Eu até concordo com você em parte Ragnaros. Mas o lance é que eles lidam com um grau de dificuldade muito maior do aquele presente e inerente à tarefa da qual Raimi e Peter Jackson se desincumbiram....
Eles não têm uma "estória" pronta....Têm uma "história" com uma série de noções metafísicas, sociológicas e antropológicas que dependeria, pra uma inserção orgânica "fácil", de conhecimento prévio de um material narrativo que eles não podem usar ( a mitologia dos Tempos Antigos e da Primeira Era). Eles não podem fazer uso direto e extensivo dele mas ainda assim precisam referir de forma oblíqua sem usar as palavras do próprio Tolkien pra isso e nem circunstâncias exatas como descritas pelo Tolkien em material cujos direitos eles não possuem. É, ficar entre a "cruz e a caldeirinha".
Então eles têm que embutir "infodumps" e ainda tentar preparar o terrreno pra criar o tecido conectivo emocional de um cast de personagens que nem quem leu a obra chegou a conhecer já que Tolkien só "narra, só conta o que acontece com os personagens mas praticamente não "mostra". Então eu sugiro o seguinte....compare o primeiro ano da série da Amazon com o livro 1 do SdA, primeira parte do Sociedade do Anel....
Onde o Tolkien inseriu uma nota extensa sobre os Hobbits e erva de cachimbo e fez a narrativa ficar patinando por uma série de meandros que tornam essa parte do livro um tremendo pé no saco pra muita gente que não dá conta sequer de ler. E onde, até quem gosta, o faz passando por dois capítulos que são infodump pura ( A Sombra do Passado e o Conselho de Elrond já no começo do livro 2).
Inclusive, diga-se, essa parte "pedregosa" do livro que incluiu o "Em Casa de Tom Bombadil e "Nevoeiro nos montes tumulares" ( excluídos até das adaptações radiofônicas) é MUITO MAIS palatável quando a gente curte em retrospecto já tendo desfrutado do payoff nos capítulos mais "aventurescos" e menos expositivos de quando a Comitiva do Anel já está formada. E com o conhecimento das infodumps já assimilado tb.
O pessoal da série, por motivos de força maior, está lidando com dificuldades parecidas com as que o Tolkien lidou nessa parte "chata" dos livros. É de se esperar e desejar que eles vão tomar as críticas que lidam com ritmo, cadência e outras coisas e aplicar justamente nas partes da trama que não vão mais requerer tanto setup quanto agora a partir da temporada vindoura.
Eu ENTENDO as demandas e decepções do Fandom com o material exibido até aqui mas se o público fica SOMANDO esses problemas de ritmo, diálogos, falta de tensão e ação, muitas vezes impostos pelas demandas das condições em que a Amazon "herdou" o material da Segunda Era, a um montão de PICUINHAS irrelevantes o que se tem é uma cruzada pra sabotar o próprio entretenimento.
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Existe "encantamento" que a narrativa tal como a temos até aqui ainda não calhou de prover? Existe... mas tb existe uma excessiva AUSÊNCIA de um pré-requisito MUITO necessário pra curtir QUALQUER FICÇÃO....a famosa Suspensão voluntária da descrença e um conhecimento maior em alguns dos críticos mais veementes das condições em que os escritores tiveram que engendrar a história onde, inclusive, a presença dos Hobbits-Harfoots foi FORÇADA em cima de qualquer showrunner que tivesse se disposto a trabalhar com a franquia.
Dadas as dificuldades, a gente pode, sim, reclamar e demandar um produto melhor ( ainda por cima prejudicado pela quarentena da Covid no meio da filmagem) mas tb "dar um desconto" e "agradecer as bençãos" já que é , inclusive, por conta da valorização da IP (a Propriedade Intelectual a respeito da qual a
@Kimberly Raabe perguntou outro dia), da "franquia Tolkien", imensamente propelida já como efeito paralelo da criação da série, que, nós brasileiros, FINALMENTE estamos tendo acesso a novas traduções do Tolkien e às tão esperadas traduções da A História da Terra-média*. Querem descer o pau e reclamar, desçam, mas TENTEM, pelo menos, colocar isso na balança também antes de acusar o pessoal de degradar ou macular intencionalmente o legado do JRRT.
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O que parecia impossível, finalmente está acontecendo. Há uns anos eu mesmo jurava que, depois de todos os perrengues e inércia da editora anterior, nunca veríamos esses livros em português. Nunca gostei tanto de estar errado. :razz: Ontem, numa live no canal Tolkien Talk, o Samuel Coto...
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