me basear na biologia, assim como se for falar de construção, vou me basear na E. civil, e não em filosofia ou linguística.
Não 'devemos' nos basear na biologia. Você está confundindo vida enquanto objeto de estudo da biologia com vida enquanto objeto de estudo da filosofia (e problemas linguísticos ocorrerão inveitavelmente).
A biologia não pode dizer absolutamente NADA sobre o valor da vida, quando começa essa 'humanização', sua importância, a existência ou não de alma, o sentido da vida e da morte e suas implicações éticas, metafísicas, etc. Isso é papel da filosofia e um papel tão óbvio, você aprende isso nas aulas de filosofia do Ensino Médio. Esse cientificismo beira a ingenuidade intelectual.