Como vocês são agoniados!
Meu prazo acaba depois de amanhã! Vou deixar todos se mordendo mais um pouquinho.
** Posts duplicados combinados **
"Seu pai não conseguia lembrar do próprio nome quando me deu o papel, e nunca me disse o seu. Como ele chegou lá eu não sei, mas encontrei-o aprisionado nas masmorras do Necromante. Tentei salvar o seu pai, mas era tarde demais. Ele estava fora de si e tinha se esquecido de quase tudo, a não ser do mapa e da chave".
Enerva-me ler este trecho do Livro Vermelho do Marco Ocidental, que reproduz as palavras de Tharkûn, o Cínico, ao meu filho e aos demais membros da companhia que partiu para a Montanha Solitária ludibriada por seu feitiço. Feitiço que, aparentemente, perdura: não percebem como as histórias desse mago são mentirosas?
Meu nome é Thráin II, filho de Thrór. Eu estou vivo, senhores! Por anos preservei a minha identidade, pois tinha consciência do perigo caso o mago descobrisse que eu não morri nas masmorras onde ele de fato me encontrou - NÃO por acaso.
Segundo relatou, Gandalf estava "descobrindo coisas" em Dol Guldûr quando, POR FANTÁSTICA COINCIDÊNCIA, encontrou-me aprisionado na fortaleza. E deduziu que era eu! Prodigioso: encontrar acidentalmente um anão cativo e deduzir de quem se tratava, ainda que eu me encontrasse irreconhecível após anos de tormento e tortura! Então eu lhe teria dado o mapa e a chave, e alguma coisa - jamais revelada - teria acontecido para que o mago não fosse capaz de me salvar.
Denunciar este tratante para ser julgado neste Círculo foi o meu último recurso, senhores, após fracassar em desmascará-lo pessoalmente. Trago-lhes aqui a verdade, sobre este encontro e os planos de Gandalf sobre o tesouro da Montanha Solitária. Então verão como finalmente toda as histórias mal contadas que o mago lhes fez acreditar passarão a fazer sentido!
Gandalf havia descoberto que eu fora capturado pelo Inimigo, é claro! E procurou por mim. "Rei Thráin, finalmente!", foram as palavras que pronunciou ao me ver. A princípio, pensei que viera pelo anel que eu possuía, um dos Nove. O anel fora-me tirado pelos meus algozes, é claro. Isto Gandalf falou-lhes corretamente. Mas o mapa e a chave também, é óbvio! Os servos do Inimigo nos despem e nos vilipendiam, não é possível esconder o que quer que seja. Eu não teria sido capaz de entregar qualquer coisa a Gandalf.
Passada uma fração de segundo em que me pus contente por sua presença, lembrei-me da natureza enganosa do Inimigo. Não seria a primeira vez que tentava me arrancar informações com artifícios semelhantes.
O meu povo possui uma obstinação inabalável, e os nobres entre nós reafirmam um código moral ainda mais implacável. Portanto, nenhuma tortura havia sido capaz de demover o meu espírito. O Necromante tentara, então, alucinar-me com a visão de pessoas queridas a adentrar a masmorra em meu socorro. Mas desconfiei e calei-me, pois entre eles estava um parente que eu vira pessoalmente sucumbir ao fogo de Smaug. A reação do Inimigo foi terrível naquele dia, e pensei que finalmente me eliminaria, mas isso não aconteceu. Quaisquer que fossem, ele ainda tinha planos para mim.
Mas tornei-me escaldado, e tive absoluta certeza naquele momento de que o mago só poderia ser uma nova tentativa de enganar-me. Por isso, e esta é a única verdade da sua versão sobre este encontro, fingi que não sabia quem eu era, e evitei sequer olhar em sua direção, temendo um feitiço.
Foi então que uma luz vermelha faiscou em sua mão, e ele proferiu palavras de grande poder na minha própria língua; e a minha desconfiança subitamente deu lugar a uma explosão de esperança! Gandalf prometeu que me tiraria dali, e que ajudaria o meu povo a recuperar o que era nosso e a restabelecer a nossa glória. O meu coração tinha sido repentinamente reavivado, e eu falei com absoluta liberdade e confiança. Falei-lhe sobre o meu anel, em seguida sobre o mapa e a chave, e a possibilidade de recuperar o tesouro.
De repente, e como é de seu costume, como meu filho viria a saber, Gandalf desapareceu!
Nada o havia forçado a tal: estávamos sozinhos, e o Inimigo jamais suspeitou de sua presença. Ele simplesmente já havia extraído de mim toda a informação de que precisava. Assim o Anel de Fogo foi capaz daquilo que as piores torturas não haviam sido.
A oportunidade de fuga surgiu algum tempo depois, e eu a aproveitei. Com muito sofrimento, consegui empreender o meu retorno às antigas fortalezas em Lindon. A minha aparência era deplorável: o meu rosto fora mutilado e muitos anos de fome e sofrimento haviam se passado. Por isso não fui reconhecido, e eu preferi que fosse assim. Passando-me por Óli, um velho viajante, descobri tudo sobre a empreitada da Montanha Solitária, e soube que o mapa e a chave haviam sido efetivamente usados! Nesta hora compreendi o plano de Gandalf, o Farsante. Chorei muito por meu filho Thorin, e jurei vingança. E prometi a mim mesmo: eu recuperaria o anel. Se Gandalf fora capaz de recuperar o mapa e a chave, certamente também estava em posse do último dos Sete, ainda que a ninguém o tivesse revelado.
Meus passos a seguir teriam que ser meticulosamente calculados. Assentei-me próximo ao Condado e aproximei-me de Bilbo Bolseiro. Tornei-me um de seus confidentes e companheiros de caminhadas, e tive conhecimento de muitos detalhes da aventura antes mesmo que fossem escritos no Livro Vermelho. Foi fácil, para mim, reconhecer a malícia que a inocência do pobre Bolseiro, cegamente confiante no mago, não era capaz de divisar: a escolha de um hobbit para distrair o dragão e lhe dar tempo; o plano para parecer que os próprios anões, chefiados por um herdeiro que tinha direito ao espólio, haviam empreendido a missão que lhe daria acesso ao tesouro; os "desaparecimentos" em instantes cruciais; os imprevistos que fizeram o plano fracassar e a impressão de humildade que lhe restou passar ao aceitar uma pequena monta do tesouro!
Por muito tempo eu planejei deflagrá-lo, mas hoje vejo-me muito velho, e admito derrota. Gandalf foi astuto, e angariou a simpatia de muitos povos, inclusive por ações que realmente foram honrosas. Mas não é possível que trama tão ardilosa possa ficar impune. Este mago deixou-me para morrer nas masmorras de Dol Guldûr, apossou-se de um dos Sete e envolveu meus parentes num plano para roubar os nossos tesouros, planejando livrar-se deles no tempo necessário. Neste meu leito de morte, só o que me resta é ver este patife condenado por sua torpeza!
OBS. Editado para uma correção material: onde lia-se "Nove", corrigiu-se para "Sete".